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"Respirando mágoas de uma outra dor"

| AMOR MARGINAL, Johnny Hooker |

Ellie

Eu bati a bandeja de comida sobre a mesa, alertando a atenção das outras pessoas em volta. Sequer me importei se estava sendo rude ou atrapalhando o jantar delas. Sentei-me no meu espacinho e enfiei a maçã na boca.

Eu torcia para que o tempo passasse rápido, porque não queria sair com as meninas. Pensei que uma balada me animaria, mas já não estava suportando o tédio. Eu só queria chegar em casa, pousar minha cabeça no travesseiro e acabar com a sensação ruim dormindo até nunca mais.

— Vai levar a mesa junto? — Felicity Atwood, a única amiga íntima que eu havia conseguido na faculdade, comentou.

Ela estava do lado de outras meninas, mas eu não fazia questão de manter amizade com nenhuma delas. A maioria era jovem, entre dezenove e vinte anos, então não tinha paciência para os seus dramas. Embora, naquele momento, passasse por algo bem adolescente.

— Não enche — falei de boca cheia.

Felizmente ela era boa demais para aguentar meus momentos de mau-humor. Eu ouvi suas amigas cochichando, mas eu estava fazendo muito bem em ignorá-las e continuei mastigando lentamente minha refeição nada saudável — exceto pela maçã que vinha acompanhada do McLanche Feliz. Talvez precisasse de bastante chocolate para aguentar a madrugada. Depois de comer, procuraria alguma loja de conveniência e encheria a sacola com doces que durariam a minha vida inteira.

— O que houve, meu amor? — ela perguntou com a voz angelical, mas eu sabia que estava zombando de mim.

Eu a conhecia há alguns meses desde que entramos juntas em Psicologia na University of Calhoun. Havíamos ficado amigas bem rápido, porque ela curtia sair para festas, jogar sinuca em bar e falar aleatoriedades. Ela não era fútil, mas podia ser caso alguém precisasse. Conseguíamos usar da mesma intensidade para falar sobre o física quântica quanto para reclamar sobre o quão feio nosso cabelo estava naquele dia.

— Fiz merda — murmurei, desgostosa.

Ela deixou as amigas tagarelas falando sozinhas e virou-se exclusivamente para mim.

— Como assim?

Engoli o último pedaço de maçã e tentei ajudá-lo a descer com um pouco de refrigerante. Usava do tempo para pensar em uma boa explicação para o que havia acontecido há dois dias. Eu não podia ficar tão mal por tanto tempo. Ainda havia o Ano Novo, e eu não queria virar o ano tão cabisbaixa.

— Sabe meus novos alunos?

— Os gêmeos! Ai, não vai me dizer que já estrangulou os dois? — Feliticy abriu uma careta.

Eu revirei os olhos.

— Eles são bem incríveis para a falar a verdade — repeti o que já havia ouvido do meu melhor amigo. — Mas não é sobre eles, ok? É sobre a mãe!

— Eleonora, Eleonora... — ela aguardava minha continuação.

Curvei meu corpo, porque não queria que as outras garotas ouvissem o meu mico. Sei lá porque aceitei o convite de sair com elas, mas imaginei que seria algo bom para minha cabeça. Contudo, apenas de ouvi-las falando paralelamente do outro lado, já estava me dando nos nervos.

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