*Ohio, 6 de dezembro de 1985*
Acordei todo bobo, até meu gato parecia mais feliz naquela manhã, fiz todas coisas de sempre, mas aquele dia estava diferente, eu me sentia cheio de vida, eu queria conversar com a Layla, mas ela tinha que ir pra escola de manhã. Então resolvi preparar um presente para ela, seria um bonequinho num balanço de pneu, talvez eu esteja um pouco emocionado... Talvez sim, mas eu não ligava, minha mãe sempre dizia que se eu sentisse algo por alguém era melhor dizer rápido para a pessoa porque não sabemos quanto tempo temos. Nunca entendi essas palavras tão bem quanto agora que ela não estava mais presente, no psicólogo eu conto do encontro, da Layla, e o doutor acha ótimo, porém fez uma expressão de preocupação.
Naquele dia eu resolvi chamar ela para conversar, bato na porta e a senhora atende:
Charles... Como você ta meu filho? Aconteceu alguma coisa?
E eu respondo:
Ta tudo bem, não, não aconteceu nada... A Layla está?
E a velhinha num tom severo diz:
Está, mas de castigo, melhor você voltar outro dia.
E fecha a porta na minha cara, logo penso, o que Layla poderia ter feito pra ficar de castigo, vou insistir e chamar ela na varanda dela. Quando chego na lateral da casa vejo ela descendo da varanda e logo pergunto:
O que você ta fazendo???
E ela falando baixo diz:
Cala a boca, ela é velhinha, mas tem a audição boa.
Eu fico quieto e vamos para minha casa, lá começamos a conversar, ela vê meu presente e fala:
O que é isso?
E eu todo nervoso respondo:
NADA! Quer dizer, é bobagem
Ela vendo meu nervosismo, se aproxima de mim e diz:
Pelo o que parece é uma garoto num balanço de pneu... Seria eu essa boneca?
Eu fico corado e falo num tom miúdo:
Talvez
Ela coloca o boneco na mesa e me beija, eu acreditava de verdade que ela era a pessoa certa. Sempre que estava com ela não conseguia pensar em mais nada e quando estava longe dela não era capaz de parar de imaginar nós dois juntos, foi quando ela parou e perguntou:
Sabe por que eu fugi de casa?
Eu faço que não com a cabeça, e ela continua:
Porque desde que saímos eu não consegui parar de pensar em você, sabe, eu já tive alguns namorados, mas você parece ser diferente deles todos, você é doce, engraçado, gentil... Eu me sinto segura perto de ti...
Eu sinto que devia falar toda a verdade pra ela, mas invés disso eu digo:
Não importa o que aconteça, eu vou sempre te proteger, eu também não consegui te tirar da cabeça...
Nisso nos beijamos novamente e depois dela dizer o que sentia em relação a mim senti que o beijo dela ficou mil vezes melhor.
Eu não queria deixa-la nunca, mas ela tinha que ir porque iria ter aula no outro dia cedo.
*Ohio, 7 de dezembro de 1985*
Já que acordo vejo que o boneco não está em cima da mesa, ou seja, ela o levou ontem, talvez tenha gostado do presente, o tempo passa, mas parece que sem ela o dia tinha umas 37 horas. Quando estou voltando do psicólogo só consigo pensar em como será que ela estava, foi nessa hora que encontro na rua o boneco destruído, começo a pedalar mais rápido, esperando que ela não tenha se machucado, indo além da casa da menina, lá perto tinha uma viela, quando cheguei lá estava Layla amarrada e com o rosto sangrando, eram quatro homens a sua volta, o rosto da garota tinha a mesma expressão da minha mãe antes de ser morta.
Naquele momento eu apaguei. Não via, nem sentia nada.
Quando volto a enxergar os homens estão mortos no chão e Layla está desmaiada, eu a carrego no colo e a levo embora, só queria cuidar dela, até esqueço a bicicleta lá.
Algumas horas depois ela acorda, diz que não se lembra de nada, ao invés de eu contar o que fiz resolvo deixar isso de lado, o machucado não era tão grande, logo iria cicatrizar.
Quando vi aqueles homens mortos, observei que um deles estava com um bilhete em mãos, no mesmo tinha escrito um endereço, eu tinha algo a perder agora, mas também tinha uma pista de onde aqueles homens iriam estar.
Me arrumo, pego minha arma e minha faca, coloco uma roupa escura, Layla acabou dormindo de cansaço, eu escrevo um bilhete dizendo que tinha coisas pendentes a resolver. Naquela noite eu sai de casa determinado a realizar meu desejo.
Talvez fosse o momento da minha vingança.
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A vingança pode ser algo familiar
Tajemnica / ThrillerA história se passa no Brooklyn em 1969 e em Ohio em 1985. Neste ano nasce o protagonista (Charles Moore), mas no momento em que a sua mãe dá à luz, seu pai desaparece, é logo cogitado que por não querer ser pai, ele pegou suas coisas e foi comprar...