Sempre Pode Piorar

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5 de Novembro de 1974 | 18 anos atrás

Mariangel Lancaster

Aniversário de Mariangel Lancaster de 7 anos de idade

Londres, Inglaterra

 Piso na neve macia com minhas botas de neve, elas são rosas assim como todo o meu conjuntinho e minha toca. Papai disse que eu sou um moranguinho no meio da neve. Me jogo no chão e faço um anjinho de neve. Todos os meus anjos de neve estão perfeitos. Me levanto e corro para o próximo espaço vazio. Me deito e faço meu próximo anjinho. É a minha coisa favorita depois de fazer bonecos de neve com papai, mas ele não tem mais tempo para mim, ele esta muito ocupado na salinha marrom cheia de livros e papeis e a mamãe não tem tempo para brincar comigo, ela não gosta que eu brinque, ela pensa que sou uma adulta.

 O frio esta de doer os ossos mas, eu gosto tanto de brincar aqui. O jardim inteiro esta coberto por uma camada branca imaculada. As arvores e pinheiros estão lindos. A casa da mamãe esta tão bonita, tudo esta como um bolo de coco. Deitada no chão observo os flocos de neve sendo carregado pelo vento, rodando e balançando nas correntes de ar

- Mary? - a voz de papai ecoa na minha cabeça, abro meus olhos, ele esta aqui, sorrio para ele. Ele esta com o casaco branco que o faz parecer o abominável homem das neves ele sorri de volta e me pega do chão e me leva para casa, seus cílios estão brancos por causa da neve. Me carrega para dentro. Me coloca no chão - Corra para o seu quarto eu já estou indo - ele diz tirando seu casaco, corro para o meu quarto, as três janelas enormes que vão do chão até o teto que ocupam uma parede inteira que dão acesso a varanda do meu quarto estão abertas, tiro meu casaquinho, papai corre para as fechar e puxa as enormes cortinas

 Olho ao redor. Tem uma caixa enorme com embrulho em rosa, minha cor favorita, corro em direção a ela, a abraço e olho para papai que esta radiante. Ele com um aceno me permite abrir, eu tenho certeza que é a bicicleta que tanto peço. Rasgo o embrulho, mamãe aparece na porta e sorri para papai, ela esta com seu robe branco imaculado e seus cabelos loiros sobre os ombros. Encaro meu presente

- E o que você achou Mary? - papai pergunta vindo na minha direção, eu não gostei nada, é uma boneca que se parece com um bebê acompanhada por um carrinho

- Eu não gostei muito - sussurro, papai olha para mamãe e abre a boca mas a fecha em seguida, mamãe com aquele olhar assustador vem até mim

- Por que? - ela pergunta seria, fria como sempre, suspiro

- Eu queria uma bicicleta mamãe - digo olhando para o chão ela leva sua mão até meu braço

- Mal agradecida! - ela grita enquanto me sacode como uma boneca, segura meu braço frágil e fino com força, me arrasta até fora do meu quarto, não, ela vai me levar pra lá de novo, não, eu tento me soltar enquanto ela me arrasta, mas minha mãe aperta ainda mais meu braço, dói o meu bracinho

- Marien! Não é necessário, ela só não gostou da cor! - meu papai tenta me ajudar, olho para ele que nos segue, estico minha mão para ele me salvar, por que os papais das minhas coleguinhas as amam e os meus não? Por que eles são super heróis e o meu papai deixa ela me machucar? Por que? Por que? Minha visão esta embaçada pelas lágrimas. Ele para no topo da escada

- Papai - digo entre choros desesperados - Não deixa por favor - digo a ele que fecha os olhos com força e coloca as mãos sobre o bolso 

- Sua mãe sabe o que é melhor pra você - ele diz de olhos fechados. Mamãe me arrasta até a porta que da acesso ao porão, ela abre a porta e me joga la dentro, minhas se chocam contra a parede, sinto doer. Meu choro não tem som. Não consigo respirar direito.

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