CAPÍTULO 10

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PERSPECTIVA DE DÉBORA.

       Quando acordei, mal abri os olhos, e senti um leve incômodo em meu pescoço. Me dei conta que eu estava dormindo sobre o peito de Rafael quando senti uma de suas mãos em minha cabeça. Eu estava com a boca seca, queria beber água. Mas eu não queria sair dali. Minha tristeza se atenuou levemente. Fiquei ali por mais cinco ou seis minutos, apenas sentindo seu cheiro e ouvindo sua calma respiração, e então me levantei devagar. Tirei com calma sua mão de mim, segurei-a por um segundo e, em seguida, posicionei-a em seu tórax. Saí e me dirigi à cozinha para tomar uma água. Me debrucei na bancada, e segurei o copo com as duas mãos. Fiquei ali alguns longos minutos, chorei baixinho, depois parei. Eredin chegou, e olhou fixamente para mim, com uma carinha de quem diz "Não importa o que aconteça, estarei aqui". Peguei-o no colo, fiz um cafuné nele, depois desci ele, que ficou sentado ao meu lado me olhando. Retornei à posição original.

PERSPECTIVA DE RAFAEL

       Quando abri os olhos, vi que Débora não estava mais ali. Levantei-me devagar da cama e me dirigi à cozinha. Quando olhei, ela estava debruçada na bancada, de costas para mim.
       - Como está se sentindo? - digo, enquanto dou a volta pela bancada e me debruço na mesma, assim como Débora estava.
      - Melhor. - disse ela, levantando os olhos do copo e olhando para mim.
       Não sabia o que dizer a ela, mas olhei em seus olhos, que estavam vermelhos, tentando passar a mensagem de que estaria com ela, não importa o que acontecesse. Ela sorriu levemente, e desviou o olhar, e eu também fiz o mesmo. Vi que Eredin estava ao lado dela. "Bom garoto". Dei a volta, peguei o cachorro no colo e fiquei bem próximo à ela. Coloquei-o na bancada, ficando de frente pra ela, olhando nos seus olhos. Ela fez o mesmo.

PERSPECTIVA DE DÉBORA

       Ele estava à minha frente, sem dizer nada. Queria demonstrar solidariedade. Se aproximou lentamente. Agora eu estava entre ele e a bancada, e então Rafael colocou Eredin em cima da bancada. Deixando uma de suas mãos apoiadas ali. Estávamos tão próximos e, quando fomos nos abraçar, sem querer, levei meu rosto para a mesma direção do dele, e quase encostamos as bocas. Minha respiração ficou ofegante. Eu olhava para seus olhos azuis que, a uns três centímetros dos meus, olhava para minha boca. Estávamos tão próximos que conseguia sentir o calor de sua respiração. Ele colocou uma das mãos em minha cintura, enquanto a outra permanecia apoiada sobre a bancada. Consegui esquecer todo o mundo a minha volta. Todos os meus problemas. Eu queria chegar para trás, mas havia a bancada que me atrapalhara. Apoiei as mãos no móvel, e uma delas se encontrou com a dele.

PERSPECTIVA DE RAFAEL

       Estávamos muito perto um do outro. Nos olhávamos de tal forma que eu quase podia ver o que ela vê. Sentir o que ela sente. Conseguia ver que suas pupilas estavam dilatadas, assim como as minhas (creio eu). Meu rosto estava quente, me fazendo perceber que estava corado. Cada segundo parecia levar horas, cada centímetro de sua boca pareciam quilômetros. Era óbvio que eu estava atraído por ela, e por enquanto, ela parecia sentir o mesmo. Minhas costas estavam suando, e quando senti a mão dela encontrar a minha, meu coração disparou. Até que senti meu rosto ficar molhado. "Estou suando tanto assim?" Depois vi que tinha algo de errado. O cheiro de Eredin começou a ficar forte.
        Até que percebi que era meu cachorro lambendo meu rosto. Ele ficou o tempo todo em cima da bancada. Voltei ao mundo real, quando senti a terceira ou quarta lambida. Meu cachorro conseguiu acabar com tudo.
       - Lo... Lobinho? - sussurrei, tentando espantar ele.
       Mas estava tudo perdido. Débora riu e passou a mão na cabeça dele. Filho da puta. Em seguida, olhamos para baixo, ainda meio desconcertados. Débora colocou o cabelo atrás da orelha, enquanto eu saía da frente dela, mantendo minha mão esquerda apoiada na bancada. Ela se virou e debruçou na bancada, do jeito como estava quando eu cheguei. Eu falei para ela que iria enviar um outro vídeo a ela, como forma de tentar mudar de assunto, esquecer o que aconteceu. Apesar de eu não querer deixar pra lá. Saí, e o meu cachorro me seguiu, feliz.
       -Obrigado, hein cara! - sussurrei pra ele - Ainda te mato.

PERSPECTIVA DE DÉBORA.

       Quando olhei por cima do ombro, vi que Rafael tinha saído. Não acredito que quase aconteceu. Sorri ao lembrar dos segundos de clima, antes de serem arruinados por Eredin. Ri baixo ao lembrar do cachorro lambendo Rafael.

editora de vídeo | rafael langeOnde histórias criam vida. Descubra agora