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"Peguei até o que era mais normal de nós e coube tudo na malinha de mão do meu coração"

| ZERO, Liniker e os Caramelows |

Beth

Haviam roubado o meu paciente, e eu nem tive tempo de terminar seu prontuário de mais cedo. Eu não sei quem havia tido a coragem ou irresponsabilidade, mas a pessoa pagaria de qualquer forma. Felizmente era apenas um aneurisma, simples de resolver e simples de se recuperar no pós-cirurgia, porém isso não diminuía minha dor de cabeça. Talvez eu mesma estivesse com um aneurisma, ou um tumor, se tivesse sorte.

— Você viu o Sr. Palmer? — perguntei na recepção.

— Clipei o seu aneurisma agorinha mesmo. — Dr. Lyfeld apareceu nas minhas costas.

Bom, se eu o matasse ali mesmo, no meio de tantas testemunhas, poderia ser presa. Então me contive, apesar de, nitidamente, espumar pela boca. Eu podia jurar que o idiota de cabelos grisalhos e dentes perfeitos, muito parecido com o meu falecido ex-marido, irritava-me de propósito.

— É antiético roubar meus pacientes, Dr. Lyfeld. — Cruzei os braços, ameaçadora. Estufei o peito para que ele visse o nome de sua supervisora bordado no meu jaleco. — Sem contar que eu sou a sua chefe.

— Justamente! Mas eu quis lhe fazer um favor. — O homem tentou se justificar, mas eu continuava irritada. — A senhorita já estava com muitos afazeres. Voltou há poucas semanas das férias e pensei que, talvez, pudesse ajudá-la diminuindo o trabalho. Era um simples aneurisma que qualquer residente poderia operar. Confesso que fiquei tentado em pegar um dos seus tumores, mas não invadi seu espaço.

— Ah, não invadiu? — Bufei. Eu não queria ouvi-lo mais, e minha cara de poucos amigos havia sido o bastante para alertá-lo da sua inconveniência. Virei-me para o sentido contrário e sai pisando duro.

— Seria legal se a senhorita agradecesse alguma vez! — ele falou, mas eu não pretendia fitá-lo ou gastar minha saliva para responder.

Encaminhei-me para a sala dos plantonistas. Devido a falta de respeito de Dr. Lyfeld, ganhei um cochilo de algumas horinhas antes de seguir à próxima cirurgia. Depois disso, estaria liberada para voltar para casa, longe daquelas pessoas que só pensavam em abrir outras pessoas e espalhar sangue pelo chão.

Eu tinha certeza que minha coluna estava acostumada com os colchões dali, porque, às vezes, pegava-me desejando dormir naquelas beliches mais vezes. Eu já sai de casa e retornei ao hospital após horas rolando pela minha própria cama. As insônias me matavam, mas eu conseguia devolver o troco me acomodando por ali.

E, ultimamente, a dificuldade para fechar os olhos estava pior. No quarto dos plantonistas eu conseguia dormir um pouco, mas ainda pestanejava. Será que fiquei desacostumada de deitar sem alguém do meu lado? Naqueles últimos dias dormindo sozinha, sentia-me mais solitária do que antes. Eleonora Baudelaire havia invadido todos os meus sistemas nervosos e instalado sua áurea colorida para sempre.

Eu não estava muito habituada a falar via mensagens pelo celular, mas fazia o esforço. Encontrava-me em uma nova situação, porque nunca precisei me manter em contato daquela forma. Eu me mantinha muito sobrecarregada no hospital com minha rotina agitada, e Eleonora trabalhava e estudava, ocupando-se também. Há dias eu não a via, logo era obrigada a contentar-me com suas palavras graciosas e ligações de vez em quando. Dr. Lyfeld de fato havia me ajudado com o aneurisma e me dado um tempo para respirar, mas eu não admitiria em voz alta.

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