Capítulo 4

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   O carro de Nicolas tinha acabado de virar a esquina quando pusemos os pés em casa.
   – Vocês se beijaram! – Lin gritou animada – Júlia, vocês se beijaram!
   – Foi só um beijo – resmunguei.
  Na verdade, o beijo significou algo, sim. Mas Linne não precisava saber.
   – Não foi só um beijo, Júlia. Eu sei que não. 
   – Você tem muita imaginação.
   – Ele ficou todo bobo o caminho inteiro!
   – Você acha? – questionei.
   – Acho. E olha você toda interessada...
   Droga.
   – Vamos esquecer. Nicolas é só um amigo que está nos ajudando muito nessa fase caótica da nossa vida.
   – É, um grande amigo mesmo... – respondeu ironicamente.
   – O que você achou da família dele? – perguntei pra mudar de assunto.
   – Os pais dele são incríveis! Tão educados e refinados... é esse tipo de gente que eu preciso na minha vida. Além de que, a mãe dele foi uma fofa comigo. Acredita que ela pediu para que nós duas voltássemos logo? Quer ajudar a resolver a nossa situação junto do Nicolas.
   – Eu não sei se isso é uma boa ideia, Lin...
   – E por que não?
   – Já faço o Nicolas perder tempo conosco, aí além dele iria envolver também a sua mãe? Não... é demais.
   – Bom, ela fez uma proposta. E é claro que a gente vai pagar eles depois que conseguir a herança de volta, né?
   – Claro!
   – Mas acho que o Nicolas não vai aceitar.
   – Por que ele não aceitaria?
   – Deve ser estranho aceitar dinheiro da namorada. Você não acha? – ela questionou com um sorriso. Estava se divertindo tanto com esse diálogo.
   – Você é uma palhaça, Lin. Nós não iremos namorar, trate de colocar isso na sua cabeça. Eu já disse! Foi só um beijo.
   – Tudo bem. Então não tem problema eu falar isso pra ele, né?
   – Falar o quê?
   – Que foi só um beijo, que não teve significado nenhum pra você.
   – Claro que não! Você não pode se meter na minha vida.
   – Eu não vou, estou brincando. Mas viu como se preocupa? É porque gostou do beijo.
   – Não, é porque não quero estragar a nossa amizade.
   – Unhum... claro.
   Nós duas terminamos o papo e fomos dormir, mortas de cansada depois da noite agitada que tivemos. Eu demorei um pouco mais pra pegar no sono, é claro. Foi difícil parar de reviver o momento em que Nicolas mantinha a boca ma minha... e como poderia ser diferente?

   Quando acordei, contive um grunhido desanimador e apenas resmungo baixinho, tudo pra não acordar Lin. O único e exclusivo fato que está me deixando desconfortável é: hoje é dia de ir pra boate.
   E, sinceramente, eu não sei o que vou fazer quando ver Mari. Estou o evitando a uma semana, mas hoje não vai ter mais como. Nós iremos conversar sobre aquela droga de noite inconveniente.
   – Boa noite – cumprimento um segurança assim que chego na boate.
   Ultimamente eu estou chegando praticamente na hora de ir para o palco. Só tenho tempo de revisar a coreografia duas vezes e já preciso partir para a maquiagem e cabelo. Além do figurino, claro. Depois daquele acontecimento, passei a ter cuidado com as roupas que eu preciso usar pra me apresentar. Sempre me certifico de que a roupa é realmente adequada pra mim.
   Quando estava pronta e prestes a ir pro palco, vejo Mari vindo em minha direção. Tento ir por outro caminho, torcendo para a conversa ser adiada para outro dia, mas ouço meu nome e então paro de caminhar.
   – Júlia! Precisamos conversar.
   É, nós precisamos. Já faz uma semana que Mari desconfiou de mim, e até agora não consegui perdoa-lo. Eu sei que deve ser difícil desacreditar de Sandra, já que ele a conhece a mais tempo, mas isso não significa que ele deveria perder o bom senso e me acusar de ter armado aquilo tudo. Eu nunca faria algo assim!
   – Eu tô atrasada. Sou a próxima – apontei para o palco.
   – Já mandei irem na sua frente – ele disse – preciso que me escute.
   – Ok – eu pensei em mandá-lo ser rápido, mas independente de qualquer coisa ele continua sendo o meu chefe.
   – Não entendo porque você está tão chateada comigo, mas seja o que for, peço desculpas. Não tive essa intenção – ele realmente parecia arrependido, mas como poderia se arrepender de algo que nem notou ter feito?
   – Você me acusou de ter planejado aquela situação, Mariano. É por esse motivo que estou tão chateada.
   – Mariano não! É Mari. E não, Júlia, eu não te acusei. O que te faz pensar que eu faria isso?
  – Não me acusou? E quando você falou sobre eu não me sentir confortável com os trajes que uso aqui, insinuando que eu tinha escolhido a roupa da apresentação, como se eu soubesse que aquilo ia acontecer? E você falou isso mesmo depois de eu ter dito que foi a Sandra. Nem considerou pensar no que eu havia dito, preferiu pensar o pior de mim.
   – Você me interpretou mal. Mas não acha injusto me colocar nessa posição? Me fazer escolher em quem acreditar? Está me colocando contra a parede, Júlia!
   – Não, não estou. Apenas disse algo do que tenho certeza absoluta: foi a Sandra quem fez aquilo acontecer. Não estou pedindo para acreditar em mim, mas pra pelo menos averiguar a situação. É a sua obrigação como chefe – digo e me arrependo imediatamente.
   É verdade, é mesmo a obrigação dele, mas eu não precisava ter dito isso dessa forma, pode soar grosseiro.
   – Eu farei isso. Só quero que saiba que eu não pensei o pior de você.
   – Mas pareceu, Mari. E, olha, eu sei que sou nova por aqui e você não me conhece direito, mas eu acima de tudo tenho princípios. E eu não abriria mão deles pra prejudicar alguém, principalmente alguém que nem é uma ameaça pra mim.
   – Sandra não é uma ameaça pra você? Essa é nova... todas as novatas têm medo dela.
   – Aparentemente eu sou uma exceção.
   Disse e me direcionei ao palco.

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