Um

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Seu olhar queimava como fogo

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Seu olhar queimava como fogo. Não devia estar tão diferente do seu interior. Seus dedos se fincaram na árvore ao qual se mantinha escondido; o cheiro do musgo começando a queimar com o toque de seus dedos em brasa não foi sentido por ele. As lágrimas que se formavam em seu olhos evaporaram pelo calor de seu corpo.

Cal não conseguia olhar para os dois juntos, mas então por que seguiu seu irmão sabendo onde ele iria?

Palafitas nunca havia sido a rota de passeio deles, até que por acidente, seu irmão mais novo encontrou uma vermelha por quem se interessou profundamente.

Cal ouviu seu irmão contando para ele sobre o encontro dos dois, quando Maven ainda nem sabia que se apaixonaria por Mare.

— Encontrei com ela pelo caminho, quando estava retornando para o palácio. Não sei muito bem o que aconteceu na hora que a vi, mas foi diferente — Maven falou, estavam no quarto de Cal. Olhou para o irmão que olhava a paisagem através da janela antes de indagar: — Você acha que a encontrarei novamente?

Cal olhou para o irmão, o rosto sério. Nem precisou pensar para respondê-lo:

— Você é um príncipe. Claro que consegue vê-la novamente — a firmeza com que falou fez o mais novo acreditar em suas palavras. — Perguntou o seu nome e de onde ela é?

Maven assentiu, acrescentando:

— O nome dela é Mare Barrow e ela é de Palafitas.

Cal balançou a cabeça, voltando a olhar para a janela.

— Sua mãe vai odiar saber que você conversou com uma vermelha que não é nossa criada — comentou o mais velho com a voz neutra. — E que ainda deu dinheiro para ela — riu no final, o som seco ecoando pelo quarto.

Maven engoliu em seco. Sabia que seu irmão estava certo. A rainha seria contra qualquer vínculo que eles fossem ter no futuro, caso tivessem.

— Eu sei — sua voz saiu fraca. Limpou a garganta. — Mas não é como se fôssemos ter algo. Pode ser que eu nunca mais a veja.

A risada de Cal reverberou pelo cômodo. Maven não entendeu o motivo da risada.

— Como eu disse, não será nada difícil. Saímos escondido com frequência. Você pode voltar para Palafitas e encontrar novamente com a vermelha tendo que contar com a sorte, ou mande algum criado que já morou por lá fazer o trabalho sujo por você — virou para olhar o irmão. Os olhos castanhos avermelhados tinham um brilho perverso. —  Consegue fazer isso, não?

Os olhos azuis fitaram a parede do quarto, pensativo.

Era capaz daquilo?

— Acho que eu... —respirou fundo antes de continuar, mudando o que iria dizer: — Não posso fazer uma tempestade em um copo d'água.

Cal sorriu com escárnio, logo voltando a ter sua característica expressão dura.

— Você, assim como eu, pode fazer o que quiser e está hesitando em se aproximar de uma vermelha? — seus olhos faiscavam, os mesmos olhos de seu pai. — Uma mera vermelha?

Maven não gostou da forma que seu irmão se referiu à Mare, do seu jeito desdenhoso ao dizer que ela era uma vermelha.

— Não estou hesitando — Maven tratou em dizer. — Eu só acho que não posso entrar na vida dela assim, do nada e sem que ela queira.

Cal caminhou até o irmão. Sentou ao seu lado.

— Os relacionamentos são assim, Mavey, ou você acha que nada se tem um começo? Esse vai ser o começo de vocês dois.

Os olhos azuis transmitiam hesitação e medo.

— Acho que você está exagerando. Eu apenas encontrei uma vermelha e pronto. Não teve nada demais nisso.

Cal observou o irmão, antes de se pronunciar.

— Você pode estar perdendo horas de diversão — argumentou.

Mavey arregalou os olhos, embasbacado.

— Você está falando de...

— Sim. Estou — o interrompeu. — Falta pouco tempo para ficarmos noivos e eventualmente, iremos nos casar. Você sabe como funcionam os casamentos. Sabe que mesmo que você tenha um romance com a vermelha, não poderá se casar com ela — fez uma pequena pausa. — É para isso que as amantes funcionam, não?

Maven sabia que se quisesse ficar com quem amava, teria que ser nessas condições, porém, ouvir seu irmão mais velho, a quem sentia enorme admiração, dizer tais palavras, era chocante e até mesmo cruel.

— Eu... - limpou a garganta. — Prefiro não falar sobre isso agora.

— Você, às vezes, não parece ser um príncipe, Maven — o tom frio usado fez com que ele se encolhesse em si mesmo. — Lembre-se que nada do que fazermos é errado. Podemos fazer o que quisermos e nada nem ninguém pode nos dizer o contrário.

Maven ficou em silêncio. Não concordava com nada do que seu irmão lhe disse, mas não podia fazer nada. Todos concordavam com ele: seu pai, sua mãe, os prateados e os vermelhos.

O príncipe mais novo era sozinho em sua forma de ver o mundo. Não concordava com a hierarquia do mundo, principalmente do seu reino. Seu pai era um bêbado tirano que não se importava com seu povo, embora Maven não podia reclamar de sua relação com ele.

— Você sabe disso, não? — reforçou o mais velho, os olhos brilhando como brasa.

— Sei — mentiu, querendo acabar com àquela conversa o mais rápido possível.

— Ótimo — satisfeito, se levantou da cama, indo até suas armaduras espalhadas pelo quarto. — Agora só falta você ir atrás da vermelha para eu acreditar que você realmente sabe do que somos capazes de fazer. Será algo simples, você quer, é algo sem importância, e o que estou fazendo é um incentivo para você ter coragem de você se encontrar novamente com a... — parou de averiguar se suas armaduras estavam devidamente polídas, encarando o irmão para perguntar: — Qual o nome dela, mesmo?

— Mare Barrow — Maven forçou sua voz sair.

— Mare Barrow — Cal testou o som que o nome emitia em sua voz. — Maven e Mare, soa bem, não?

— É. Soa bem — o mais novo concordou em um balbucio. Não sabia se dizia a verdade ou não.

A única coisa que passava em sua cabeça era que seu irmão mais velho estava cada vez mais mudado. Não era como a criança de olhos castanhos avermelhados que brilhavam em bondade e curiosidade quando os dois brincavam; agora eles mal brilhavam, e quando brilhavam, era por raiva, malícia ou perversidade. Cal não era mais a criança doce e humilde, o poder subiu pela sua cabeça, se espalhando como uma praga até tomar conta de cada célula do seu ser.

Era difícil para Maven aceitar que seu irmão já não era o mesmo, e que, havia se tornado um homem cruel e desprezível.

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