Epílogo

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Onde está o casamento?

Onde está a finalização digna?

Eles chegaram a se casar, tiveram filhos, foram felizes de verdade?

Somos praticamente programados a buscar um fim em tudo aquilo que paramos para ler, assistir ou até mesmo ouvir. É como se enquanto não houver um ponto final, um desfecho ou até um fechar de cortinas, nosso cérebro não entende que apenas acabou.

Uma história não tem um final definitivo até que se deixe de viver, não há possibilidade de dizer que alguém foi feliz de verdade até que esta mesma pessoa já não exista, e antes diga que foi sim feliz.

Mas não condeno aqueles que desejam saber mais, que desejam ter respostas mais concretas. Aqueles que apenas querem saber até que ponto fui feliz, e até que ponto deixei de buscar a felicidade tão longínqua.

Lembro-me do dia exato em que comecei a contar minha vida, lembro-me de ter tido uma crise terrível quando apenas peguei papel e caneta, e deixei fluir tudo aquilo que havia gravado em minha alma.

Foi em um domingo, um domingo de clima ameno e aparência solitária. Eu estive segurando a vontade de chorar o dia inteiro, meu melhor amigo estava um tanto quanto ausente naquele dia. Lembro-me de ter perguntado pela enésima vez qual era o sentido da minha vida, e ter recebido como resposta um vasto e angustiante silêncio.

Naquela noite eu chorei como a muito tempo não havia feito, chorei como se cada angústia tivesse de me abandonar por completo, para que eu não fosse fraca e acabasse fazendo uma besteira sem volta.

Em meio aquele choro tão sôfrego, me recordo de ter visto o primeiro rascunho de uma carta que nunca deixei no túmulo de DaeSung. Não me atrevi a reler aquelas palavras que tanto me pesavam a alma, mas me atrevi a conversar com ele em meio ao silêncio do meu quarto.

Lhe perguntei o porquê de ter ido tão cedo, lhe perguntei o porquê de não ter me dito uma última vez que me amava. Lembro-me também de ter brigado com ele por ter me deixado aqui, quando sabia que eu era tão fraca sem ele ao meu lado.

Foram sim tempos muito difíceis, e ainda que eu tivesse me convencido que já não valia a pena continuar lutando, uma luzinha muito sutil me invadiu o peito gritando que eu era mais forte do que imaginava.

Lembro-me de ter chorado ainda mais após fechar meu caderno surrado, e ter abraço meus joelhos enquanto tentava sufocar meus soluços altos.

Sim, eu estava quebrada demais para apenas me reerguer.

Quando acordei no dia seguinte à aquela crise tão devastadora, lembro-me de ter tentado esconder meus olhos inchados enquanto tomava café, e de ter ouvido minha mãe dizer que eu estava aparentando exaustão. Juro que agradeci por ela ter sido mais sutil em sua crítica, e levei aquele avanço como um sinal de que as coisas poderiam ser melhores.

Eu olhei para dentro de mim com cuidado, acho que eu temia me quebrar mais ainda, e vi uma sombra da garota que eu costumava ser antes de tudo ruir sob minha cabeça. Acredito que após ter visto aquela garota eu sorri, ainda que bem fraquinho, mas eu sorri para o meu reflexo após tanto tempo evitando a mim mesma.

Não posso dizer com clareza ou exatidão o quão trabalhoso foi reerguer parte de mim, mas me senti orgulhosa após fazê-lo.

A sensação de estar diante de alguém que não lhe trás dor é indescritível, assim como é incrível ter vontade de se olhar no espelho todas as manhãs, e apenas buscar seus pontos mais positivos. Eu particularmente busco os meus olhos, porque de certa forma os acho muito bonitos do jeitinho que eles são.

The Light Of Hope 》KTH/ PJMOnde histórias criam vida. Descubra agora