Prólogo

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A moça tremia. Mas não era de frio. Levou os olhos que tentavam não lacrimejar para alguém familiar: Seu pai. Ele a olhou com dureza, reafirmando tudo o que já haviam conversado antes, e abaixou o olhar, escondendo-se embaixo do capuz.

"Meena, será simples e rápido. Faça isso por sua família e prove seu valor!"

Meena encolheu-se e desviou o olhar. Havia chorado muito antes da hora, e pensou que isso seria suficiente para te dar forças.

Não foi, mas teria que ser. Pensou em sua mãe, que não podia estar ali. Ela era mulher mais forte que conhecia, e teria que tentar ser como ela. Apesar de seus 16 anos, decidiu que seria forte como uma mulher madura.

Respirou fundo diversas vezes. Sua mãe havia lhe ensinado isso. Realmente ajudava. Seu coração ficou mais leve e começou a bater de modo mais compassado, mesmo que ainda acelerado. Aquelas vestes cerimoniais de cor azul-claro, embora macias ao toque e leves, a deixavam desconfortável. As flores vermelhas e os ramos verdes que estavam trançados sobre sua cintura dobravam esse desconforto.

Dois sacerdotes começaram a andar em sua direção. Eles usavam vestes da cor vinho com  capuzes que escondiam o rosto. Cada um tinha um cinto de corda dourado amarrado na cintura.

Ela queria desesperadamente fugir, mas sabia que não podia. Muita coisa estava em jogo.

Cada um pegou em seu braço e a ergueu. Conduziram-na para o centro do anfiteatro do templo, onde estava um homem parado, usando vestes semelhantes à dos sacerdotes mas sem o capuz, empunhando uma faca em sua própria direção.

Ela queria dar uma última olhada nos olhos dele, mas não poderia. Ele estava concentrado em seu rito sagrado.

O primeiro sacerdote estendeu o braço direito de Meena, enquanto o segundo fez um corte profundo em seu pulso, enchendo uma taça dourada com o seu sangue, levando em seguida ao homem no centro e derramando sobre suas mãos, ainda empunhando firmemente a faca.

Ele começou a pronunciar palavras que fizeram a espinha dorsal de Meena gelar. Palavras que ela nunca compreendeu, com exceção da última.

A última pronunciada por ele.

Ele, então, a olhou. Isso não fazia parte do ritual. Ele deveria permanecer com os olhos fechados. Mas ele abriu. E olhou diretamente para ela. Meena percebeu que ele também tinha lágrimas nos olhos. Ela, então, deixou suas lágrimas correrem livremente. Não podia mais segurar. Mas ele não iria desistir do propósito que os fez estar ali.

A última palavra dele ficou em sua memória para sempre. Junto com o último movimento que fez, enterrando com rapidez e força a faca em seu próprio peito.

- Exitus!

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