2 - Azul oceânico

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Já discuto o incitador das criaturas ocas, mas quais são seus objetivos? Mentiroso já sei que sou, se é para apontar-me o dedo que elas insistem. Sendo isso, então, devem existir para enfatizar meu ego, que faz e é feito da mentira. Mas elas ficam paradas, na minha cabeça, como se fossem manequins... Como manequins me dariam óculos para eu enxergar meu egoísmo? Por que simbolizariam isso tais bonecos de cera, sem agilidade e ao mesmo tempo agitando-me? Ou existem justamente para eu agir desta forma: como um louco, discutindo a loucura comigo mesmo?

Acho que devo parar de imaginar. Mesmo na minha meia-idade, estou velho demais para ser tentado por coisas profundas. Só sei que minha cabeça dói e que preciso de química do bem para acabar com esse peso ficcional que soa físico no cérebro.

Espero que aquela moça bonita chegue logo com meu remédio.

— Há outros de mim...

Ainda repito em sussurro ao olhar nos olhos azuis de oceano da acabadora de minha dor.

Ela só balança a cabeça, num ato de compaixão. Exagerada, mas numa força que soa sinceramente bondosa.

— Descanse, senhor Moraes. Sua neta vem amanhã cedinho. Não quer parecer indisposto para ela, quer?

Que linda jovem Deus solta em minha presença... É tão bela enquanto não me dá opção em seguir ou rejeitar seu conselho. Nem meus olhos marejados de antes do sono tiram tamanha graça da que injeta o doce líquido em meu corpo.

É incrível a força desse azul...

Há outros de mim (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora