11. barely breathing

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JOALIN

Meus olhos demoraram a se acostumar com as luzes claras que me rodeavam. Foi como se eu tivesse sido atingida por um choque que me trouxe de volta à realidade. Meu corpo ao mesmo tempo em que tava dormente, sentia todas as coisas ao mesmo tempo, e eu ia reconhecendo cada dor de uma vez. A maior delas vinha das minhas pernas, mas eu ainda não sabia o porquê. Minha mão segurava outra mão, que era quente e familiar como eu esperava. E mesmo sentindo o clima e o cheiro de um quarto de hospital inundado de máquinas e aparelhos que me mantinham viva, outra coisa ali me dava vida. E era ele.

Assim que meus olhos se abriram por completo e eu percebi onde estava, fui recuperando aos poucos todos meus sentidos. Eu escutava cada bipe bem mais alto e mais claro agora, e finalmente reconhecia de onde a música vinha. The Outfield cantava a nossa canção quando ele surgiu no meu campo de visão, se levantando e sorrindo pra mim. Noah esboçava toda emoção possível, e repetia meu nome como um mantra. Ele ainda segurava minha mão e eu sentia uma dor pequena no meu antebraço que se ergueu junto com o dele, mas eu não me importava. Em menos de um minuto o quarto já não era mais o mesmo. Minha mãe se aproximou chorando mais do que eu nunca tinha visto antes, e uma dezena de médicos me rodeavam conferindo todos meus sinais vitais. Eu ouvia diversas vozes preocupadas e agitadas no fundo, mas meu cérebro só se preocupava com a música que tocava baixinha no canto do quarto.

As horas iam se passando e eu conseguia aos poucos movimentar partes do meu corpo, mas a dor que eu sentia nas minhas pernas quando os efeitos dos remédios passavam me deixavam zonza e me desesperavam um pouco. Eu não sabia o que esperar, porque meu maior medo era agora uma possibilidade bem próxima. Encarar aquele ferro enorme saindo da minha canela não era legal pra mim, e muito menos para Noah. Eu conseguia ver no seu rosto que ele tentava imaginar a minha dor, mas ele provavelmente nunca sentiria isso. Era como se mil facas e parafusos tivessem entrando nos meus ossos a todo instante e essa sensação não passava, mesmo com a morfina correndo no meu sangue o tempo inteiro. Ele não deixava meu lado a nenhum momento. Diversos médicos e enfermeiras entravam e saíam, assim como minha mãe e meu padrasto, meu irmão, Krys, Hina, Shivani, Diarra, Any, Lamar e Sina. Mas Noah ficava ali o tempo todo. Eu conseguia perceber que ele tentava agir como se tudo tivesse normal, e como se eu não tivesse correndo o risco de nunca mais andar novamente. Mas eu sabia que ele fazia isso por mim, para me deixar menos preocupava do que eu já tava. E funcionava um pouco. Ele conseguia me distrair bastante.

A primeira noite foi a mais dolorida de todas. Eu não conseguia dormir por mais de trinta minutos seguidos, pois a dor martelava cada vez mais forte quando eu adormecida. Os fortes choques agonizantes me davam pequenos espasmos e às vezes até gritos, que Noah já tava alerta antes mesmo de eu perceber. Ele não precisava buscar minha mão para me confortar, pois ele não a soltava nunca.

- Ei. - eu sussurrei quando a luz do dia começava a quase surgir na janela do quarto. Eu já tava cansada de insistir em tentar dormir e ele cochilava na poltrona ao lado, todo desengonçado. Ele despertou em um susto, provavelmente com medo de algum novo desastre ou grito de dor. Mas assim que eu sorri, ele se respirou aliviado. - Deita aqui.

- Acho que não devia. Ou não posso.

- Anda logo. - eu tentei me arredar um pouco pro canto, e no minúsculo espaço que sobrava na cama ele se encaixou de alguma forma, desviando dos diversos fios que ainda me conectavam à alguma coisa. Sua cabeça se deitou ao lado da minha no travesseiro e ele afundou seu rosto no meu pescoço, e seu suspiro de alívio me fez perceber que faziam muitos dias desde que ele não dormia de maneira decente. Seu cheiro ainda me confortava, e seu calor me fazia sentir tão segura e tranquila.

- Joalin.

- Hm? - eu tentei virar pelo menos a cabeça na sua direção, já que meu corpo tava imobilizado por causa de ferros e fios e curativos. Minha bochecha tocava o canto do seu rosto.

Ready for Love | NoalinOnde histórias criam vida. Descubra agora