Nos segredos mais longínquos se instalam as coisas de cera pura. Tal material cheio de vazio. Um vago de alma que se tornaria inconsciente se existisse uma consciência prévia. Como não existe, o oco é simplesmente oco, sem definição mais profundamente apurada, e sem uma beleza que tempera e disfarça, e que afunda e torna incoerente o útil conhecimento.
Em mim existem as tais coisas, e não sei ao certo como chamá-las. "Criaturas"? Sim... foram criadas por mim, mas nessa palavra existe um tom de ser vivo, além de eu não ter pleno conhecimento dos mecanismos e do objetivo de minha tal criação. Que tipo de criador não possui isso? Nem posso me chamar de criador. Aquilo surgiu espontaneamente. Não foi um fruto vindo de uma ideia e que exigiu planejamento. Simplesmente surgiu.
Como posso chamar aqueles objetos ocos sem fazer referência a uma ideia de criação, então? Em nada consigo pensar. Mas, esquecendo o pouco a simplicidade do nome e parando e novamente pensando, isto, a falta de uma identidade, pode ter sido o que motivou minha espontânea mente. Esta idealiza-me como eu quero ser: algo completamente novo e moldável ao meu interesse, ao invés de alguém com identidade pronta, preso por vícios e impurezas, rígido como cimento, onde sua mudança é possível somente na destruição.
— Há outros de mim...
Gostaria de falar isso sem ser um mentiroso, mas me contradigo e vivo a repetir.
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Há outros de mim (COMPLETO)
General FictionA vida do senhor Moraes é tentada por ele a esquecê-lo. Pena que ele não pode consumar isso sem assumir seu ego criador de mentiras, o causador de tudo que se formou em sua mente lívida e confusa. Os males do passado o fazem querer outra persona. É...