Capítulo 1: Primeiro Alvo

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Naquela noite Arim não poderia estar mais ansioso. Afinal se tratava de sua primeira oportunidade de poder mostrar que não era um imprestável como pensavam e por isso não poderia falhar. No momento em que ele pensava essas coisas, o alvo a quem estava em busca para eliminar, após um período conversando com o guarda, parte em direção ao destino previsto. Tudo ocorrendo como o planejado. O fazendeiro daquela província que caminhava pelas ruas às pressas como se estivesse escondendo algo, por algum motivo que o jovem desconhecia, viria a ter grandes consequências do que quer que ele houvesse se metido. Ele o seguia furtivamente entre a escuridão da noite sem que ninguém o notasse. Sua habilidade de se mover silenciosamente era realmente admirável e como um predador observava sua presa, esperou a hora certa de atacar. Embora a lua estivesse iluminando a noite fazendo do seu trabalho mais difícil, isso só aumentava sua vontade de mostrar o seu valor. Finalmente uma brecha. O velho se aproximou de um beco escuro entre duas grandes casas com paredes altas. O jovem elfo, velozmente deu a volta por trás das casas de forma a tomar a frente da vítima. Mal pôde pensar em uma estratégia mais elaborada. Iria contar com o improviso. Ao chegar, o silencio era tão grande que era possível se ouvir os passos das botas surradas do velho fazendeiro. Percebendo sua aproximação, o coração do rapaz acelerou imediatamente e então sacou sua adaga com fluidez. Seus olhos fixos à espera de vê-lo passar, mal piscavam. Finalmente seu alvo se aproximou sem percebê-lo devido à escuridão disposta pela sombra das paredes. Até o momento a missão mostrou-se complexa para ele, mas ao observar o alvo tão vulnerável, pensou ter se enganado. Parecia fácil demais. Estava ali, na escuridão da madrugada, ninguém além do jovem elfo e ele. Morte sem chances de se defender. Nem mesmo ele podia enxergar seu próprio talento. Então, silenciosamente se aproximou e antes de chegar relativamente perto, num salto mortal, tapou a boca da vítima com toda sua força e antes mesmo de qualquer reação, com a adaga precisamente empunhada, transpassou sua garganta. Arim arrastou-o para o beco e passou a buscar pelos bolsos do senhor agora falecido, qualquer coisa de valor até achar algumas moedas de ouro e uma pequena joia. Retirando um machado de sua bolsa, o garoto termina o serviço decapitando o cadáver estirado no chão. Um trabalho amador, porém talentoso. Depois de ensacar devidamente a cabeça do velho fazendeiro, Arim logo pensou nas coisas que viriam a acontecer em seguida. A oportunidade de se destacar na guilda dos assassinos seria inevitável. Um trabalho como esse não seria feito por qualquer um. Mesmo amador, não tinha medo nem muitos sentimentos. A vida tornou-o assim e isso seria facilmente visível em seu rosto diariamente. Depois de terminar o trabalho, o jovem assassino esconde o corpo, porém de forma que pudessem encontra-lo para espalhar a notícia do ocorrido, pois para ele seria como um troféu. Em seguida, partiu a caminho da estalagem na qual se hospedou, ainda cautelosamente.

Escalou pelas beiradas da taverna e entrou pela janela do quarto para evitar ser visto e então se preparou para dormir.

Ao se levantar pela manhã, Arim se prepara para partir, e segue até o refeitório da taverna. Ali pegou alguns alimentos da mesa principal do café da manhã, acenou para o dono da estalagem despedindo-se sem nenhuma palavra, seguido de olhares desconfiados das pessoas que ali estavam. Do lado de fora, no estábulo, montou em seu cavalo e partiu em viagem de volta para a cidade de Damilor, na qual está localizada a sua guilda dos assassinos Cicatriz Vermelha, pois seria perigoso ficar ali por mais tempo.

No caminho, ao cair da noite, buscou por um lugar próximo a estrada para acampar quando avistou uma clareira não muito distante dali. Aproximou-se, verificou a segurança do local e então decidiu ficar e montar acampamento. A viagem levaria cerca de dois dias, mas Arim estava preparado. Por muitas vezes teve de viajar e sobreviver ao longo de sua vida. O perigo sempre se mostrou iminente. Góblins saqueadores, bandidos de estrada, criaturas selvagens, no entanto era muito experiente e podia dar conta.

Ao olhar para a fogueira, o jovem elfo se lembra de sua companheira Zyran, como tantas outras vezes, das primeiras viagens com ela, a qual o salvou a tempos atrás e o ensinou mais do que ser um assassino, mas também os motivos disso e que não precisava ser assim pra sempre. Ela olhava para ele como alguém além de um pupilo. Como só alguém que o entendia poderia olhar...

"- Então você acha que pode se virar sozinho? - Disse ela com um meio sorriso enquanto preparava uma refeição na fogueira

- Não Foi isso que eu quis dizer. Eu só estou dizendo que já posso fazer mais, sabe? Ousar mais. – Respondeu Arim empolgado enquanto atirava suas adagas em uma árvore.

– É claro! Essa é a intensão. Mas não pense que é tão simples. Não é como apenas imaginar o fim das coisas sem ter vivido o custo. Você ainda é jovem. – Indagou Zyran.

– Fala como se não soubesse do que sou capaz – Disse ele decepcionado parando o que estava fazendo e olhando para ela. – Você sabe que posso fazer mais, foi pra isso que me treinou.

– Ok espertinho. E quando tiver que matar de verdade? – Disse ela virando a cabeça para olha-lo.

– Não terei problemas. Eu já vi coisas piores, sabe disso. – Resmungou sem hesitar.

– Não. Matar alguém pode ser o fim do seu ser humano. – Afirmou pesarosamente - Mesmo que você não tenha escolha agora, não faça disso algo natural. Nem mesmo animais matam sem razão."

Arim, embora tivesse um passado marcado por cenas ruins e experiências dolorosas, ele não sabia bem o que esperar de sua vida, mas tinha certeza de que não queria se tornar um homem maligno mesmo não tendo muita escolha e tendo que fazer crueldades por ser o que lhe restou. As boas lembranças de sua mãe que ainda sobrevoavam em seus mais profundos sonhos e memórias, e agora os de Zyran, forçava o seu coração a permanecer ao lado da bondade ainda que por muito pouco. E com tudo isso, estava confuso, dividido e ao se lembrar desse momento lhe veio a tona o que tinha ocorrido na noite passada o que o fez pensar se realmente valia a pena comemorar tal feito. Acordando pela manhã, partiu novamente em viagem seguido por uma cortina de nuvens carregadas.

Em cima do cavalo, seguindo viagem, depois de um tempo, a chuva começa a cair. Pela borda da estrada se via uma grande mata e alguns pequenos desvios da estrada a fora. De repente, algo na estrada chamou a atenção de Arim. A chuva diminuía seu alcance de visão, mesmo sendo avantajado pela sua genética, mas mesmo assim ainda pode ver a silhueta de um corpo feminino ao longe e o que o intrigava no entanto, era que conseguia ver apenas o contorno de seu corpo. Observou com mais atenção, aproximou-se lentamente e viu como se fosse uma sombra escura e transparente, fixa, bem distante e imóvel. Antes que pudesse pensar se era ou não algo da sua cabeça, seus olhos cobertos de água fez com que suas mãos tirassem tal excesso que o impedia de continuar olhando e quando voltou a abrir os olhos, nada. Não via mais nada. Imediatamente, buscou o paradeiro daquela aparição ao redor, mas nada pôde ver. Esperou para ver novamente o que quer que fosse aquilo, mas não voltou a aparecer. Isso o deixou incomodado por todo o resto da viagem pois essa não foi a primeira vez. Arim nunca se importou com ideias de fantasmas, aparições ou até magia, mas a cada dia estava se conformando com a possibilidade dessas coisas virem a ser algo comum a ele ou até mesmo mais importante do que imaginava

O Filho das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora