CAPÍTULO 1

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Eu olhava pela janela do táxi pela última vez o meu apartamento, na zona Norte do Rio de Janeiro que eu acabara de vender. Vendi para uma senhora viúva que sempre carregava um pequeno poodle em uma guia. Cobrei pouco, pois, além de pegar certa intimidade com a anciã, eu acabara de fechar um negócio por skype. Estava indo ao aeroporto para pegar o avião que ia para São Paulo. Eu tenho 20 anos e a algum tempo fiz curso técnico de informática, mais especificamente animação e edição de vídeo. Criei uma página no instagram, com partes de edições de vídeos que eu fizera para youtubers famosos, como forma de mostrar meu trabalho. Eu editava um ou dois vídeos, e depois nunca mais tinha nehuma forma de contato com a
pessoa.
Porém, dessa vez foi diferente... ao ver minha página do instagram, certo youtuber agradou- se do meu trabalho e me contactou pelo direct. Conversamos por aproximadamente um ano, até que ele me ofereceu um contrato de seis meses em que eu editaria os vídeos dele, por um preço mensal que me ajudaria bastante. Fechamos negócio pelo skype e ele se ofereceu para pagar minha passagem para São Paulo. Rafael Lange era o nome dele, e ele até era bonitinho, mas eu lidei com tanta gente sem personalidade nesse meio que eu achei que ele iria ser mais um cuzão, só que por mais tempo comigo. Quase recusei a proposta por causa desse meu dilema, pois eu não iria pensar duas vezes em virar a minha mão na cara dele se ele fosse rude comigo.
Eu estava sendo hipócrita em aceitar a proposta, pois só o nome de usuário do instagram "cellbitos" me remetia a um biscoito barato vendido em mercearias. Mas a sensação de sair da zona de conforto e me mudar para São Paulo, além do salário razoável que o tal Cellbit pagaria parecia tentador.
Eram umas 20:00 quando cheguei a São Paulo. Olhei para os lados, para me certificar que Rafael Lange não estava me esperando, então me dirigi à saída do aeroporto, avistei um táxi e logo quando entrei, senti uma resistência ao tentar fechar a porta do carro. Era Rafael, segurando- a. Em seguida ele entra, informa o endereço ao taxista.
- É por minha conta. - diz sorrindo, enquanto estendia a sua mão, esperando que eu correspondesse - Afinal, sou eu, o Cellbit.
- Ah, oi! - observei que eu estava distraída, e com pressa correspondi o aperto de mão. Admito que ele é bonito de verdade, além de aparentar ser muito mais simpático do que a maioria dos youtubers - Sou Débora... Prazer em te conhecer finalmente.
Os olhos deles eram absurdamente azuis, mesmo no escuro da noite.
- É sua primeira vez aqui? - indaga ele
- Acho que sim - respondo. Ele ri com a minha resposta indecisa.

• • •

O táxi estacionou em frente a um condomínio de classe média - alta, e Rafael sai do carro rapidamente e abre a porta para eu sair "que cavalheiro"- pensei. A gente pegou um elevador, e em todo o percurso ele digitou no seu celular sem dizer uma palavra. "Talvez ele seja um otário como todos mesmo", pensei enquanto balancei a cabeça negando, em tom de reprovação. Então o elevador chega ao sétimo andar, e quando a porta se abre, saímos.
- Aqui não parece um hotel. - falei enquanto olhava à minha volta, com certo tom de ironia, já que o combinado é que eu ficaria em um hotel até alugar uma casa ou apartamento.
- Ah, é verdade, esqueci de falar, desculpe. Não consegui fazer a reserva no hotel daqui de perto, por causa da temporada de Natal. Se você se hospedasse no outro lado da cidade ia ser inviável. - lamenta ele.
- E daí? - respondi com certa grosseria.
- Então... - hesitou após minha reação - você se importaria de passar os primeiros dias no meu apartamento? Tem mais de um quarto, e o seu vai ter tranca... Se não se importar.
Sinalizei que sim com a cabeça. O que eu iria dizer? Ele quebrou o combinado, mas se eu não ficasse no apartamento eu teria que dormir na rua. Fazer o que?
Ao chegarmos ao apartamento 703, Rafael tira do bolso um molho de chaves, e percebi que ele estava nervoso com a minha reação. Ele estava corado, e um pouco nervoso, imagino. Fui grossa demais. Desculpa. Revirei os olhos e logo ele deixa as chaves caírem.
- Caralho! - esbravejou ele- Desculpe.
- Tudo bem. - abaixei para pegar as chaves para ele- Toma.
- Obrigado. - ele ri tímido, dou de ombros.

editora de vídeo | rafael langeOnde histórias criam vida. Descubra agora