Capítulo #5

7 0 0
                                    

Íris ficou em estado de choque. Não podia acreditar no que vira: Ana em pé na sua frente, com um lindo vestido azul-claro, fitando-a com olhar piedoso. A visão fastasmagórica a fez gritar automaticamente.

Ana desapareceu em seguida, deixando a dúvida na mente de Íris: 

Será que isso foi mesmo real?

As três amigas correram em seu auxílio. Perguntaram-lhe o que havia acontecido, mas ela não conseguia pronunciar nenhuma palavra. Elas acharam que havia sido um pesadelo, por isso apenas fizeram Íris sentar-se na cama e lhe deram água com açúcar. 

Três palavras dançavam com maldade pela mente de Íris, deixando-a quase em estado catatônico. Após vários minutos, seu coração desacelerou de leve e ela conseguiu lembrar-se de que podia falar. Pigarreou alguns segundos antes de finalmente conseguir dizer:

- Ana estava aqui.

As reações esperadas vieram:
- Quê?
- Como assim?
- Você não estava sonhando?

Íris ficou em silêncio, vendo e revendo a cena várias e várias vezes. Havia acontecido há menos de meia hora, mas por algum motivo a lembrança parecia distante. Depois de outro intervalo de tempo, ela começou a falar lenta e pausadamente, devido à respiração dificultada pela confusão mental e emocional:
- Eu já estava acordada há algum tempo. Tinha subido na cama para continuar a dormir. Mas não consegui pregar os olhos. Resolvi levantar para preparar um chá, e foi então que a vi. Ali - Ela apontou o lugar - bem ali, parada, olhando pra mim.
- E ela falou alguma coisa? - Perguntou Mari.

Íris precisou parar para pensar novamente. Esforçou-se lembrar detalhadamente, mas sua memória parecia não estar a fim de trabalhar, deixando apenas uma única imagem mental de Ana parada em pé, na sua frente.

- Não... ela só me olhava... e depois desapareceu! Ela parecia triste... - lágrimas escorreram livremente pelo rosto de Iris.
As três se entreolharam. Para Zozo, foi um sonho. Dê não sabia o que pensar. Mari sentiu calafrios; acreditava em cada palavra.

O olhar delas não passou despercebido por Íris. Ela ficou séria e  ponderou calmamente:

- Eu sei que tudo isso é uma loucura daquelas. Mas eu vi o que vi e não posso negar. Não vou admitir que foi um sonho porque não foi. Eu sei bem o que sonhei e foi bem diferente. Eu a vi. Ana estava aqui. Talvez ainda esteja.

E realmente estava. Bem ali, observando tudo, sedenta por participar da conversa.
Ela apareceu e desapareceu para Íris involuntariamente, e tentava repetir a proeza novamente para conversar e contar tudo para a melhor amiga.

Íris não dormiu mais, obviamente. Permaneceu atônita, olhando assustada para os lados perante o menor ruído. Depois de algum tempo, uma ficha caiu:

- Se eu a vi... é porque... ela... ela... - a garganta se fechou em um nó apertado. Íris não concluiu a frase. As palavras não saíam, o ar não entrava. Então explodiu em prantos e soluços incontroláveis. 

As três amigas estavam sem palavras. Choraram junto com Íris, a abraçaram. Nada que pudessem dizer ou fazer a faria se sentir melhor, então somente ficaram ali. Provando a amizade. Mostrando para Íris que todos os tantos "amigos" que ela tinha só a visitavam para as festas, juntos apenas no intuito de festejar e fazer parte de mais uma das histórias engraçadas de Íris. Suportar ela naquele estado era só para as amizades verdadeiras. 

Ana não abandonou a amiga também. Sentiu uma tristeza imensa, uma pontada no coração - se é tinha um sendo uma fantasma. Deu-se conta então de que não era o coração. Era a alma. O coração humano tinha uma ligação direta com a alma. Ela simplesmente soube disso sem saber explicar como possuía tal conhecimento, mas tinha total convicção de que era verdade. 

As lágrimas de Ana eram inexistentes, por mais que ela desejasse tê-las naquele momento. Não sabia como fazer a tristeza sair. Então resolveu gritar. 

Gritou com toda a força de sua garganta fantasmagórica. E, por incrível que pareça, o grito saiu. Imediatamente, os cães de toda a vizinhança começaram a latir; ouviu-se miados de gatos e o piar de uma coruja próxima.

O choro de Íris cessou. Um calafrio percorreu sua espinha. Até então estava com a cabeça repousando no colo da Mari, que acariciava seus cabelos. Levantou-se lentamente e olhou para as amigas, com o semblante sério. Todas haviam sentido o calafrio ao mesmo tempo.

Íris afirmou com toda a certeza que cabia dentro de si:

- Ela está aqui.

ExitusOnde histórias criam vida. Descubra agora