Casal De Papel

Acabou?

Hospital Ronald Reagan UCLA Medical Center

Mariangel Jackson

23 de Agosto de 1993

08:16

 Acordo um pouco grogue, abro meus olhos devagar, Michael está sentado em uma poltrona de camurça marrom que fica a um passo da cama encostada na parede, ele está lendo um livro, ele percebe que acordei, arregala os olhos, fecha o livro e o coloca em cima da poltrona, se levanta imediatamente vem até a cama onde estou, ele se senta, ele está usando um sobretudo preto aberto, em baixo ele esta usando um collant dourado e calças pretas por baixo ele passa as mãos por meu rosto, e passa o olho por todo o meu rosto, não diz uma palavra, lágrimas correm dos seus olhos, tento levantar meu braço direito mas não consigo, dói por causa do soro

- Diz que você veio depois de fazer o show por favor - digo baixinho, ele aperta os lábios e move a cabeça negativamente, pega minha mão livre e envolve suas duas mãos sobre ela e a beija

- Não cheguei a subir no palco - ele respira fundo - Assim que me avisaram que você tinha sido levada para o hospital eu peguei o primeiro voo da Tailândia pra cá - ele acaricia minhas bochechas com o polegar

- Eu não queria incomodar me desculpa por favor eu.. - ele me interrompe colocando um dedo sobre meus lábios, ele desliza delicadamente seu dedo até meu queixo - Eu estou me sinto tão culpada, tantos fãs esperaram tanto por esse momento e eu estraguei tudo - digo em tom choroso

- Angel, você não tem culpa de nada, Wayne me contou como foi tudo - seu tom trás uma revolta que ele tenta disfarçar - Se não fosse pelo jeito educado da policia, você estaria bem - ele diz em um tom frio, levanta seu olhar e respira fundo - Você não me incomoda, mesmo que você não se sinta assim ainda, você é a minha esposa, eu me sinto como o seu marido e eu me preocupo com você - ele se aproxima e me da um pequeno selinho, se afasta e me dá um sorriso, triste porém um sorriso, lágrimas ainda correm por seus olhos - Farei o show em outro dia, meus fãs me compreendem e estão entendendo o que estamos passando nesse momento - ele limpa os olhos com as costas das mãos - A sua mãe estava certa no fim das contas - ele diz olhando para o outro lado

- É, mas eu não entendo como não senti - ele olha para mim e volta a me beijar, se afasta um pouco e me encara

- Andei lendo sobre isso, algumas mulheres não sentem os sintomas, é um pouco raro mas acontece - sua voz está diferente, esta mais grave, como se ele tivesse prendendo algo em sua garganta, respiro fundo e tomo coragem para perguntar o que está acontecendo, ainda estou um pouco confusa, mas talvez terei que procurar informações de outra maneira

- Como você está? O que está acontecendo? - digo pausadamente e o mais doce possível, ele apenas abaixa a cabeça, sem levantar a cabeça seu olhar volta a encontrar o meu, sério ele me olha, respira fundo, seu olhar me deixa com medo, é uma fúria misturada com algo que não consigo decifrar, ódio? Raiva? Dor? Ou pode ser uma junção de tudo

- Você acha que eu fiz? - ele me pergunta sério, me sinto completamente desconfortável com a pergunta e o tom que ele usou, me sinto ofendida, é claro que não acho que ele fez isso, eu não preciso o conhecer por anos para saber algo assim, ele seria incapaz, crianças são o que ele mais ama e quer proteger na vida

- Eu não acho, você seria incapaz de fazer isso, você é a pessoa mais bondosa que conheço depois da Jess - sinto as lágrimas vindo, as deixo descer - Eu sinto, no meu coração, eu acredito na sua inocência - digo entre choro, ele entorta a cabeça para o lado e me escuta atentamente - Eu sei o que as pessoas são capazes de fazer por dinheiro - digo com a voz embargada, ele respira fundo, se levanta da cama e anda até a janela do quarto, alguém bate na porta, ela se abre, é uma enfermeira