O Som do Trovão ── 𝐏𝐄𝐑𝐂𝐘 𝐉𝐀𝐂𝐊𝐒𝐎𝐍

Capítulo 03 - Tem algo muito errado com os dois novatos.

O Som do Trovão — Livro I

Depois de alguns longos e torturantes minutos, Bell finalmente havia se acalmado e acabou pegando no sono. Por um instante fiquei observando meu irmão dormir tranquilamente, me lembrando de quando éramos crianças e éramos felizes em Creta, bom pelo menos antes do meu acidente no mar.

Senti calafrios incômodos percorrerem minha espinha, quando a vaga lembrança daquele péssimo dia volta para tentar me assombrar com as péssimas recordações que tenho do mar. Balancei a cabeça para os lados tentando o máximo me livrar meus pensamentos de memorias tão traumáticas e ruins como aquela era para mim.

Esfreguei o rosto com minhas mãos e após um longo suspiro, decido me levantar da cama, não me importando muito com delicadeza ou cuidado, pois Bell sempre teve o sono pesado, nada é capaz de acorda-lo. Olhei no relógio na sua mesa marcando exatos 17h45min, deixei o livro sobre a história de Orfeu no mesmo lugar onde havia o pegado, antes de ir até a minha mochila jogada perto da porta. Quando a abri tratei logo de retirar meu novo "celular-contrabandeado" dela, ainda estando na caixa.

Confesso que fiquei realmente surpresa e ainda muito grata por Derek me presentear com ele, mesmo ele sendo o melhor amigo de Bell aqui dentro, tenho que admitir que o loiro realmente seja duro na queda quando se trata de negócios e descontos. Entretanto, não posso negar que fiquei feliz de não gastar meus dólares, os quais suei muito para economizar e juntar durante os anos que estive aqui.

A Gray Scott poderia ser facilmente considera um tipo de prisão, já que nos impedia de ter celular, acesso facilitado à internet ou qualquer contato com o mundo exterior. Eles queriam nos reeducar nos privando de qualquer acesso ao lazer comum, como um castigo permanente de quando seus pais te privam da tecnologia ou de sair de casa com seus amigos, porque você fez algo muito errado, que não deveria fazer. Bem... Essa é a Gray Scott, bem vindo ao inferno particular de qualquer adolescente.

Bell e eu tínhamos nossos próprios celulares fora daqui, quando estávamos de férias em casa. Nossa mãe sempre foi do tipo ranzinza e implicava direto com nossos aparelhos, ela implicava tanto ao ponto de sempre trocar nossos chips quando estávamos em casa, nunca compreendi muito bem o porquê da paranoia dela com nossos chips, mas também nunca ousei questioná-la sobre o assunto, pois não queria irritá-la.

Nossa mãe fica assustadora quando está irritada.

A verdade é que quando voltávamos das férias de verão para a Gray Scott, Bell e eu entravamos em um tipo de abstinência tecnológica e de liberdade, ficando completamente inquietos e ansiosos, como um dependente químico longe de sua droga. Mas depois de algumas semanas a abstinência passava e voltávamos aceitar nosso triste destino sem nossos aparelhos celular.

Nunca havia passado pela minha cabeça comprar um celular nas mãos de Derek, enquanto estava ali como todos inclusive Molly faziam, pois primeiro que: era muito caro e segundo que: não tinha dinheiro para aquilo. Porém, com meus dois trabalhos, um na oficina do Sr. Garry (que não fez objeção nenhuma em ter uma garota como sua auxiliar em sua oficina) e outro durante a noite, de madrugada e nos fins de semana no John Davi's — que era uma lanchonete que ficava aberta vinte e quatro horas por sete dias da semana.

Nessas últimas férias de verão, fiquei totalmente exausta, com olheiras gingantes e bem escuras abaixo dos meus olhos resultado de noites mal dormidas e poucas horas de sono. Meu corpo estava completamente mole e implorava por descanso, mas não podia me dar esse privilégio, pois precisava de dinheiro e muito dinheiro, principalmente agora que Bell e eu estávamos no nosso último ano e logo nos formaríamos sem sequer ir para uma faculdade descente. Bell também havia trabalhado nas férias de verão, também como auxiliar do Sr. Garry e fazendo alguns bicos curtos, como passear com cachorros e cortar a grama das casas do nosso bairro.