CAPÍTULO 24

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PERSPECTIVA DE RAFAEL
Já eram quase 20:00, e ainda estávamos na rua. Demos um espaço para Joana e Marcos irem aonde quiserem, e a esse ponto, não sabíamos onde eles estavam mais.
  Sentamos na areia da praia, e Débora repousou sua cabeça em meu ombro, e eu envolvi meu braço nela e beijei seus cabelos. Sorri espontaneamente.
  Nos permitimos nos abrir um para o outro em uma conversa em tom baixo. Uma dúvida cruel ardia em meu peito, então me permiti perguntar:
  - Já teve alguém aqui? - digo rapidamente.
  Débora levanta sua cabeça e olha pra mim, franzindo seu cenho.
  - Como assim? - diz ela, rindo.
  - Ah. Você sabe. - digo, já nervoso - Um outro cara.
  Ela balança a cabeça negando.
  - Nada sério. Com uma pessoa.
  Me virei para ela, sinalizando para ela continuar contando. Ela ri, e percebo sua relutância em dizer. Abaixou a cabeça, enquanto desenhava na areia.
  - Foi em uma época conturbada. - disse ela entre um suspiro - Quando a única pessoa que me ajudava mesmo era esse cara. Só que descobri que ele era um babaca, metido a traficante. Me afastei dele, mas de vez em quando ele ainda me enche o saco. — ela riu em um tom mau e de desprezo, e o ódio era nítido em seus olhos de tal forma que se esse cara estivesse aqui e agora, ela poderia mata-lo sem menor esforço, era um lado que nunca vira em Débora até então.
  — Ele foi tão ruim pra você assim? - digo, ao reparar no ódio.
  Ela levantou os olhos para mim e deu de ombros.
  — Tenho um pouco de raiva de maconheiro.
                                      •••
PERSPECTIVA DE DÉBORA
  Esperávamos o sinal fechar para nós podermos passar pela movimentada avenida. Atravessamos rapidamente, e ao chegarmos do outro lado, ouvimos uma voz atrás da gente dizer em um tom malicioso:
  — Que gostosa, hein? - a voz estava embriagada.
  Abaixei a cabeça ao ter certeza que essa cantada era pra mim. Rafael, por sua vez, olhou para trás antes de se virar completamente para o homem.
  — Deixa quieto, Rafa. — digo, segurando-o pelo braço na tentativa de impedir uma briga — Isso acontece sempre.
  — Não comigo aqui. — disse ele soltando o seu braço, andando em direção ao homem, que tinha aproximadamente 50 anos, e se arrastava em um andar cansado.
  Reviro os olhos, e não me aproximo dos dois. Consigo ouvir apenas umas frases em tom discreto e duro de Rafael, como "Você não está velho demais para ficar paquerando garotas como ela?" e "É melhor parar, cara." O homem, por sua vez, não guardou seus xingamentos em alto e bom som para Rafael:
  - Sai daqui, moleque escroto! - disse o homem empurrando o ombro de Rafael com uma das mãos, enquanto com a outra, segurava uma garrafa de cachaça- Garotinho filho de uma puta!
  Rafael deu dois passos para trás para se equilibrar, e a esse ponto, corri para impedir que o pior aconteça.
  As gargalhadas histéricas do homem aumentaram quando Rafael se aproximava novamente, levantando o dedo no rosto do cara:
  — Eu estou respeitando você. - disse Rafael.
  Eu peguei Rafael por trás pela cintura, que olhou para mim, e eu lancei um olhar de "não precisa!".
  — Precisa de namoradinha pra se proteger? - disse o homem — Não se podia esperar mais de uma bichinha!
  Desta vez, eu perdi a paciência.
  Pisei duro em direção ao homem.
  — Escuta aqui, pela saco. - digo - Fica na moral aí, e deixa a gente em paz, tá ligado?
  Rafael toma a frente e me chama para ir embora, e obedeço, observando o homem calado.
  — Como conseguiu calar ele? - disse Rafael enquanto ríamos da situação.
  — Sei lá. - digo dando de ombros - Talvez muito tempo sendo criada na rua com moleques.

 

editora de vídeo | rafael langeOnde histórias criam vida. Descubra agora