Ready for Love | Noalin

8. angels

JOALIN

O barulho de pedras de cascalho batendo no vidro da minha janela me despertou. Não era um barulho tão alto, mas foi o suficiente pra me fazer levantar da cama e me perguntar o que tava acontecendo. Assim que abri a janela e me debrucei sobre o parapeito molhado, vi Heyoon lá embaixo no corredor que dividia a minha casa e a de Noah. Ela segurava algumas pedrinhas pronta pra arremessar a próxima, mas parou assim que me viu.

- Finalmente! - ela dizia aliviada.

- O que é isso?

- Desce logo. A gente tá te esperando.

- Do que você tá falando? - eu tava a cada segundo mais confusa.

- Anda Joalin!!!! - ela disse antes de sair correndo até a calçada da frente de casa. Mesmo sem entender eu só fiz o que ela pediu. Vesti uma blusa de moletom, calcei meu tênis e antes de sair do quarto parei por um instante na frente do espelho. Isso não era uma memória. Nem um sonho. Era tudo vívido demais, como se tivesse acontecendo totalmente fora do meu inconsciente. Eu não tinha 17 anos, e percebi isso ao conseguir enxergar no topo da minha mão uma pequena cicatriz que ganhei ano passado numa festa da faculdade. Mas eu tava no meu quarto antigo, na minha cidade natal, e nada ali havia mudado. A decoração era a mesma, os pôsteres tavam pendurados e o toca-fitas tava pausado com a 8-track que eu tava fazendo pro Noah. Então o que era isso?

Em poucos segundos e sob a ponta dos pés eu desci as escadas e silenciosamente abri a porta. Parecia que era madrugada, mas o céu tava completamente colorido como nunca antes. Uma mistura de rosa, laranja, roxo e verde inundava as nuvens ao mesmo tempo em que diversas estrelas se escondiam lá no alto. Heyoon me esperava em cima de uma bicicleta, segurando outra com a mão enquanto me chamava.

- Anda.

- Você quer me dizer o que tá acontecendo?

- Como assim? - ela me olhava subir na bicicleta, se preparando pra começar a pedalar.

- Por quê a gente tá aqui?

- Estamos indo até eles.

- Eles quem?

- Joalin... - ela deu uma risada, soando um pouco entretida com as minhas perguntas. - Você não precisa entender agora.

- Mas isso é um sonho, certo?

- O que você acha? - ela me deixou ainda mais perdida. Antes de eu perguntar qualquer outra coisa, ela começou a pedalar e disparou na minha frente sem dizer nada, então eu apenas a segui. Eu sentia uma pequena dor na minha perna esquerda, como se alguma coisa lá dentro do meu músculo fosse puxada a cada movimento que eu fazia. Mas em poucos segundos ela foi se dissipando e eu nem me lembrei mais dela. Nós duas pedalamos em silêncio por diversas ruas, todas completamente desertas. Era estranho, mas eu tinha a impressão que a cidade toda tava sem vida exceto por nós duas. Um bom tempo depois e quando eu já tava começando a me cansar, Heyoon foi desacelerando até chegarmos naquele lugar que era tão familiar. A quadra de basquete. Eu senti um pequeno arrepio bem nostálgico, e mesmo confusa com o que tava acontecendo, eu sorria. Assim que nos aproximamos e descemos das bicicletas, eu conseguia ouvir algumas risadas e vozes gritando até finalmente ver Bailey e Sabina correndo pela quadra e brigando pela bola. Sofya tava sentada na arquibancada, dando gargalhadas enquanto observava os dois.

- Pronto, achei ela. - Heyoon disse invadindo o jogo e pegando a bola das mãos de Bailey, correndo junto com eles e a arremessando na cesta.

- Finalmente, Jo. - ele sorria.

- O que é isso? - eu ainda tava confusa, me sentindo como se todos eles tivessem combinado alguma coisa e esqueceram de me contar.

- Isso o quê? Estamos jogando. - ele riu chegando bem perto de mim. Ao se aproximar, ele levou a mão até o topo da minha cabeça, tirando alguma coisa que tava no meio dos meus fios de cabelo e a jogando no chão. O barulho me lembrava um pequeno caco de vidro. Mas por quê teria um caco de vidro no meu cabelo?