Eram 00:00, e faltavam sete horas para eu partir. Estava eu arrumando minhas malas, então olhei debaixo da cama, e vi que lá estava minha blusa da AC/DC que tanto procurava. Quando a peguei, vi que tinha um buraco nela. Eredin. Sorri, ao lembrar de quando ele levou meu cobertor para a sala, a primeira vez que o
vi.Me abaixei ao chão e assobiei. Lobinho veio correndo e deslizando pelo chão liso até mim. Fiz cafuné nele e o beijei na cabeça. Ele me lambeu, como se soubesse que eu estava triste.
— Vou sentir sua falta, rapaz. — digo eu para o cachorro enquanto o acaricio. E então Rafael chega também — Vou sentir sua falta também, meu outro cachorro.
Rafael riu. Se abaixou e também fez carinho em Eredin. Nos sentamos no chão e ficamos apenas conversando e acariciando o cachorro até a madrugada.
Então, dolorosamente, chegou a hora em que Rafael me levaria ao aeroporto, para finalmente voltar ao Rio de Janeiro. Eu não tinha palavras, e ele também parecia que não tinha. Esperamos três horas e meia no aeroporto, e eu me escorei nele, que envolveu seu braço em mim e acariciou meus cabelos.
— Eu te amo, Débora. — disse ele.
Essas palavras foram como uma facada no meu coração, então não resisti e chorei copiosa e silenciosamente.
— Eu também te amo, Rafa.
Enquanto ele beijava minha cabeça, recebemos o aviso que dizia que meu vôo chegara. Ele me cutucou e nos levantamos vagarosamente das cadeiras do aeroporto. Andamos alguns metros, e no final, nos viramos um para o outro.
— Não estou pronto ainda, sabia? — disse ele
com os olhos vermelhos.— Nenhum de nós estávamos.
Rafael me puxou para um abraço forte. Chorávamos silenciosamente, quando ele disse:
— Eu queria casar com você.
Soltei-me do abraço e olhei com estranheza para ele.
— Que? — digo, secando as lágrimas.
— Se eu pudesse, me casaria com você. — disse novamente, com convicção— Passaria o resto da minha vida com você.
Quando finalmente abri a boca para dizer algo, a última chamada para entrar no vôo me calou. O abracei novamente e me afastei andando de trás, como um caranguejo, para aproveitar meus últimos segundos olhando para ele, até que não consegui mais ver ele por causa da multidão. Me virei para o lado de fora e acelerei para entrar no avião.
Chorei silenciosamente por quase toda a viagem, até a hora que adormeci. Quando estava em um sono leve, pousamos.
• • •— Mãe! Joana! Aqui! — disse eu, acenando para elas quando as vi.
Elas se aproximaram de mim e me abraçaram forte. As duas perceberam meu abatimento e perguntaram se eu estava bem.
— É a vida, não é? — digo.
Conversamos por alguns minutos no aeroporto.
PERSPECTIVA DE JOANA
Débora pediu para eu segurar seu celular enquanto pegava as malas.
— Você está péssima. — digo. — Vocês estavam muito bem juntos.
Débora revirou os olhos e disse que a vida não é como um conto de fadas idiota. Quando ela virou de costas para mim, percebi que sua camisa estava furada na lateral.
— Foi pra guerra e nem me chamou? — digo, debochando e apontando para a fenda.
Ela olhou para o furo e sorriu. Não sei como ela
ficou feliz com um rombo na camisa preferida dela, da AC/DC.— Foi o Lobinho. — disse ela, deixando uma lágrima rolar em seu rosto. Ela virou de costas para mim e se dirigiu para a saída do aeroporto junto com sua mãe. As segui.
Só que o celular de Débora vibrou em minhas mãos. Parei para olhar, e lá estava uma notificação de seu app empresarial: "Seu contrato com Rafael Lange Severino foi extendido para mais dois anos." E embaixo estava uma
mensagem do Cellbit "te dei um tempinho de férias, daqui a um mês quero você aqui de novo para editar meus vídeos."Arregalei meus olhos, e vi que Débora e sua mãe já estavam a uma certa distância de mim, então não tive outra opção a não ser berrar:
— CACETE, DÉBORA VOLTA AQUI E OLHA ESSA MERDA!
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editora de vídeo | rafael lange
Fanfiction• classificação: 16+ • onde Débora se muda pra São Paulo para editar vídeos para o Cellbit em um contrato de alguns meses... tudo pode acontecer, né?