Inesperado

608 96 147
                                    

Mariangel Lancaster
Rancho Neverland, Los Olivos
13 de Abril de 1992
18:59

 Estou deitada sobre o chão. Estou desenhando em meu sketchbook, bem, pelo menos estou tentando. Isso vem me ajudando muito a ocupar a cabeça. Estou usando um vestido mais soltinho e confortável, ele é amarelo com flores vermelhas. Deixo o lápis em cima do sketchbook e me levanto. Levo o scketchbook até a cômoda. Me sento ao pé da cama e encaro a obra de arte que tem logo em frente a cama. É um quadro bem bonito. Eu ainda não posso acreditar que os meus pais fizeram isso comigo, eu não posso acreditar que o conforto e luxo valem mais do que eu

 Fecho meus olhos e respiro fundo. Eu preciso continuar pensando no que é melhor para eles. Estão velhinhos. Não podem ter preocupações e pouco menos uma velhice ruim. Eu prefiro me sacrificar por eles. Foi o melhor. Eu sou jovem, consigo lidar com qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo e eu vou fazer o que for preciso ser feito. Me levanto e ando até a janela. Em alguns momentos eu sinto que eu nunca vou ser feliz. Sinto que eu nunca vou ter meu final feliz

 Sempre me imaginei em um conto de fadas. Isso vem me salvando há anos. Eu refugio minha mente e assim consigo enxergar tudo que acontece a minha volta como algo bom, algo para o meu crescimento. O telefone toca. Me dirijo até o móvel que há perto da cama. Me sento na cama e a atendo o telefone, é mamãe, ela esta tão feliz. E enquanto ela esta tão feliz por finalmente receber a primeira parte dos bilhões

– Eu estou tentando entender o porque de ter chegado a esse extremo, eu poderia trabalhar na minha área e ajudar vocês! Demoraria um pouco mas, vocês não passariam necessidades! - digo calmamente para ela que ri de mim do outro lado da linha, bem, mamãe é assim. Eu não sei como eu ainda tento, não sei de onde tiro forças 

– Foi necessário minha filha, não fique triste! Você vai acabar o amando. Olhe para mim! Acha que eu amava seu pai? Mas foi preciso, eu precisava me casar com alguém que me desse tudo que eu sempre quis! Eu não nasci para ser pobre Mariangel, não nasci! - ela diz docemente – Não é possível que você seja tão incompetente que não consiga fazer um homem se apaixonar por você! - mordo a bochecha por dentro da boca. Sinto o gosto do sangue

– Mamãe, meu maridinho esta me chamando, se você não se importa eu preciso ir - minto enquanto tento segurar o choro

– Não esqueça! Um homem gosta de uma mulher santa na sociedade é meretriz na cama! Não deixe ele saber que você ainda é virgem Mariangel! Não dê esse gostinho a ele! Não mencionamos isso, você seria bem mais cara! - ela diz entre risos e desliga. Fique calma. Fique calma. Puxo pelo nariz e solto pela boca

 Como se já não bastasse toda essa pressão em cima de mim. Ainda tem a minha mãe. Ok. Vamos pensar. Se a minha mãe que é uma mulher vivida me disse para não contar a ele, então não irei contar. Se ela me disse isso, ela disse por causa disso da venda ou, ele ficaria zangado por eu ser virgem? Eu não entendo nada sobre homens. Quando um se aproxima demais eu acabo agindo feito uma maluca, eu não sei o que acontece mas eu fico um pouco agressiva. Eu não devia ser assim

 Me levanto, vou até o pé da cama e me sento. Hoje cedo fui até a cozinha, as cozinheiras estavam lendo uma revista. Dayse me mostrou essa revista. Nela estavam falando sobre a misteriosa garota que estava casada com Michael Jackson há anos e ele nunca a revelou ao mundo, e claro, que a garota seria revelada no casamento que será realizado no rancho em alguns meses. Eu apenas sorri para Dayse. Deixei a cozinha e corri para o meu quarto e eu acho que eu nunca chorei tanto em toda a minha vida. Não era assim que eu pretendia me casar. Não pretendia me casar no papel assim as pressas e com alguém que nem conheço. Meu sonho sempre foi me casar com alguém que eu amasse e com quem logico, me amasse de volta. Eu fui tão maltratada a vida toda, eu só quero sentir um pouquinho de amor

Casal De PapelOnde histórias criam vida. Descubra agora