O oculto.

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O carro estava completamente silencioso...Apenas ouvíamos o barulho do motor e das rodas...Parecia que ninguém ousava perguntar. Elizabeth havia se sentado no banco de trás, então, Clay havia retirado a grade que separava os bancos da frente e trás. Me sentei na frente, ao lado de Clay, que parecia tentar manter certa calma, porém, estava tenso...Era nítido em sua postura.
Elizabeth estava extremamente enjoada, gorfando de tempos em tempos. Clay, a olhava algumas vezes, como se quisesse perguntar, no entanto aparentava saber que não era uma boa hora.
Eu olhava a janela, procurando algum ponto de referência, mas, estávamos indo para uma área rural, a qual eu mal conhecia. Depois de quase meia hora naquele carro, não suportava mais aquele silêncio..."Para que tanto mistério?" Pensava.
- Clay...Você disse que ia explicar no caminho. - Disse, um tanto quanto impaciente. - Pode falar agora...- Pedi calmo, porém ordenava em meu subconsciente.
O homem teve seus olhos em mim, após Lize e então, novamente a estrada. Respirava devagar, aparentando estar nos levando para ver algo como um massacre...
- É que...Não vejo um corpo como aquele desde... - Ia dizer, porém se conteu no mesmo instante. Clay olhou para trás, observando se Elizabeth estava prestando atenção. A ruiva estava focada em não vomitar no carro de polícia, sempre olhando pela janela, após ter a certeza de que Lize não ouvia, fez sinal para eu me aproximar. - Não vejo um corpo daqueles...Desde a mãe dela...- Encerrou mórbido, voltando a se focar na estrada.
Respirei fundo, então mentalizando tia Sophie...Uma mulher loira, com belos olhos roxos alegres e um sorriso encantador. Elizabeth, com certeza se assimilaria muito á mão se não fosse pelo que aconteceu...Tia Sophie e Elizabeth moraram em nossa casa, após o acidente com o outro irmão de Elizabeth...Ela nem pareceu notar que seus pais estavam divorciados, pois continuava falando de coisas alegres e que, em breve, seu irmão voltaria para casa...Tia Sophie, me tratava como seu filho...E eu, que não conheci muito bem a minha, aceitava todo o amor dela...Foi um choque ela desaparecer uma semana após Lize...Me lembro como se fosse ontem...Todas as buscas atrás de Elizabeth, então...Do nada, a coisa muda de figura e todas vão atrás de Sophie, porém...A encontram...Um corpo todo retalhado, com órgãos faltando e múltiplas facadas...Eu não sabia desses detalhes...Acabei por descobrir tudo no ano passado, porém, nesse inverno, Clay havia me deixado ver as fotos...Foi uma coisa bizarra...Quase vomitei, tentando reconhecer uma mulher sorridente e alegre, naquele corpo sem forma e naqueles olhos sem vida alguma.
"Se havia outro corpo como aquele..." Pensei, por um instante cogitando a hipótese de William estar vivo, no entanto, o vimos ter aquela morte nojenta e dolorosa, por isso, podia voltar a respirar tranquilo e esquecer aquele homem...
- Chegamos. - Disse Clay, estacionando em frente, do que parecia uma fazenda.
- Ué? É aqui? - Perguntou Lize, que olhava para os lados e sorria ao ver um cercado de vacas.
- Aparentemente sim. - Respondi, já saindo do carro.
Elizabeth, que não quis ficar para trás, saiu do carro, se colocando ao meu lado e agarrando minha mão. Ela parecia um tanto trêmula, mas eu não conseguia diferenciar se era por conta da ânsia de vomito constante por quase uma hora ou o nervosismo de mexer em um corpo...Tão trêmulo quanto ela, agarrei a mão dela, respirando fundo, afinal, já sabia o que viria pela frente...
- O corpo...É mais lá atrás... - Disse Clay, sem cerimônias, nos levando para dentro do que parecia ser o celeiro.
- Sammy...O cheiro...- Atentou Elizabeth, nitidamente querendo vomitar.
O cheiro de podre...Era algo doce amargo, um cheiro quase impossível de descrever, mas aumentava a ânsia em vomitar...Elizabeth, parecia mais calma que eu, talvez porque já tivesse sentido o cheiro, porém, parecia fraca em querer vomitar...Era o bebê...
- Onde tá o morto? - Perguntei, um tanto quanto indelicado, mas com aquele cheiro, era difícil pensar em alguma maneira de dizer algo delicado.
- Na porta de trás. - Disse Clay, abrindo a mesma. Com a passagem aberta, o cheiro parecia se intensificar, cheirando a algo ainda mais podre. Elizabeth apertou forte a minha mão, o que me fizera voltar meu olhar para a ruiva, que estava mais pálida do que o costume, claramente pronta para vomitar.
Engoli em seco, indo em frente, para finalmente ver o que nos esperava. Clay não teve de me levar até muito longe, o homem morreu, no que parecia a porta de entrado de um pasto.
- Acharam ele há 2 dias, mas já deve estar morto há uns 4. - Disse Clay, me mostrando o homem.
A área onde ele estava caído, era cercada com com cones e fita da polícia, aquele assassinato parecia ser de extremo sigilo... "Então por quê ele nos trouxe?" Pensei.
Saindo dos meus pensamentos, finalmente olhei para o corpo...
O homem estava caído, parecia ter sido jogado, no entanto, eu não fazia ideia de onde eram certas partes do corpo, que estava todo torto e mutilado...Era pior que o corpo de Sophie...Aquele homem estava completamente mutilado, tendo até marcas em seu pescoço...Já não parecia que ele havia sido um homem...Não restava uma prova...Até seus olhos pareciam ter sido perfurados...
- C-como ele morreu...? - Perguntei, com certo medo da resposta.
- Nós...Não sabemos, mas eu sei que Elizabeth sabe...- Disse Clay, a trazendo para ver o homem.
Esperava que ela fosse dar algum ganido ou se sentir mal, no entanto, ela apenas fitava o corpo com um olhar extremamente mórbido e até sinistro. Por alguns segundos, não sabia se estava olhando para a minha Lize de sempre...
- Lize? - Chamei, pondo a mão em seu ombro e então acariciando seu rosto.
- E-eu...Tô bem... - Respondeu, voltando a si.
- Okay... - Beijei sua testa, então saindo do caminho, para que ela pudesse avaliar.
Elizabeth o encarou por mais alguns segundos, logo em seguida começou a rodiá-lo, olhando cada centímetro de tudo á volta. Após do que parecia uma eternidade, ela se agachou ao lado do homem, sem medo de tocá-lo ou vê-lo.
- Elizabeth...? - Chamei, abismado com como ela lidava bem com aquilo.
- Sam, olha...Depois, tenho algo para contar sobre a Elizabeth... - Sussurrou para mim, aumentando meu nervosismo.
Após pegar no pescoço do homem, Elizabeth o soltou, como se tomasse um susto, então se afastando ainda no chão.
- F-foi...U-um animatronic d-do do meu pai que o matou. - Exclamou desesperada e ofegante.
- Que!? - Me aproximei, indo tirá-la daquela situação.
- S-springlooks n-no pescoço...A-as do meu papai t-tinham um "A" d-de Afton... - Tremia, enquanto eu a ajudava a se levantar.
- Imaginei... - Disse Clay infeliz, logo em seguida, respirando fundo. - Não queria dizer isso agora, mas... - Olhou para o homem e depois para nós - Creio que não hajam muitas opções... - Pausou, cobrindo o homem com um pano branco.
Esperando que Clay contasse, seja lá o que fosse, acariciava as costas de Elizabeth, tentando acalmá-la, no entanto, ela tremia, tendo seu corpo ainda mais branco...Pude vê-la segurar o enjoo, logo em seguida, escondendo o rosto em meu peito. Ainda preocupado, apenas a abracei, acariciando sua cabeça e selando aquele ato com um beijo na testa.
- Achamos que...William Afton possa ter sobrevivido...- Disse infeliz.
Menos um segundo depois de Clay dizer essa, Elizabeth vomitou, mirando para um lado que não acertasse nada, nem ninguém. Como reflexo, me abaixei ao lado dela, então acariciando suas costas.
- Que...? - Questionei o homem, mesmo que ainda cuidando de Elizabeth.
- O animatronic em que o Afton morreu...Ele sumiu e o corpo junto... - Contou, finalmente aparentando estar um pouco mais leve. - Pra aliviar ainda mais o trabalho da polícia, houve um massacre na Afton Robotics...Os animatronics...Todos foram levados... - Finalizou assustado, talvez porque tivéssemos o mesmo pensamento: "Os animatronics mataram todos e estão á solta e fora de controle".
- E-eles...Queriam fazer isso... - Choramingou Elizabeth, que ainda estava agachada. - E-eu esperava ser salva...M-mas eles desistiram...Ballora também, só que...Do nada...Ela queria o mesmo que eles... - Dizia chorando, tendo o que pareciam péssimas memórias daquele lugar.
Acariciava suas costas, no entanto, comecei a me preocupar, então a puxando para meus braços. Ela estava trêmula e com o rosto encharcado de lágrimas.
- Já tive o que precisava para a investigação... - Suspirou Clay. - Sam, temos que conversar também...Mas é melhor lá em casa. - Ainda sério, foi indo para o carro.
Tentando acalmar Lize, não a soltei por um único segundo no caminho até o carro e, acabei por sentar no banco de trás com ela. Ela recostou a cabeça em meu ombro e, claramente exausta de tudo aquilo, acabou por dormir...Se exaltara demais para um dia só...Não queria que ela se forçasse demais.
- Então garoto...Me perdoa de novo por isso. - Disse Clay, colocando uma música no rádio, talvez para deixar o clima, um pouco mais leve.
- Não precisa pedir desculpas...Se o Afton estiver mesmo vivo, é bom saber...Preciso proteger ela a todo custo, dessa vez. - Bradei com coragem, acariciando Lize, porém...Era verdade que eu tinha tanto medo quanto ela...O olhar morto daquele homem...Imaginar que ele é a causa da morte de muitos que amei...Isso era intimidador...Mesmo assim, não deixaria que ele me tirasse Elizabeth novamente, sem pensar no que ele faria á ela, se descobrisse que vamos ter um filho...Aposto que ele a torturaria até um aborto ou algo assim..."Ele gosta de me enganar e me fazer chorar" Me lembro dessas palavras que Lize me disse, logo após eu perguntar sobre seu pai.
- É...Imagino que, depois do que ele aprontou da outra vez, você queira quebrar a cara dele. - Disse Clay rindo, então me tirando daqueles mórbidos pensamentos.
- Acha? Não vou só quebrar, vou torturar, despedaçar e triturar. - Respondi, também me deixando rir um pouco.
- Mexeu com a baixinha do cara errado. - Completou.
- Óbvio, toca na Lize pra você ver. - Continuei, finalmente soltando a risada á valer.
- Boa, garoto! Te ensinei bem! - Clay ria-se, claramente precisando de um momento daqueles.
O resto do caminho, foi um bocado silencioso, mais porque Elizabeth estava ameaçando acordar, então achei melhor fazermos silêncio. Ainda estava procurando um jeito de contar á Clay sobre a novidade, mas sentia que não era a hora...
Em vez de nos levar para casa, Clay nos levou para sua, admito que não estava muito afim de falar de trabalho, no entanto, para nos mantermos seguros, era melhor resolver logo aquilo.
- É melhor...Ela não ouvir a conversa... - Disse Clay, abrindo a porta da casa para nós. - É realmente pesado... -Finalizou ele, olhando em meus olhos...Os seus estavam sérios, obviamente preocupados. - Pode deitar ela no velho quarto de vocês, depois me encontre no escritório, okay? - Sorriu, seguindo seu caminho até o escritório.
Suspirei, tendo a Elizabeth, ainda adormecida, em minhas costas. Olhei para a ruiva adormecida, dando um sorrisinho besta. "É muito fofa enquanto dorme" pensei, assim subindo as escadas.
Era bizarro estar naquele quarto novamente...Moramos lá, apenas por alguns meses, porém fora muito divertido...Até porque, Carlton estava apenas há uma porta de distância.
Um tanto quanto feliz de estar lá, pus Elizabeth na cama. A ruiva, parecia melhor na cama, já que dormia com uma boa expressão. Já estava para sair do quarto, no entanto, quis ficar mais um pouco com ela. Caí de costas na cama, ainda pensando no que fora o dia de hoje...
- Um ano de paz, aí no dia que descubro que vou ser pai, tudo desanda? Muito engraçado, vida. - Devaneava, como se aquilo fosse me dar alguma resposta.
Um tanto quanto relutante, me levantei, observando um pouco do que era a paz de Lize ao descansar. Respirei fundo, indo em direção ao escritório de Clay...
O lugar aparentava o mesmo de sempre, porém, a mesa de Clay estava extremamente organizada, tendo apenas algumas pastas sobre ela, as quais ele lia intensamente.
- Clay? - O chamei, o tirando de sua leitura.
- Sam... - Confirmou, com um olhar meio mórbido. - Feche a porta, por favor. - Pediu, se levantando para buscar, o que pareciam mais arquivos.
Fechei a porta, logo em seguida me sentando na cadeira, que ficava posicionada bem á frente de sua mesa.
Após pegar, o que pareciam mais duas pastas, o homem se sentou a minha frente.
- Sam...Isso vai ser muito difícil de engolir...Eu descobri, o que exatamente é a Elizabeth... - Disse infeliz.
- Q-que...? - Fora a única reação que pude ter...Elizabeth estaria viva, afinal? Tantas possíveis respostas passavam pela minha cabeça...
- Agora...Preciso que você seja um homem e não um garoto, porque...O que vou dizer...É horrível...Não quero acabar com o relacionamento de vocês, até porque, ela é uma ótima menina, então...Vou perguntar só uma vez... - Naquele momento, não era o tio Clay falando, era o policial Clay...E era isso que me deixava ainda mais nervoso.
Engoli em seco, sem querer pensar muito no que diria a seguir, assenti.
- Okay...- Soltou infeliz, me entregando algumas pastas. - Quando estávamos investigando a Afton Robotics, achamos as plantas de alguns animatronics, porém...A Eli- Circus Baby, possuía duas plantas e dois arquivos de experimento -Suspirou, me apontando as pastas. Uma dizia, apenas, "Projeto Circus Baby" enquanto a outra era "Projeto Circus Baby humana" - Tivemos que invadir o escritório do cientista principal, para poder pegar esses dois, especificamente...Comece pelo "Circus Baby"... - Suspirou, voltando seu rosto para o lado.
Abri a pasta, até então, não vendo muita coisa de diferente, do que Elizabeth já havia me contado. Aquele fora seu primeiro corpo, um animatronic feito, exclusivamente para seduzir e matar crianças, o animatronic que havia seduzido Elizabeth a se tornar Circus Baby...
As anotações, eram coisas bem banais, como "Ela consegue fazer tudo que programamos, sem uma única dificuldade" no que ia passando as páginas, realmente parecia já ter lido tudo aquilo no escritório de William...Porém, no que fui passando as páginas, algo começava a ficar estranho.
"11 de Abril de 1986
Projeto: Circus Baby

Five Nights At Freddy's: I am alive. (Livro Descontinuado, Leia Por Sua Conta)Onde histórias criam vida. Descubra agora