Eles correram por um campo de capim alto e flexível, que alcançava o
queixo de Branca de Neve. Ela abria caminho com as mãos e só podia ver a nuca de Eric quando ele chegou ao outro lado do campo. Ele estava esfregando o local onde ela o tinha ferido, O sangue havia secado e seu cabelo havia grudado nele.Ela o ouviu conversando com alguém para além das árvores. Quando o
encontrou, seu rosto estava coberto de lágrimas e suas mãos tremiam, buscando alcançar algo que ela não podia ver.— Sara — continuava dizendo à medida que dava mais um passo em
direção à caverna . Como não vira aqueles lobos monstruosos? Eles tinham três vezes o tamanho de um lobo normal e seus olhos amarelos horríveis brilhavam.Como não ouvira aquele rosnado conforme se aproximava deles? Eles estavam rosnando e mostrando os dentes afiados. Branca de Neve saiu de trás da grama alta, chutando os talos que grudavam em suas pernas recém-cobertas.
Estava grata por ter algo que as protegesse agora. O caçador não havia se virado para ela desde que tinham deixado a caverna. Não havia falado com ela ou comentado sobre a aparição de sua esposa. Simplesmente continuou andando, cortando galhos e arbustos desgarrados com seu machado.
— Foi por ela que você barganhou, por Sara. A pessoa que falou com você — Branca de Neve começou. Sabia que ele não queria falar, mas não podia fingir que nada tinha acontecido.
Ele a tinha visto lá? Que tipo de ilusão havia sido aquela? Estava claro, agora, para ela, que a esposa do caçador não estava sendo mantida
cativa.— Sara morreu? — perguntou ela. O caçador ficou rodando feito um louco, mesmo lugar, e apontou a ponta do
machado para ela.
— Nunca mais diga o nome dela — retrucou. Branca de Neve deu um passo para trás, seu coração batendo forte. A lâmina afiada estava quase tocando seu pescoço.O caçador abaixou seu machado.
— Só não me pergunte nada -
com o rosto triste. Puxou a adaga da bainha e a passou para ela, como se quisesse mudar de assunto.
Ela balançou a cabeça sinalizando que não, mas ele a apertou em suas mãos.
— Aqui, sinta o peso. Passe de uma mão para a outra.
Ela notou que a adaga era mais pesada do que pensava e que sua ponta era ligeiramente curvada para dentro. Os olhos do caçador estavam fixos nela, vendo como ela a girava em suas mãos e depois a apontou para o chão.
— Agora, segure-a com a ponta voltada para mim.Seu rosto estava mais sério do que antes. Seu cabelo cor de palha estava
escondido atrás das orelhas; a barba, coberta de terra. Ela segurou a adaga
apontada acima da cintura dele.
— Por que você...?
Antes que ela terminasse a pergunta, ele se lançou contra ela. Ela recuou,
levando a lâmina até a garganta dele. Ele parou bem pertinho dela. Então, sorriu pela primeira vez naquele dia.— Ótimo. Agora, me diga: qual é seu pé de apoio? — perguntou. Descansou o pé em uma árvore próxima e a observou.
— O que você quer dizer? — perguntou ela. Atrás dele, a floresta estava estranhamente tranquila .Dois corvos os assistiam em um galho baixo. Ele se lançou sobre ela novamente. Instintivamente, ela colocou o pé direito à frente, não
o deixando ganhar qualquer terreno dessa vez.Ele seguia em direção a ela. Ela se inclinou para ele, a adaga em sua mão direita ainda apontada para o seu pescoço.
— Fique longe — disse ele, lhe acenando para se distanciar. — Você é muito pequena para o ataque, tem de se defender. Use a força do seu oponente contra ele.Levante seu outro antebraço. Branca de Neve elevou o braço esquerdo, seu punho paralelo ao chão. O caçador ainda estava sorrindo, como se aprovasse o que estava vendo. Pela
primeira vez, desde que se conheceram, não a desprezava. Parecia mais amável agora, até caloroso, conforme a observava. Adiantou-se novamente e, dessa
vez, Branca de Neve sentiu a distância diminuindo entre eles.— Assim, você vai bloquear e desviar a investida do adversário. Você vai se
ferir, mas não vai morrer — falou suavemente, dando mais um passo.
— Espere até que eu esteja perto — insistiu ele. Ela não desviava o olhar do dele. Ainda que o suposto inimigo estivesse indo em sua direção, ele estava se divertindo. Aquela covinha apareceu novamente.A palma da mão suada segurava a adaga e ela tentava manter a concentração.
— Ainda não — Eric sussurrou. — Observe minhas mãos, não meus olhos.
Ela baixou o olhar para o machado. Seus movimentos eram estáveis,
conforme ele dava mais um passo em direção a ela. Resistiu ao impulso de
assustá-lo de volta com a adaga.
— Ainda não — ele repetiu.
— Só se mexa quando sentir minha respiração.
Ele deu mais um passo, depois outro, até que chegou bem pertinho dela.
Então sorriu, seus olhos cinzentos a desafiando a agir.Ela não hesitou. Levantou a adaga, a apontou para cima e parou pouco antes de bater no esterno dele.
— Sim! — Eric sorriu. — É nessa hora que você irá cravá-la nele. Até o
punho. Mantenha seus olhos fixos nos dele e não a puxe de volta até ver a alma do seu inimigo. Envolveu a mão dela na dele. Segurou a adaga com ela, sorrindo como se ela tivesse feito uma coisa maravilhosa.A respiração dela ficou mais curta. Puxou a mão, pois não sabia o que estava sentindo quando viu o rosto do caçador tão próximo ao seu.
— Por que está me mostrando isso? — perguntou Branca de Neve.
— Por que agora?
O caçador olhou por cima dos ombros dela. Seguiu seu olhar através do
campo, para onde estavam as cavernas.
— É importante que você saiba... — ele cortou a conversa e não disse o que estava sugerindo: que ele era tão vulnerável à Floresta Sombria quanto ela. — Fique com isso — disse, acenando com a adaga.Branca de Neve a baixou e se sentiu mal só por se imaginar sozinha na
floresta. Ela odiava admitir, mas ele era a única pessoa que lhe trouxera conforto até agora. Ele deu um passo por entre as árvores e começou a descer um caminho estreito à esquerda.— Aonde você está indo? — perguntou ela. Eles deveriam seguir em direção ao norte por mais um quilômetro e meio, e que ele mesmo lhe havia dito.
Eric sorriu para ela, seus olhos cinzentos se iluminando. Era cerca de cinco anos mais velho do que ela, talvez mais. Seu cabelo estava cheio de nós e fedia a bebida.
Mas ali, ao lado da árvore, ela viu um lampejo do que ele poderia ter sido
antes. Estava mais calmo, quase feliz. Apontou para uma bolota marrom perto de seus pés.
— Estrume — ele deu de ombros.
— Certo. — Branca de Neve riu. Esperava que ele não percebesse o rubor em seu rosto.
— O estrume chama.
Ele começou a descer. Branca de Neve ficou ali, observando- o ir, até as
costas dele desaparecerem por trás da mata densa👸👸🗡🗡🗡👸👸👸👸🗡🗡🗡👸👸
Que capítulo Romântico não?😊😏
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Branca de Neve e o caçador
RomanceVersão do conto de fadas em que o caçador enviado pela Rainha Má para matar sua bela enteada, Branca de Neve, torna-se seu protetor e mentor, ensinando-lhe a arte da guerra para enfrentarem as forças reais junto com os 7 anões e os seres da floresta...