34. Don't get caught

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Ten me deixou em meu apartamento após darmos algumas voltas pela cidade a fim de despistar quem estava nos seguindo. Ligamos os rastreadores de nossos celulares para facilitar nossa comunicação caso um de nós seja pego, e assim seguimos caminhos separados.

Agora, pela manhã, tentava encontrar a melhor roupa que me serviria confortávelmente em meu primeiro dia de trabalho após tanto tempo sofrendo para pagar meu aluguel à base de empréstimos.

— Boa tarde, Sr. Qian Kun. — cumprimentei formalmente o rapaz a minha frente, que além de ser mais velho agora também seria meu superior.

— Chegou mais cedo do que eu esperava. — sorriu abrindo a portinha que dava acesso à parte de trás do balcão. 

— Deveria chegar mais tarde? — questionei insegura sobre o que eu deveria fazer, considerando que era a minha primeira vez trabalhando em uma farmácia.

— Ah, não. Só não esperava que fosse aparecer agora.

— Hm, tudo bem. Como posso ajuda-lo?

— Aqui. — Qian Kun me entregou uma prancheta com uma lista enorme de itens disponíveis da loja, deixando com que eu suspirasse aliviada por não ser nada extraordinariamente difícil para uma novata.

— Ah, eu posso chama-lo somente de Kun? — indaguei voltando sua atenção à minha pergunta, deixando-o levemente pensativo sobre minha proposta.

— Tudo bem, Bo-na. Seremos bons amigos, certo? — sorriu gentilmente esticando seu punho fechado.

— Obrigada. — agradeci encostando nossos punhos, finalizando um pequeno toque de parceria.

Seria bom fazer amigos que ainda não conhecem minha vida inteira. De certa forma, era uma faca de dois gumes, considerando que eu também não sabia sobre sua origem e muito menos o porquê de parecer tão despreocupado trabalhando em uma pequena farmácia no centro da cidade enquanto deveria estar saindo com seus amigos ou estudando em alguma faculdade.

Talvez fosse o que ele quisesse para seu bem-estar. Afinal, é bem normal que os jovens nem sempre se interessem pelas expectativas que são impostas sobre eles. Não tenho certeza se seu caso é parecido com o meu, considerando que eu não esteja fazendo o que realmente queria por falta de oportunidades, mas de algum modo parecemos mais semelhantes do que aparentamos externamente.

— Bo-na, pode atender os próximos clientes? Preciso pegar algumas caixas no estoque. — Kun se esticou por entre as prateleiras que eu estava dando seu recado antes de pegar a prancheta de minhas mãos.

— Pode deixar. — assenti guardando minha caneta no bolso e me dirigindo para o balcão. Como já havia decorado praticamente todos os itens disponíveis na loja não me importei de me ocupar em atender os novos clientes.

— Melhoras à senhora, não esqueça de toma-lo todos os dias, ok? — sorri orgulhosa com a satisfação de minha primeira cliente ao conseguir seus remédios rapidamente.

— Não se preocupe, ficarei bem. Até mais, menina. — acenei em despedida algumas vezes depois que o sininho da porta indicou a mesma se fechando.

Como estava quase na hora prevista para o estabelecimento fechar, não dei importância à demora de Kun. Considerando que até agora parecia me sair muito bem em meu primeiro dia apenas encostei na parede de patreleiras de braços cruzados enquanto esperava o que poderiam ser os últimos clientes do dia terminarem de fazer suas compras.

— Hendery, acha que precisamos de tudo isso? — olhei curiosa para a direção que vinha a voz, sendo provavelmente dos dois garotos que haviam acabado de entrar e caminhavam entre as últimas prateleiras.

— Não tenho certeza, de qualquer forma não fará mal.

— Vamos logo, não quero receber sermão daqueles esnobes.

Assim que ambos entraram no meu campo de visão um pequeno flashback passou em minha mente. Não tinha certeza sobre suas verdadeiras identidades, mas se assemelhavam bastante ao que eu tinha guardado em minha memória daquele dia em que Xiaojun me impediu de atravessar a rua pois estava sendo perseguido por dois até então desconhecidos.

— Trouxe dinheiro? — um deles perguntou enquanto o outro vasculhava seu bolso antes de alcançar o balcão em que eu estava.

Sem pensar duas vezes, considerando a ausência de Kun, sabia que não deveria ser reconhecida em hipótese alguma. Esses garotos não parecem estar aqui a passeio, por mais que ainda não soubesse sobre sua relação com um dos herdeiros do conglomerado chinês no qual minha família estava envolvida, devia me manter em anônimo.

— Ele vai pagar. — murmurou o garoto de fios castanhos escuros após deixar a cestinha no balcão.

Apenas assenti com a cabeça evitando um possível contato visual. Com o boné tapando boa parte de meu rosto e uma máscara cobrindo minha boca e nariz me senti mais confortável para continuar fazendo o meu trabalho como se tudo estivesse em ordem.

— Ah, desculpa. Nós nos conhecemos de algum lugar?
— minhas mãos congelaram antes que eu pudesse pôr todos seus itens comprados dentro das sacolas. Respirei fundo várias vezes antes de levantar meu rosto encarando-o diretamente.

— Receio que não. — respondi agindo da maneira mais natural possível.

— Sabe que eu nunca esqueço um rosto culpado quando o vejo?

SHE KNOWS ↠ XiaojunOnde histórias criam vida. Descubra agora