Capítulo 9

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Sentei no banco de carona ao lado de Nicolas, enquanto Linne e Elisa ocupavam o banco de trás.
Abri a janela e joguei a cabeça para perto dela, me permitindo sentir o vento em meu cabelo. Eu sempre adorei a sensação.
Só parei quando senti Nicolas me observar, e quando o olhei de rabo de olho, vi que ele estava sorrindo.
– O quê? – questionei baixinho.
– Você. Linda, Júlia. Você é linda – respondeu no mesmo tom de voz.
Eu também estava sorrindo àquela altura.
– E você está lindo nessa jaqueta. Ficaria ainda mais sem ela – sussurrei.
Seus olhos brilharam em resposta. Então ele piscou, e eu subitamente soube o que aconteceria no momento em que voltassemos pra casa; e ansiaria por isso.
Quando risadas baixas surgiram, percebi que talvez nós não houvessemos falado tão baixo assim. Corei no mesmo instante.
– Esperem pra se amar quando chegarmos em casa, por favor – ironizou a minha irmã.
Um sorriso se estendeu no rosto de Nicolas.
– É pedir demais? – Elisa questionou, também partilhando de nossa alegria.
– Oh, é sim – Nicolas respondeu simplesmente – foram noites e noites pensando no sorriso dela. Noites e noites imaginando como seria quando eu voltasse. E noites angustiantes sem abraçá-la e sentir o seu cheiro. Então, sim, agora que estou por perto, é pedir demais que eu pare de amá-la. Mesmo em público.
Meu coração se aqueceu. Mesmo com aquele tom brincalhão, mesmo com aquele tom provocador... eu sabia que ele estava sendo sincero. Eu sentira a verdade no timbre de sua voz; e amara aquilo.
– Ok – Elisa deu risada – vamos deixar o casal curtir o seu momento, Linne.
– Eu posso suportar alguns amassos, afinal – concluiu a minha irmã.
Eu estava gargalhando. Gargalhando, de fato. E eu era sincera.
Era a primeira vez em muita tempo que eu conseguia sorrir... e tudo por eles. A minha família.
– Tenho que dar uma notícia – comecei. Os olhos de Nicolas procuraram os meus rapidamente, como se ansiasse pelo o que eu diria, como se surpreendesse com o que eu estava prestes a falar. Então ele tirou uma das mãos do volante rapidamente para acariciar a minha – nós dois temos, na verdade – me apressei.
Encarei as duas pelo espelho, e as vi trocando olhares.
– Não me diga que... – Lin estava prestes a perguntar se eu estava grávida, eu sabia. Então tratei de negar rapidamente.
– Não! Somos só nós dois por enquanto...
– Certo – Elisa voltou a respirar – mas eu realmente adoraria isso.
Eu também – quis dizer. Mas não disse.
– Linne, antes que eu diga, saiba que se você negar, tudo estará cancelado. A decisão também é sua.
Ela apenas assentiu.
Nicolas ergueu a cabeça quando disse:
– Quero que vocês duas fiquem lá em casa, nossa casa, permanentemente. Que vocês passem a morar lá... que a chamem de lar.
Lá é o meu lar, com certeza. Tenho tudo do que preciso: eles.
– E a nossa casa, Júlia? – foi tudo o que ela questionou.
– Podemos vendê-la, se quiser. Podemos transformá-la em alguma ONG, instituição... tantas possibilidades! – sorri com a ideia.
– Seria incrível tê-las por perto todos os dias. Um sonho, na verdade – Elisa admitiu sorrindo.
Então Lin segurou sua mão no mesmo instante, a apertando. E eu soube, bem ali, que Elisa estava ajudando a minha mãe na difícil missão que era cuidar da minha irmã. Porque eu vira amor no olhar de Elisa para mim, para Linne; amor de mãe.
– Ficaremos – foi tudo o que ela disse.
O bastante para me fazer sorrir o resto da noite.

***

Mal falei com aquelas duas quando pusemos os pés em casa. Na verdade, tudo o que fiz foi trocar meias palavras e beijar o rosto de cada uma delas até cortar conversa e alegar cansaço para subir.
E enquanto subia aquela escada em espiral – às vezes tenho raiva dela... penso no quanto vai ser difícil subir e descer quando não conseguir enxergar os próprios pés, mas é uma possibilidade remota, então... – penso em Nicolas e em como ele estava bonito naquela jaqueta. Muito mesmo.
Entro no quarto, jogo os sapatos em qualquer lugar e me deito na cama. Exausta. Mas não para ele.
Levar o carro para a garagem – foi o que ele dissera.
Mas eu não aguentava esperar... ansiava por ele. Ansiava por Nicolas de todas as formas possíveis, principalmente em mim.
E quando o vi entrar no quarto, quase gritei agradecendo aos céus.
– Fico feliz que tenha esperado – disse enquanto fechava a porta atrás de si.
Então, caminhou lentamente até mim, instigando ainda mais o desejo.
Quando nossos narizes estavam colados, Nicolas afastou a cabeça para a direita e deixou a boca a menos de meio centímetro da minha orelha ao sussurrar:
– Não imagina como estava ansioso para tirar esse vestido.
E ele não fazia ideia de como cada palavra que saíra de sua boca significava um balde de gasolina sendo jogado em mim.
E não fazia ideia de que enquanto descia o zíper até o início da minha bunda, estava raspando o fósforo na caixa.
E não fazia ideia de que quando depositou um beijo em meu ombro, jogou o fósforo sobre mim, liberando o incêndio. Ou talvez fizesse, porque não parou.
Eu estava quente. Estava queimando, e aquilo apenas se alastrava mais e mais por todo o meu corpo enquanto ele me acariciava.
– Júlia, meu amor, como foi boa atriz escondendo isso a noite toda – disse após descer o vestido completamente – eu mal consegui parar de olhá-la na frente de todos.
– Eu percebi – respondi simplesmente enquanto saltava para fora do vestido – você estava praticamente me comendo com os olhos.
E aquilo era parte dos motivos para minha atual situação. Para que eu ansiasse tanto por esse momento.
– Não é apenas com eles que farei isso agora – ronronou em meu ouvido.
– Que boca suja, Nicolas – ofeguei.
Ele acariciou o meu pescoço e o beijou em seguida.
– Diga o quanto sentiu falta dela – pediu.
O beijei, mostrando o quanto ela realmente havia feito falta pra mim. E deixei que ele enxergasse isso em mim enquanto acariciava seu rosto com uma mão, seu membro com a outra...
– Muito, na verdade – admiti. – Você faz coisas incríveis com ela.
Nicolas me sentou na cama, e deixei que fizesse isso, que começasse o seu show. Não iria impedi-lo de beijar todo o meu corpo, nem agora e nem nunca.
– Diga o quanto sentiu falta dele – apontei para o meu corpo.
Ele não precisava responder aquela pergunta. A resposta estava aparente em todo ele, mas mesmo assim respondeu:
– Muito. Você sabe usá-lo com sabedoria – sussurrou, e depois voltou com sua trilha de beijos.
Nicolas... Oh, Nicolas. Tão galanteador.
Uma gargalhada ressoou no quarto. Mas eu não consegui mantê-la nem mais por meio segundo, graças aos gemidos que Nicolas agora provocara em mim.
E enquanto eu ficava sobre ele, senti o mundo se encaixar. Senti a paixão e o desejo crescerem quando ele repetia e repetia me amar, e quando eu fizera o mesmo.
Mas senti, principalmente, o amor que tanto falávamos sentir quando nossas mãos se entrelaçaram.
Quando nossas almas se uniram...
– Júlia! – Nicolas professou, em um tom grave e provocante.
Quando ouvi o meu nome saindo de sua boca, parecia ter ouvido a poesia mais bonita do universo.
E, naquele momento, eu realmente acreditei nisso.

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⏰ Última atualização: Dec 10, 2019 ⏰

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