Giz Vermelho

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— Não queria me mudar. — falou Monalisa em uma ligação com Luara. — Não entendo porquê minha mãe quer que a gente se mude para o mesmo bairro... Não tem diferença nenhuma.

— É bom, pelo menos você não vai estranhar tanto... E ainda fica perto da Meyer.

— É, por esse lado é bom, mas já tô tão acostumada com esse meu quarto. — resmungou, observando suas coisas separadas em caixas. — Pelo menos o prédio novo tem vista pra praia, isso eu gostei.

— Ai, deve ser lindo acordar cedo e ver o sol nascer... — comentou Luara, imaginando aquela cena em sua mente. — Imagina, a brisa batendo no rosto. Os coqueiros balançando, tudo pra mim.

— Tudo mesmo! Mas mudando de assunto, vocês conseguiram falar com Melq, ontem?

— Ele não atende e as mensagens não estão chegando no celular, deve tá sem internet. — explicou sem demonstrar preocupação. — Nossa, deve ser lindo mesmo, não é? Acho que vou fazer um quadro do nascer do sol.

Luara tinha um senso artístico admirável e tirava ideias das coisas mais simples e improváveis. Era como se sua mente estivesse o tempo todo em um modo criativo, onde o universo em sua volta tornava-se um grande e exuberante espetáculo cênico.

— Entendi... Mas e o Melq?! — perguntou Monalisa.

— Ah, acho que o celular dele descarregou, né? Olha, me lembra de comprar tintas quando voltarmos da faculdade. Fiquei empolgada pra fazer essa arte, agora.

— Milagre você empolgada tão cedo.

— Milagre mesmo, — Luara sorriu. — Tchau, vou tomar café.

Naquele dia, o caminho para a faculdade não contou com as selfies e piadas sem graças de Melq ao lado de Gabriella, Luara e Monalisa. Ele não apareceu. Não respondeu nenhuma mensagem, não atendeu o telefone. Desde a noite passada o jovem estava incomunicável.

— Gente, vocês tentaram falar com a mãe dele? — perguntou Gabriella.

— Não, eu nem tenho o número dela. — Monalisa respondeu. — Talvez alguém tenha, não sei.

— Rapaz... Estranho, viu?! Melq vive com aquele celular na mão o tempo inteiro, como ele some assim?

— Pois é, tô meio preocupada.

— Gente, o celular dele pode ter quebrado ou algo do tipo. — Luara tentou acalmá-las. — Não deve ter acontecido nada e vocês tão aí nervosas.

— Mas vocês acham que isso tem a ver com a sala 317? — Monalisa questionou, ainda preocupada.

— Gente, foi muito estranho o que aconteceu lá. — Gabriella afirmou.

— Olha, eu pesquisei sobre essas coisas meio "sobrenaturais" e estranhas, sobre lugares que aparecem e desaparecem e achei umas coisas interessantes. A Meyer é muito antiga, pessoal. Era comum existir passagens secretas pra lugares, entende? E aquilo era uma sala de aula. — Luara explicou. — Muito esquisita, porém uma sala de aula.

— Tá, mas e os nomes da gente escritos com giz? E como a parede se abriria do nada?

Luara ficou em silêncio, reflexiva.

— Pois é, não tem resposta pra isso. — concordou Gabriella. — Tem muita ponta solta, Lua.

— Eu sei, gente. É estranho o que aconteceu, até hoje não entendo muito bem. Mas isso não tem nada a ver com o fato de Melq ter sumido. Vocês tão indo longe demais.

Mias um dia de aula na Meyer, todos sempre sorrindo, empolgados e felizes em estar ali. As aulas sempre tão estimulantes, os assuntos envolviam os estudantes e, enquanto se encontravam por entre as paredes daquela universidade imensa, o mundo lá fora parecia não existir. Nada mais importava quando se estava dentro da Meyer, onde o Sacrifício, a Sabedoria e o Serviço incendiava o coração e a mente daqueles ali presentes. A misteriosa sala 317, não vista por muitos, continuava por entre as paredes do corredor sete.

SALA 317Onde histórias criam vida. Descubra agora