28. It doesn't matter anymore

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— Está drogado? — indaguei encarando surpresa sua expressão divertida.

— Responda-me, por favor.

— Desde quando pede alguma coisa a alguém?

— Não quer que eu peça? — Xiaojun sorriu enquanto aproximava seu corpo em direção ao meu, afastando-nos das grades de proteção.

— Xiaojun, precisa parar de-

Nem mesmo tive o desprazer de continuar falando sobre suas ações inusitadas quando fui interrompida por mais uma delas. Não esperava que suas mãos quentes fossem se encaixar confortavelmente em minhas bochechas gélidas, deixando leves arrepios percorrem meu rosto conforme mexíamos nossas bocas em direções opostas. 

Apenas aproveitando o silêncio noturno, a fraca iluminação citadina e o farfalhar das folhas pela brisa cotidiana, tínhamos criado nosso próprio mundo dentro de uma pequena bolha que surgia toda vez que estávamos juntos. Um mundo único e singelo, na medida certa para nossos sonhos. 

— Sem cigarros hoje, ok? — Xiaojun notou que eu ainda segurava um cigarro de antes de sua chegada, fazendo-me joga-lo no cinzeiro perto de nossos pés, e daquela vez sem arrependimentos.

Acho que eu não precisava mais me preocupar em me intoxicar com maços baratos quando eu poderia facilmente esquecer esse antigo hábito com sua presença. 

— Costuma ser tão exigente assim? — questionei encarando suas pupilas dilatando-se conforme fechava suas pálpebras em um olhar semicerrado.

— Ah, posso ser às vezes, isso te incomoda? — Xiaojun escondeu seu riso puxando meu rosto em direção ao seu a tempo suficiente de eu poder entrelaçar meus braços ao redor de seu pescoço, deixando sorrisos confortáveis em nossas expressões.

— Talvez. — sussurrei tirando minha vez para encaixar minha destra em seu maxilar e selar nossos desejos, enquanto minha outra mão buscava por seus fios claros tentando aproveitar o máximo daquele sentimento tão comum, mas tão incompreendido.

Subitamente, alguns pensamentos começaram a me rondar, querendo que eu hesitasse em relação às minhas ações, por mais que eu fingisse que tudo estava bem eu sabia que não estava. Queria me esconder e chorar, porém decidi ficar ali ao invés de me arrepender por ter fugido. Eu não queria mais fugir, eu só queria um lugar para ficar sem ter que me preocupar se ainda o teria no dia seguinte, que não desaparecia como um sonho, e pudesse sempre me acolher quando eu mais precisasse.

Talvez eu tenha achado esse lugar quando decidi estar disposta a enfrentar o caos para conquistar nossa liberdade. Mesmo quando eu pensei não existir salvação para mim, que ninguém nunca seria louco para adentrar os muros de minha existência, eu consegui entender que não cabia somente a mim preservar o futuro. 

— A partir daqui não existe mais volta. — murmurei entre seus lábios úmidos.

— Eu nunca quis voltar.

SHE KNOWS ↠ XiaojunOnde histórias criam vida. Descubra agora