Rafael
Finalmente Rafael havia chegado à "Terra Prometida".
Seu primeiro sentimento foi o de decepção. Ele realmente esperava mais.
Havia um enorme portal de bem-vindo na entrada da cidade, muito bonito, enorme e feito em mosaico de cerâmica verde representando escamas, com a cabeça gigantesca de uma serpente no topo, ladeado por duas estatuas grandiosas, uma metade homem e metade árvore, e outra metade mulher e metade rocha. Mas o mais impressionante eram as Cachoeiras artificiais que pareciam ridiculamente reais aos lados do portal. Tudo era uma clara alusão a lenda das cataratas. Rafael se lembrava da inauguração daquele portal, havia saído em todas as mídias poucas semanas antes de ele embarcar para a missão no polo sul. Era uma pena que havia sido pouco aproveitado.
A decepção em si se deu quando ele atravessou o portal.
Aquilo que era para ser a cachoeira artificial estava completamente seco, e a grama nas laterais da BR 277 estava tão alta, que mais parecia um matagal, e isso se seguia até onde sua vista estava alcançando.
É claro que ele não esperava que após o fim do mundo as pessoas fossem se preocupar com paisagismo urbano, mas aquilo não parecia ser um bom presságio do que estava por vir.
Ele havia estado em Foz do Iguaçu apenas uma vez, quase uma década antes, em 2019, quando o exército fez uma simulação de guerra de fronteira. Boas recordações.
Rafael não havia podido ver muito da cidade na época, mas aquela experiencia servia para ele saber de uma coisa: mesmo a cidade de fronteira não sendo muito grande, havia uma infinidade alarmante de locais onde aquele sobrevivente que enviou a mensagem poderia estar se abrigando.
Será que Paolo e seu grupo haviam conseguido chegar ali em segurança?
Era idiota se apegar tanto a uma pessoa que ele nem conhecia, mas Paolo era o mais próximo que ele tinha de uma esperança em muito tempo, e Rafael ainda não estava pronto para abrir mão disso.
Como militar, Rafael tinha duas escolhas óbvias como primeiras opções de possíveis refúgios, e já que ele não tinha mais um rádio, era para esses lugares que ele iria primeiro.
O 34º Batalhão de Infantaria Mecanizado seria o local de início, pois lá ele certamente encontraria um rádio, suprimentos, e se fosse preciso, poderia fazer uso do hotel de trânsito de oficiais como uma base enquanto procurava por sinais de vida.
Rafael nunca sentiu tanta câimbra em sua bunda ou em suas pernas. Ir até ali de bicicleta realmente havia cobrado um preço caro, mas ele não se arrependia nem um pouco de pagá-lo.
Graças a chuva do dia anterior, a temperatura havia baixado consideravelmente, o que era de se esperar do inverno. Ele adicionou uma nota mental para procurar por uma farda quando chegasse ao batalhão, para poder se manter aquecido.
Rafael seguiu pela BR, e então tomou a Av. Costa e Silva, se deparando com uma paisagem surpreendentemente. Tudo havia sido coberto por mato. As fachadas das lojas, e os poucos carros que haviam sobrado pelas ruas estavam intactos, apenas revestidos por uma densa camada de poeira, como se um dia as pessoas simplesmente houvessem adotado algum toque de recolher, ido para casa, e jamais houvessem retornado.
Ao passar em frente a emissora que havia naquela avenida ele se conta pela primeira vez das teias de aranha cobrindo toda a fachada do lugar, e percebeu que não era apenas ali, mas sim por toda a avenida. Isso fez uma ansiedade desconfortável crescer em seu peito, pois aquilo não parecia nem um pouco com um bom presságio.
Ele se forçou a ignorar isso e continuar seguindo em frente. Foi quando ele começou a ouvir os sons, os primeiros sinais de vida, os quais definitivamente não eram os que ele estava esperando ouvir.
Uma cacofonia de piados e cantos de aves tomou o espaço a sua volta, um prenuncio do que ele estava prestes a ver, uma visão que tirou todo o seu folego.
Rafael parou onde estava e não conseguiu desviar sua visão do céu, que ficou instantaneamente colorido, com tons azuis, vermelhos, verdes, negros, brancos e mais outras diversas cores, todas proporcionadas por uma gigantesca revoada de aves das mais diversas espécies. Por aqueles poucos minutos ele simplesmente esqueceu onde estava, do que estava fazendo ali e de tudo o que o havia acontecido antes deste dia que o obrigara a ir para aquele lugar. Naquele diminuto tempo ele acredito que havia morrido, e de alguma forma ido para o paraíso. Entretanto, tão rápido quanto as aves havia surgido, elas desapareceram.
Rafael voltou a si e continuou andando, ainda fascinado, e passou pelo shopping center, sem prestar atenção na gigantes mensagem pintada em letras vermelhas na fachada branca.
NÃO ENTRE NO BATALHÃO, HÁ FERAS LÁ DENTRO.
Cinco minutos, foi o tempo necessário para ele chegar ao Hotel de Transito de Oficiais, entrar em um dos quartos, e agradecer aos céus por ter água saindo das torneiras.
Ele tomou um banho, pela primeira vez em meses, sem sequer se importar com o fato de água estar gelada. Encontrou uma farda limpa, um rádio, que aparentemente ainda funcionava, e uma cama pronta, como se estivesse apenas esperando que ele se deitasse ali e dormisse.
Parecia que ele havia feito pouquíssimas coisas, mas o dia já estava terminando. Eram quase sete horas, e com o inicio da noite, chegava uma neblina que encobria a tudo. Ele fechou a janela e a porta do quarto, sentou-se na cama, e encarou o rádio, com medo de suas esperanças serem em vão e aquela droga não estar funcionando.
Respirou fundo e apertou o botão, observando enquanto o aparelho lentamente ganhava vida. Uma alegria descomunal tomou conta de seu ser. Ele engoliu em seco e falou a única coisa que lhe veio à mente.
Aqui é o Comandante Rafael Lisboa da missão Sobrevivência. Essa é a minha primeira transmissão em solo Brasileiro depois do fim do mundo. Hoje eu cheguei à Foz do Iguaçu.
Fim da Transmissão.
Rafael se afastou do rádio, deitando-se na cama, sem se atrever a desligar o aparelho, e rapidamente adormeceu, esperando por uma resposta.
Ele não saberia dizer quando tempo fazia que seus olhos haviam se fechado quando foi acordado, pelo som agudo.
Aquilo poderia ser verdade? Ou era apenas fruto de sua imaginação?
Ele aguardou, com o coração quase saindo pela boca, e sem se atrever a respirar, quando por fim ouviu novamente o apito estridente soou. Ele correu para a janela, a abrindo e encarando o céu noturno, que mais uma vez estava tomado por aves multicoloridas.
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Olá Leitxr, tudo bem?
O próximo capítulo será postado em 06/12/2019.
Lá vamos nós novamente, seguindo viagem para essa última parte da jornada.
Se você já leu meus outros livros, obrigado por continuar me acompanhando, e se você é novo por aqui, seja bem vindo! Aproveite para ler o primeiro e segundo livros da trilogia. ;)
Sozinho no fim do mundo (disponível no wattpad, e também no Kindle);
e Sobrevivendo no fim do mundo (disponível no wattpad, e em breve no kindle);
A partir de 1º de janeiro os dois primeiros livros também estarão disponíveis no formato físico pelo site da amazon.
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Reunião após o fim do mundo - Livro 3
Science-FictionO Mundo acabou, e restam poucos sobreviventes. Paolo e Marcus chegaram à Foz do Iguaçu, onde vão procurar pelos misteriosos sobreviventes que enviaram a mensagem, enquanto correm contra o tempo para tentar salvar a vida de Isla, que está com seus d...