CAPÍTULO 28

1.1K 92 60
                                    

   Eram 00:00, e faltavam sete horas para eu partir. Estava eu arrumando minhas malas, então olhei debaixo da cama, e vi que lá estava minha blusa da AC/DC que tanto procurava. Quando a peguei, vi que tinha um buraco nela. Eredin. Sorri, ao lembrar de quando ele levou meu cobertor para a sala, a primeira vez que o
vi.

   Me abaixei ao chão e assobiei. Lobinho veio correndo  e deslizando pelo chão liso até mim. Fiz cafuné nele e o beijei na cabeça. Ele me lambeu, como se soubesse que eu estava triste.

   — Vou sentir sua falta, rapaz. — digo eu para o cachorro enquanto o acaricio. E então Rafael chega também — Vou sentir sua falta também, meu outro cachorro.

   Rafael riu. Se abaixou e também fez carinho em Eredin. Nos sentamos no chão e ficamos apenas conversando e acariciando o cachorro até a madrugada.

   Então, dolorosamente, chegou a hora em que Rafael me levaria ao aeroporto, para finalmente voltar ao Rio de Janeiro. Eu não tinha palavras, e ele também parecia que não tinha. Esperamos três horas e meia no aeroporto, e eu me escorei nele, que envolveu seu braço em mim e acariciou meus cabelos.

   — Eu te amo, Débora. — disse ele.

   Essas palavras foram como uma facada no meu coração, então não resisti e chorei copiosa e silenciosamente.

   — Eu também te amo, Rafa.

   Enquanto ele beijava minha cabeça, recebemos o aviso que dizia que meu vôo chegara. Ele me cutucou e nos levantamos vagarosamente das cadeiras do aeroporto. Andamos alguns metros, e no final, nos viramos um para o outro.

   — Não estou pronto ainda, sabia? — disse ele
com os olhos vermelhos.

   — Nenhum de nós estávamos.

   Rafael me puxou para um abraço forte. Chorávamos silenciosamente, quando ele disse:

   — Eu queria casar com você.

   Soltei-me do abraço e olhei com estranheza para ele.

   — Que? — digo, secando as lágrimas.

   — Se eu pudesse, me casaria com você. — disse novamente, com convicção— Passaria o resto da minha vida com você.

   Quando finalmente abri a boca para dizer algo, a última chamada para entrar no vôo me calou. O abracei novamente e me afastei andando de trás, como um caranguejo, para aproveitar meus últimos segundos olhando para ele, até que não consegui mais ver ele por causa da multidão. Me virei para o lado de fora e acelerei para entrar no avião.

   Chorei silenciosamente por quase toda a viagem, até a hora que adormeci. Quando estava em um sono leve, pousamos.
      
                                          • • •

   — Mãe! Joana! Aqui! — disse eu, acenando para elas quando as vi.

   Elas se aproximaram de mim e me abraçaram forte. As duas perceberam meu abatimento e perguntaram se eu estava bem.

   — É a vida, não é? — digo.

   Conversamos por alguns minutos no aeroporto.

PERSPECTIVA DE JOANA

   Débora pediu para eu segurar seu celular enquanto pegava as malas.

    — Você está péssima. — digo. — Vocês estavam muito bem juntos.

   Débora revirou os olhos e disse que a vida não é como um conto de fadas idiota. Quando ela virou de costas para mim, percebi que sua camisa estava furada na lateral.

   — Foi pra guerra e nem me chamou? — digo, debochando e apontando para a fenda.

   Ela olhou para o furo e sorriu. Não sei como ela
ficou feliz com um rombo na camisa preferida dela, da AC/DC.

   — Foi o Lobinho. — disse ela, deixando uma lágrima rolar em seu rosto. Ela virou de costas para mim e se dirigiu para a saída do aeroporto junto com sua mãe. As segui.

   Só que o celular de Débora vibrou em minhas mãos. Parei para olhar, e lá estava uma notificação de seu app empresarial: "Seu contrato com Rafael Lange Severino foi extendido para mais dois anos." E embaixo estava uma
mensagem do Cellbit "te dei um tempinho de férias, daqui a um mês quero você aqui de novo para editar meus vídeos."

   Arregalei meus olhos, e vi que Débora e sua mãe já estavam a uma certa distância de mim, então não tive outra opção a não ser berrar:

   — CACETE, DÉBORA VOLTA AQUI E OLHA ESSA MERDA!

editora de vídeo | rafael langeOnde histórias criam vida. Descubra agora