Capítulo 8

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   – Está acabado, finalmente. Foram dez anos de procura incansável, e aqui estão eles: indo ver o sol nascer quadrado – um policial informou a uma repórter próxima a viatura em que eu me encontrava. Não sabia como e quando tinha ido parar ali.
   – Vocês... – tentei falar – como chegaram tão rápido?
   – Estávamos por perto e recebemos uma denúncia anônima. Viemos o mais rápido que deu – ele respondeu.
   Uma denúncia anônima? E se... não, é loucura. Não pode ter sido a minha mãe, eu devo ter alucinado.
   – Onde está o Nicolas? Preciso vê-lo!
   – Recebendo tratamento médico necessário. Você é a próxima.
  
    Não vi Nicolas o dia todo. Já tinha recebido tratamento médico, já tinha dado depoimentos à polícia, e agora voltava pra casa dele. Me disseram que ele estaria lá.
   Subi as escadas tão rápido e desesperadamente que nem parecia que eu tinha sido praticamente espancada horas antes.
   Ele estava em seu quarto, deitado na cama quando fechei a porta atrás de mim. O estudei rapidamente com olhos e percebi que nada além do seu nariz tinha se quebrado. Deve ter tomado uma pilha de remédios para conter a dor de cabeça que provavelmente deveria sentir depois dos socos. Depois de ficar meio grogue, como dissera aquele monstro.
   – Você está bem? – corri pra abraçá-lo.
   Suas mãos apertaram a minha cintura, e gemi em resposta. Minhas costas ainda doíam muito, apesar da quantidade de analgésicos que tomei.
   – Me desculpe, Júlia. Eu te machuquei? – havia medo e preocupação em seus olhos.
   – Não. E como você está?
   – Ótimo – sorriu – conseguimos! Os assaltantes, todos eles, estão presos agora. E eu recuperei a sua herança, vai recebê-la em algumas horas...
   – Mas você, Nicolas? – questionei novamente – Quebraram o seu nariz, colocaram uma corda no seu pescoço, te deixaram grogue! Como você está agora?
   – Júlia, não vamos falar sobre mim agora, tudo o que importa é que...
   – Como. Você. Está. Agora.
   – A minha cabeça dói, o meu nariz está latejando, e nada além disso.
   – Tudo bem – segurei suas mãos – vou cuidar de você.
   Saí tão rápido do seu quarto que ele não pôde se opor.
   Quando voltei, estava segurando uma caixa de primeiros socorros.
   Sentei na beirada da cama, organizando tudo o que iria usar em Nicolas. Foi quando ele segurou a minha mão e me puxou pra perto. Sorri em resposta.
   Em um ato cauteloso, limpei o sangue que saía do nariz dele. Afaguei os seus cabelos enquanto pressionava o algodão o mais delicadamente que conseguia.
   Estava embriagada por aquele perfume. O perfume dele.
   – Estava disposto a morrer por mim – os meus olhos procuram desesperadamente os dele – significou muito.
   – Eu sei que faria o mesmo por mim.
   Faria. Com toda certeza do mundo o faria.
   – Eu o amo, Nicolas. Com todo o meu coração – beijei os seus lábios docemente. Senti falta disso.
   – E eu amo você.
   Chorei. Chorei ali mesmo, na sua frente. E não me importei, porque confiava nele o bastante pra deixar que ele me visse por completo. Meus medos e anseios. As minhas imperfeições. Tudo.
   Nicolas sentou na cama e me abraçou rapidamente. Estava em seus braços quando menos podia esperar.
   – Sinto muito por tudo que passou – murmurou em meu ouvido – nós vamos superar isso.
   Concordei com a cabeça.
   – Você perdeu muito peso, Júlia. Precisa comer.
   – Tudo bem – aceitei facilmente. Eu sabia que precisava.
   Ele levantou da cama e me pôs no chão, mas não largou a minha mão. Fomos para a sala de jantar assim, e encontramos Elisa e Linne a nossa espera.
   – Olhe só pra eles, Linne – Elisa a cutucou – machucados e felizes. Porque estão juntos.
   Porque estou com ele.
   – Júlia precisa comer – Nicolas comentou.
   – Vai tentar mesmo? – minha irmã perguntou, pasma.
   – Eu preciso.
   – Relaxa, Júlia. Você não vai vomitar até as tripas de novo.
   – Vomitar até as tripas? – Nicolas me encarou, totalmente preocupado.
   – Nada com que deva se preocupar – apertei a sua mão com força.
   – Deve, sim – Elisa retrucou, e não se importou com o meu olhar a metralhando – Júlia estava vivendo a base de frutas e líquidos.
   – Se importa em marcar um check-up? – Nicolas questionou.
   Eu sabia que ele iria insistir até que eu aceitasse, então, simplesmente disse:
   – Não. Tudo bem.
   – Precisa de algo? – Nicolas sussurrou pra mim – acha mesmo que consegue comer?
   O vendo ali era apoio o suficiente. E agora eu não tinha com o que me preocupar, então as chances de passar mal eram mínimas.
   – Consigo.
   Sentei a mesa com eles e me servi. Não exagerei, mas comi pelo menos.
   Quando terminei de comer e beber o suco de maracujá, já me sentia melhor.

O contratoOnde histórias criam vida. Descubra agora