Casal De Papel

Nour El Ain

Mariangel Jackson
03 de Janeiro de 1998

 Eu estou com muito frio. Abraço meu próprio corpo com a intenção de me esquentar pelo menos um pouquinho. Estou usando apenas roupas íntimas e pelo que pude sentir, estou atrás de grades. São grades bem próximas como uma pequena gaiola. São tão geladas, aqui é tão gelado. Escuto muitas vozes ao meu redor, são, tantas pessoas

– Vamos começar - escuto um barulho, como pano se deslizando por entre as grades – Esta mulher tem uma boa saúde, é muito bonita e é naturalmente ruiva mas infelizmente esta cega! Porém, pela informação que temos, é uma boa dançarina, suas danças de preferencia são as latinas e na infância fez balé! Ela tem duas faculdades é muito inteligente! E como podem ver, seu corpo é inevitavelmente invejável pela maioria das mulheres - minha respiração se intensifica, que droga esta acontecendo?

– 1 milhão! - uma voz ao longe grita! E logo várias vozes o acompanha. Algo que tem som de malhete é escutado

– Vendida para o sultão por 900 milhões de Riyal - a voz anterior grita. Tudo começa a se mover. Meu coração quase salta pela boca

– Podem a tirar dessas grades - uma voz masculina e firme... não esta tão longe. Escuto barulho de algo se abrindo – Saia! - ele ordena. Acho que ainda não estou no direito de me opor, tudo que quero é sair desse lugar minusculo, mas, pra onde vou? De joelhos com as mãos na frente tento encontrar a saída, sinto uma mão se encontrar a minha. Segura a minha mão direita e com delicadeza me puxa para fura colocando a outra mão em baixo do meu cotovelo me coloca de pé, minhas pernas tremem. Há quanto tempo não como?

– Obrigada - murmuro olhando para baixo, não sei bem pra onde olhar. Dedos tocam meu queixo, movo minha cabeça para cima

– É linda - sua voz é rouca – Você tem um nome? - ele pergunta, com sua pergunta acabo de me dar conta que ele esta falando em árabe. Há muitos anos atrás, eu e Jéssica aprendemos a língua juntas. O plano era que juntas fossemos para a Arábia mas, não deu certo, a minha mãe não deixou

– Mariangel - sussurro, sinto cabelos perto da minha boca. É um cheiro muito bom. Meu nariz toca algo, uma orelha, ele não me ouviu bem – Mariangel! - digo mais alto

– Da pra sentir o poder fluir pelas suas cordas vocais - ele rosna. Uma boca pertinho do meu rosto, uma barba odeio barba

– Não gosto de barba! - esbravejo, ele se afasta. Com o pouco de força que me resta me endireito, estufo meu peito e tento parecer o mais implacável possível

– Eu a tiro pra você - suas mãos tocam o meu rosto – Pele bem cuidada, esse cheiro de baunilha que impregna sua pele, não é um perfume barato, é muito caro - seu nariz passa por minha pele – É uma mulher e tanto Mariangel, aparenta ter 20 anos e nunca deve ter tido um filho na vida, mas, eu quero ter muitos com você - ele sussurra perto do meu ouvido, me afasto bruscamente – Não vai ser agora, não aqui - ele ri e me envolve em um tecido – Vamos! Tem um reino esperando por você! - mal sabe ele que eu já tenho um rei. Eu só preciso ganhar a confiança dele e fugir. Uma vez perto do meu marido, esse sultão não vai conseguir chegar perto de mim. 

05 de Janeiro de 1998
Arábia Saudita
12:53

 O sol quente queima a minha pele mas, não por muito tempo. Logo escuto um guarda sol ser aberto e uma sombra fresca banha a minha pele. Escuto aplausos e muitas pessoas gritam. Isso me soa tão familiar, a esperança de escutar uma dessas pessoas gritando o meu magrinho chega a doer em meu coração. Algo me diz que ele não vai conseguir me encontrar