Capítulo 2 - O Luto, a loucura e a novidade

22 7 0
                                    

Dalila

Nenhum pai deve viver mais do que seus filhos. Isso era completamente errado, não natural. E era a única coisa que permeava o cérebro de Dalila desde o momento em que ela conseguiu finalmente produzir uma cura, pois sua filha não viveria mais do que ela, finalmente as coisas estavam voltando aos eixos, e ela poderia ter uma vida normal de novo.

Mas infelizmente o mundo havia acabado, e dessa vez ela podia dizer isso com todas as letras, pois seu mundo havia encontrado um fim no instante em que entrou no quarto com a seringa e encontrou sua filha morta.

Ela não conseguia mais se mover... tudo o que a motivava a continuar viva havia se acabado.

Dalila estava sentada na cama havia horas, apenas observando o lugar onde sua filha costumava dormir, como se em algum momento próximo a criança fosse entrar no quarto, se deitar, e lhe desejar boa noite. Mas isso não aconteceria.

A seringa ainda estava sobre a cama, e ela não se atrevia a tocar no objeto, como se fosse radioativo, ou pesado demais para ser levantado. Aquilo ali, era a última lembrança que ela tinha de sua filha.

Mas era muito injusto, até mesmo uma piada, saber que o líquido dentro daquele objeto poderia salvar todas as vidas que haviam restado no mundo, menos a única que ela realmente queria salvar.

O mundo havia acabado, ela poderia decidir o que fazer. Já que a vida de Leonor não havia sido poupada, nenhuma outra seria. Era isso, essa era a sua decisão.

Dalila pegou a seringa e foi até o banheiro do quarto, levantou a tampa da privada e despejou todo o conteúdo da injeção ali dentro.

Quando terminou, puxou a descarga, e em seguida ouviu o som de uma campainha. Ela realmente estava ficando louca.

Tabata

Tabata estava um caco. Ela nunca pensou que a perda de alguém era algo que se podia sentir fisicamente. Dalila estava em um estado deplorável. Ravi estava horrível, praticamente catatônico, de uma forma que Tabata jamais havia visto. Fazia tanto tempo que o Ravi não chorava... ela própria estava em uma situação horrível, mas pelo menos um dos três tinha que ser forte agora, e essa seria ela.

Será que os outros haviam conseguido dormir? Ela esperava que sim. Já ela não havia conseguido sequer um cochilo.

Não dava para dizer quanto tempo havia se passado quando a campainha soou. O que era aquilo?

Tabata se levantou e seguiu o som. Aquilo estava certo? Estava difícil de dizer se o som era real ou fruto de sua imaginação, pois os trovões estavam abafando todo o som.

Quando ela ouviu o som fraco pela segunda vez não teve dúvidas. Realmente era uma campainha, mas de onde o som estava vindo?

Ela saiu de seu quarto e encontrou Ravi nas escadas, igualmente surpreso, e com os olhos muito vermelhos.

— O que é isso?

Ele deu de ombros.

— Há alguns anos alguém teve a brilhante ideia de instalar uma campainha na porta de entrada. É claro que ela nunca chegou a ser usada, foi logo desativada. Mas eu a reativei.

Tabata realmente queria perguntar porque ele havia religado aquilo, mas ficou com medo de acabar ficando mais confusa ainda.

A campainha soou uma terceira vez.

Ravi chegou à porta, se colocando na frente de Tabata, e a abriu, revelando um homem loiro, forte, com cabelos escorridos da cor da areia que chegavam aos seus ombros, e uma barba completamente desgrenhada. Ele estava todo sujo de terra e fuligem.

Reunião após o fim do mundo - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora