Después de Hoy

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Depois de mais uma noite em claro que passei acompanhada de um caderno e alguns lápis, recebi uma ligação de um vizinho daquela casa sombria me alertando para uma possível invasão. Tive que correr pra lá mesmo sem me importar muito, aquele lugar me fazia mal me envolvia de nostalgia e eu só sabia lembrar do dia em que ela partiu.

Não avisei a ninguém sobre o ocorrido, apenas dirigi até lá e antes de sair do carro vi uma das janelas do segundo andar aberta, meu coração pulou com o susto e liguei para a polícia. Assim que encerrei o contato vi um carro estacionado no jardim, minha intuição falou que eu deveria entrar.

Não se tratava de nenhum ladrão, era apenas a outra dona da casa fazendo café, estava tão concentrada na sua tarefa que não me ouviu chegar e se assustou quando me viu parada no meio da sala a observando.

-Desculpa! Não quis te assustar

-O que faz aqui?

-Vizinhos acharam que tinham invadido a casa, só vim verificar

-Deveria ter te avisado.. acabei me esquecendo

-Tudo bem, essa casa é sua também. Bom eu já vou indo

-Maria, espera

-O que?

-Me ajuda a arrumar essa bagunça? A casa está tão triste, tão só

-Eu tenho coisas para fazer, não posso ficar..

-Fica por favor? Depois que terminarmos você vai.. prometo que não vou tentar nada

-Ok tudo bem.. agora é melhor voltar para seu café porque as panquecas estão queimando

Dei uma olhada ao redor e consegui enxergar essa tal tristeza que ela falou, aquele lugar foi muito desejado por nós e não merecia estar daquele jeito. Tirei meu sobretudo e abri as cortinas da sala de estar, tirei os panos que cobriam os móveis e joguei as flores secas no lixo, era outro ambiente que nascia, organizei do jeito que deu a mesa da nossa cozinha americana, tinham muitas sacolas com alimentos na bancada, perguntei se podia guardar e ela pareceu surpresa com minha atitude, eu também estava surpresa de ver que havia aprendido a se virar sozinha.

Serviu o café da manhã e me convidou para sentar, recusei a princípio mas estava faminta e as panquecas pareciam saborosas.

-Você lembra quando essa estante chegou e ficamos o dia todo tentando montar?

-Ficamos não eu fiquei, você desistiu depois de uns cinco minutos 

-Mas eu ajudei a colocar os livros

-Ta certo Any, super difícil fazer isso - rimos enquanto ela me servia o café

Após o café lavei a louça e ela foi para o segundo andar da casa onde ficava nosso quarto, um pequeno escritório e uma sala onde ela praticava seus exercícios físicos e ensaiava algumas coreografias, era uma casa pequena e sem muitos luxos mas muito aconchegante e bonitinha. Terminava de colocar os pratos na secadora quando vi Any descendo as escadas com um desentupidor na mão, não tive como não rir daquela cena.

-O vaso está quebrado! Esta transbordando água para todo lado

-Como assim? Vamos lá ver isso

A água que saia do vaso já tinha inundado todo chão e caminhava para o quarto, mesmo fechando a porta a água conseguia passar.

-Como vamos resolver isso?

-Perai Any deixa eu pensar

-A casa vai ficar alagada! Como vamos sair daqui?

-Para de drama, não é para tanto

-Não é drama! Vou procurar um pano para secar isso

Eu não fazia ideia de como resolver aquele problema mas estava me divertindo muito naquela manh. A única coisa que consegui foi encharcar minha roupa, Any entrou correndo com algumas toalhas e ficou mais nervosa ainda quando me viu, me deu uma toalha e quiser me obrigou a trocar de roupa, ia dizer que não tinha roupas ali mas ela já veio puxando uma mala e tirando uma camiseta dela. Quando ia trocar as roupas ouvi a viatura da polícia, já tinha até me esquecido que os acionei antes de entrar, não quis deixar que ela os atendesse já que eu era a solicitante, desci com as roupas molhadas e expliquei o mal entendido. Ela também estava com as roupas umidas, trocamos de roupa e sentamos na cama, concluímos que era melhor chamar um técnico em hidráulica. O prazo estimado para chegada dele eram de até 4 horas para atendimento, optei por ficar com ela não ia deixa-la sozinha com um homem aqui.

Ficamos sentadas em lados opostos da cama, ela parecia tão preocupada, olhava todo tempo para porta do banheiro e via a água querendo invadir o chão do nosso quarto, queria puxar assunto para distrair sua atenção mas não sabia o que dizer.

-Ei Any para de olhar para esse problema, logo será resolvido

-E o nosso problema, quando vamos resolver?

-Não temos nenhum problema

-Se eu tiver que lutar pelo seu amor eu vou fazer isso Maria. Não vou desistir de nós duas

-Você prometeu não falar disso hoje..

-Ai meu Deus! Seu violão vai molhar - ela pulou da cama molhando sua meia só para salvar meu violão

-Não precisava se molhar por ele

-Toca uma música?

-Aah deve estar desafinado e minha voz não está boa para cantar 

-Eu canto então! Faz a into de Déjame Ser 

Porque justamente essa música que eu fiz a anos atrás para ela e foi uma música importante porque gravei em estúdio e até cantei em alguns shows que fiz na época, para que reviver tudo isso com essa letra apaixonada. Só de fazer a into meu coração já pulsou forte e ouvindo essa poesia em seu timbre perfeito, fica muito mais difícil disfarçar meus sentimentos. Eu a amo mais do que imaginei ser possível amo mais a ela que a mim e estou morrendo por estar ao seu lado hoje, mas o medo de perde-la fala mais alto e me impede de seguir o coração.

Hoy Que Te Vas (Portiñon) Onde histórias criam vida. Descubra agora