Quem dera fosse fácil se livrar da dor, mas ela insiste em fazer companhia. No café da manhã, ela te deseja um "bom dia" como um gole de café amargo e frio. Ela te deixa amargo, te deixa frio, quase morto. Ela te enforca a cada minuto requerendo esforço para respirar. Ela fica, e exige ser sentida. Você não pode evitá-la por muito tempo, então é melhor sentir, até que com o tempo não sinta mais.
Duas semanas se passaram desde o enterro de Melq. Não é tempo suficiente para se livrar da dor, mas é quando você começa a perceber que ela ainda vai ficar. O grupo de amigos estava começando a entender isso. Até trocaram mensagens pelo celular, se reuniram algumas vezes, mas a sensação de alguém faltando era inevitável. Eles estavam incompletos. O coordenador de Publicidade e Propaganda fez uma homenagem ao Melq, Rosália parecia muito sentida pela perda, principalmente por ser um aluno de sua universidade.
Luara aproveitou para começar a pintar seu novo quadro, era um escape para se distrair e se livrar da saudade. Pequenos esbolsos, mas cheios de detalhe e encanto. Naquela manhã, despertou mais cedo que o normal. Não estava conseguindo dormir direito. Pegou o celular e ligou para Gabriella, que atendeu.
— Lua... — falou com uma voz sonolenta. — Nossa, tá muito cedo, o que aconteceu?
— Desculpa te acordar, não consegui dormir direito. Passei a madrugada fazendo um esboços e tirei um cochilo rápido, daí acordei.
— Ah, tá. Mas você tá bem?
— Todo mundo tá acostumado a dizer que "sim", mas eu não tô bem, Gabi. — afirmou, sentando-se na cama. — Minha mãe é um saco comigo, não tô produzindo tanta arte como antes, o Melq morreu, ou melhor, se matou. Não consigo dormir e ainda por cima tô te enchendo o saco falando essas coisas as cinco e meia da manhã.
Gabriella suspirou, coçando os olhos.
— Lua, lembra quando perdi meu avô no ano retrasado?
— Sim.
— Eu tava péssima. Perdi oito quilos, fiquei em casa por meses, foi uma das fases mais difíceis da minha vida.
— Sei que foi.
— E você estava comigo, Lua.
Os olhos azuis de Luara estavam cheios de lágrimas. E Gabriella continuou:
— Essa é uma fase ruim, nega. Mas vai passar, sabe disso. Não vai sentir toda essa tristeza pra sempre.
— Tem razão. — concordou, fungando. — Vai ser bom ir à aula hoje, vai me fazer distrair.
Em sua casa, Monalisa preparava um chocolate quente. Esquentar a alma era ideal naquela situação de desamparo. Quem dera uma bebida pudesse ajudar, sorte a dela ter o abraço de sua mãe. Foi quem mais a ajudou durante aqueles dias difíceis.
Na cobertura de um prédio luxuoso, os gêmeos Guimarães se arrumavam para mais um dia de aula.
— Eu sempre gosto da vista daqui. — comentou Lucas na janela do seu quarto. — Que bom que os pais conseguiram comprar essa cobertura, sério.
— É... — Josielly não parecia querer conversar.
— Josy, tá tudo bem?
Ela permaneceu calada. um olhar frio e preocupada. Lucas se aproximou da mesma.
— Olha, sei que é difícil lidar com tudo que tá acontecendo. Mas somos irmãos, você pode contar comigo.
Josielly sorriu. Ele a abraçou fortemente e beijou sua cabeça.
— Não queria que isso tivesse acontecido... — ela comentou. — É que, ainda não consigo entender, Luc. Por qual motivo o Melq se suicidaria?
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SALA 317
Mystery / ThrillerUma década após o suicídio de quatro estudantes, um grupo de jovens da Universidade Meyer encontram e entram na desconhecida sala 317, onde fazem um jogo. E o que parecia ser inofensivo, se torna um conflito entre o que é e não é real. O passado vem...