"Perdida em você"
| LOST ON YOU, LP |
Ellie
Ela tentou subir umas três vezes na moto antes de obter sucesso. Eu a incentivei com palavras de apoio, mas não podia segurá-la para facilitar o processo. Embora desejasse acomodá-la bem confortável, não podia soltar o guidão da moto senão as duas parariam de bunda na calçada. Assim que ela conseguiu, meio desajeitada e medrosa, agarrou minhas costas com força. Eu sentia meus pulmões sendo esmagados, mas ri baixinho.
— Podemos? — Fiz a moto roncar e tentei pegar equilíbrio.
Elisabeth grunhiu.
— Não podemos ir de carro?
Eu ri de novo.
— Carro combina com vestidos — falei com convicção, mesmo que não houvesse nenhum sentido nisso. — E você colocou uma calça justamente para combinar com minha moto.
— Eu posso trocar. Ainda estamos aqui mesmo — a médica tentou.
Eu revirei os olhos, mas o capacete escondia minhas feições. Ela estava engraçadinha com o próprio. Depois de pedir que Damian providenciasse dois capacetes para que pudéssemos prosseguir com nosso plano de fuga, traçamos uma rota bem definida que durasse exatos cinco dias. Esquecemos momentaneamente nossos problemas há poucas noites, porque passamos os dias seguintes sem dormir pensando em nossa aventurinha.
Elisabeth estava muito animada, mas era evidente o seu medo em andar naquele veículo de duas rodas. Felizmente ela não ficara reclamando ou tentando me convencer de seguirmos de carro, porque sabia que seria mais divertido se fôssemos de moto. Talvez a mulher estivesse tão carente de experiências malucas e envolventes quanto eu, porque estava igual uma criancinha ansiosa com um passeio escolar.
Eu não sabia o que esperar daqueles cinco dias, mas tinha certeza que seriam memoráveis. Quanto mais distante estivéssemos de Calhoun, melhor seria. Eu não tinha cabeça naquele momento para aguentar as obscuridade da nossa cidade. Levávamos apenas um celular na pequena mochila, porque ela ainda precisava falar com os filhos, e poucas roupas. Mas prometemos que ficaríamos longe da internet e curtiríamos o destino, a paisagem, o descobrimento.
Dei partida sem respondê-la, porque assim não daria tempo de ela voltar atrás. Mas a senti reagir em protesto apertando minha cintura com mais vigor. Ela batia o capacete incessante no meu, e mesmo que eu tentasse ir um pouco para frente para dar espaço, ela descia o corpo comigo com medo de cair. Achei engraçado, mas temia perder a concentração conforme a moto dançava calmamente pelas ruas.
Por isso nunca levava alguém na garupa.
— Não vamos escorregar? — ela gritou contra o vento, segurando-me com energia.
— Eu nunca escorreguei — disse sem modéstia alguma, embora estivesse com o medo interno de acabar nos acidentando.
Eu mantinha a velocidade baixa, porque queria que ela pegasse confiança em mim. Ela também estava muito fixa em não cair e praticava bem todas as minhas instruções. Antes de sair de casa, alertei-a sobre ficar quietinha ali cima, porque qualquer movimento brusco poderia me desequilibrar. Ela não me puxaria, não se curvaria ao contrário do movimento da moto, não desceria os pés dos suportes e não faria nenhuma outra bobagem enquanto eu estivesse pilotando. E ela estava se tornando uma ótima passageira.
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Souvenir | Romance Lésbico (Completo na Amazon)
RomansEleonora Baudelaire está no auge dos seus vinte e seis anos, mas acha que já viveu todas as suas aventuras. Sempre pensando em contas para pagar, a jovem musicista ingressa em Psicologia, a sua segunda faculdade. Ela estuda e trabalha integralmente;...