14. Unbreakable

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— Alô? — pela primeira vez não hesitei em atender sua ligação, mesmo sabendo que não era para saber como estava ou dizer que sentia minha falta.

Mas eu ousei atender mesmo assim.

Bo-na, seu noivado será neste domingo, não se atrase. — sua voz áspera e séria quase não me dava brechas para intervir em sua ordem.

— Sabe que não aceitarei isso, não sabe? — resmunguei encarando os prédios do outro lado da cidade pela janela do cômodo em que estava, imaginando que provavelmente estaria naquela parte em alguns dias.

Não vou mais tolerar seus erros, seu tempo acabou.

— Está ameaçando sua própria filha?
— conseguia ainda nessa conversa desagradável enxergar certo humor na situação.

Minha filha nunca me desobedeceria.

Como de costume um silêncio pertubador se instalava entre nós. Não me importei em tentar ligar novamente para aquele número, sabia que seria ineficiente. Minha vida toda vem sendo ditada e guiada por meus progenitores, e, quando por um descuido deles desvio da linha áspera em que era suposto a mim estar sinto-me temporariamente dona de minha própria liberdade. Mas infelizmente não escolhemos nossos laços sanguíneos, por mais que tentasse fugir estaria sempre presa a isso, essa seria nossa única ligação.

Sonhar com uma vida longe de todos os meus problemas que nem sequer foram por minha culpa é exaustivo demais. E meu corpo agachado contra a parede parecia estar mais do que cansado daquela confusão.

— Bo-na? Bo-na!

Alguns minutos depois, meu melhor amigo adentrava meu pequeno recinto tentando me achar. Tinha deixado de lado suas chamadas e mensagens nos últimos dias, sem qualquer vontade de contato com outras pessoas, queria apenas afundar em meu próprio mundo, minimamente distante de minha realidade.

Eu não era inquebrável, e meus cacos espalhados representavam essa bagunça.

— Não chega perto de mim. — murmurei escondendo meu rosto que deveria estar todo borrado e úmido, como usualmente ficava após algumas discussões.

— Bo-na, não desista agora, por favor. — Ten se abaixou ao meu lado tentando levantar meu rosto com suas mãos, mas a vergonha que sentia de mim mesma era maior do que qualquer coisa que pudesse experimentar naquele momento.

— Por favor, faz isso parar. — levantei meu rosto sendo vencida por suas tentativas incansáveis de tentar me levantar. Minha voz se quebrava toda vez que pensava em falar, deixando espaço apenas para pudesse engolir o choro preso em minha garganta.

— Eu vou tentar, mas se não conseguir você pode me ajudar? — Ten parecia ter mais esperanças do que deveria quando fixou seu olhar ao meu.

— Como? — solucei irritada, passando exaustivamente as mãos em minhas bochechas quentes.

— Eu vou te pedir em casamento como planejado. — encarei-o confusa, sem saber o que exatamente planejava fazer com aquilo que nos era proposto.

— Ten. — Seus polegares continuavam a limpar gentilmente minhas bochechas antes do garoto a minha frente deixar um selar em minha testa com um pequeno sorriso, fazendo-me ter mais vontade de chorar por odiar vê-lo tendo que enfrentar essa situação comigo.

— Escuta. Você vai aceitar na frente de todo mundo, e depois eu vou... — pressionei minhas mãos em seu peitoral o afastando de mim, consequentemente interrompendo seu discurso.

Pelo jeito que agia já era possível suspeitar que seu plano para nós dois sairmos desse casamento não seria barato. Através de suas íris escuras compreendi que alguém se sacrificaria para acabar com aquele pesadelo.

E Ten parecia disposto a se entregar.

— Vai o que, Chittaphon? O que vai fazer? — questionei travando o desespero em minha voz.

Reprimir todas as emoções é exaustivo demais até para quem vem fazendo isso a vida toda. É verdade que não me importava de me sair bem diante as situações em que precisava sobreviver. No entanto, não era a mesma coisa quando alguém como Chittaphon pretendia aguentar o pior por mim. Não estávamos falando apenas de minha vida, eu não era a única destinada à forca do Império.

— Confia em mim. — sua voz suave apesar de aquecer meu coração ainda me preocupava o suficiente para eu o puxar pela manga de sua camisa quando fez menção de se levantar do chão onde estávamos abaixados.

— Ten, não me deixa... sozinha.

SHE KNOWS ↠ XiaojunOnde histórias criam vida. Descubra agora