Ready for Love | Noalin

4. torn

JOALIN

Eu nunca havia visto Noah tão animado. Assim que me contou sobre a turnê da Chump Change e o álbum que finalmente gravariam, nós não falávamos de outra coisa. Ele tava a todo momento pensando nas cidades que visitaria, nas músicas que eles escreveram há algum tempo e que logo lançariam e nas novas pessoas que conheceriam a banda. Meu coração transbordava de orgulho e ânimo por tudo isso, e era difícil admitir pra mim mesma que no fundo algo me preocupava. As suas expectativas tavam tão altas que eu tinha medo de qualquer coisa destruir isso. Eu tinha medo de ele se deparar com algo que o desanimasse e o fizesse comparar a realidade de tocar para um pequeno público universitário com a realidade de tocar em outros estados para um público totalmente desconhecido. Mas eu confio em Noah. Confio no seu talento e na sua dedicação, e sei que todo o seu esforço valerá a pena.

As seguintes semanas foram bem corridas. Um dos festivais de dança mais importantes do leste do país aconteceu em Washington esse ano, e eu preparei duas turmas minhas para se apresentarem nas categorias juvenis. Nós treinamos todo os dias de manhã e à noite, repassando coreografias e sequências sem parar por horas seguidas. Foi muito cansativo e puxado, mas no fim fomos premiados em terceiro lugar na categoria de break dance, o que rendeu a horas e horas de comemorações. Heyoon também competiu com sua turma na categoria advanced teens, e eles ficaram em segundo lugar. O festival durou por quatro longos dias, nos quais nós duas passamos exatamente todos os momentos juntas. Eu nunca me cansaria da sua companhia, mesmo em momentos estressantes como os minutos anteriores à apresentação mais importante da minha carreira de professora.

Noah passava o dia inteiro no estúdio. A gente mal se viu nessas últimas semanas. Na maioria das vezes ele chegava em casa só de madrugada quando eu já tava dormindo, ou eu chegava e ele tava desmaiado no sofá embaixo de vários papéis de planejamento da turnê. Era difícil vê-lo nessa correria, e apesar de saber que ele esperou a vida inteira por isso, as poucas vezes que nos encontramos me fizeram perceber que parto do seu ânimo passou e ele tava agora numa pilha de nervos. Não era tarefa fácil gravar um álbum completo e planejar uma turnê por 50 estados em um prazo de menos de um mês, e seu perfeccionismo lhe tirava noites seguidas de sono.

Assim que o festival terminou eu comecei a me preparar para nossa viagem à Nova York, que havia combinado com Bailey e Sabina há alguns meses. Eu tava tão animada pra essa viagem que comecei a arrumar a minha mala duas semanas atrás. A tempestade que batia nas janelas do apartamento não conseguia abafar o CD do Oasis que estalava no estéreo do nosso quarto enquanto eu terminava de organizar as coisas da viagem. Terminei de dobrar todas as roupas que usaria tentando separá-las pela quantidade de dias que ficaríamos lá, mas era impossível não levar quase tudo do meu guarda-roupa. Basicamente todos os meus casacos e todos os meus jeans teriam que caber dentro dessa mala.

- O que é isso? - a voz de Noah surgiu do nada na porta do quarto e eu pulei de susto.

- Caramba. - eu dizia com a mão no meu peito, sentindo meu coração acelerar. A música tava bem alta e junto com a chuva eu não consegui ouvir ele chegando. - Você me assustou. - eu disse rindo, observando seu semblante um pouco irritado.

- O que você tá fazendo?

- Terminando de arrumar a minha mala. - eu me levantei, me aproximando. Ele desligou o som. - Você tá bem?

- Sim.

- Tem certeza?

- O que é, Joalin? - ele disse num tom seco, me surpreendendo.

- Nada. Me desculpa... É... Eu vou terminar de arrumar as coisas. - eu disse parando no meio do caminho, tentando evitar que ele se irritasse mais. - Se você quiser ajuda pra arrumar suas coisas, eu posso começar a separar as roupas que quer levar... Eu acredito que vai fazer frio, nunca se sabe como é o tempo em Nova York. E a Sabi me ligou e disse que tem chance de nevasca, então temos que ter cuidado com isso...