O Filho das Sombras

Capítulo 4: Inseparáveis

Abrindo lentamente seus olhos, Arim despertou tardezinha com sua vista desembaçando aos poucos e ao olhar em volta, viu-se deitado sobre um amontoado de panos num chão de madeira. A sua esquerda uma pequena tigela com um líquido esverdeado que cheirava a ervas com um trapo encharcado, ao lado um copo de metal cheio de uma bebida e um bilhete escrito "tome e melhore". Enquanto se sentava, dores em seu corpo o fizeram soltar um gemido e ao observá-lo, viu algumas faixas úmidas do mesmo líquido da tigela. Ele então cheirou o copo e fez ânsia por um segundo, pois o cheiro denunciou o gosto, mas apressou-se e tomou de uma vez para seu alívio. O rapaz encontrava-se numa pequena cabana de madeira velha, essa que já foi mencionada antes por zyran a ele como um local de refúgio bem escondido, o que o fez sentir-se seguro. Arim esperou por alguns minutos tentando entender como zyran chegou até ele naquela batalha, mas foi interrompido com sua chegada. Passando pela porta o vento lança sua capa escura para traz revelando seus braços enfaixados e, em suas mãos cobertas de cicatrizes do passado, dois coelhos selvagens para a refeição da noite...

- Como você está? – Disse ela com um sorriso cansado.

- Melhorando – respondeu arfando. – E você? Parece que também se feriu.

- Eu vou ficar bem. – Disse ela próxima a lareira enquanto preparava o aro de aço para assar as
carnes ficando de costa para o elfo e assim impedindo de ver sua expressão. Por algum
tempo, apenas o som das chamas e das carnes eram possíveis de ouvir, mas o jovem rompeu o silêncio...

- Como conseguiu me salvar? Estava longe. - Perguntou tranquilamente.

- A ideia era tentar te proteger ficando longe por um tempo pra virem atrás de mim... Mas eu quis ficar por perto até que sentisse que estava seguro... Desconfiei que pudessem te alcançar. – exclamou pausadamente - Apesar de você ter muita experiência, uma fuga como essa exigiria mais do que poderia evitar ainda mais apé – Ele consentiu sem dizer nada. – Venha. Já pode comer.

Já era noite e aquela refeição comparada às outras estava longe de ser igual. Zyran não era de poucas palavras com o seu pupilo e no ambiente pairava um clima tenso, mas Arim respeitava suas decisões e geralmente não a confrontava e dessa vez não seria diferente. Ao terminarem a refeição a experiente assassina volta a tratar do ferimento de ambos ao mesmo tempo que o ensinava como fazê-lo e como sempre, o rapaz admirou-se e se concentrou para aprender...

- Está melhor agora? - Perguntou ela sem muitas expressões.

- Está. Quase não sinto mais dores. – Respondeu grato.

- Que bom... – Disse ela um tanto quanto distraída. Passou a terminar de arrumar o local para dormirem e o rapaz quebra novamente o silêncio...

- Eu estava indo pra Trinah pra conseguir suprimentos de viagem... Mas na verdade acho que não conseguiria nem chegar lá... Sinto muito ser tão fraco e ainda depender de você... – Disse ele cabisbaixo.

- Não diga isso. Você é forte. É sim. – Motivou o jovem elfo enquanto batia em seu ombro. – Olha. Nós vamos sair daqui, vamos pra um lugar longe daquele chiqueiro e eu vou terminar meu trabalho com você. Você vai conseguir ser um grande guerreiro, tá bem? – Indagou empolgada enquanto que Arim permaneceu cabisbaixo. – Olha pra mim! – Disse ela em alta voz. Ele levanta a cabeça e olha nos olhos dela. Ela também o faz, mas com uma expressão de raiva... - Eu não vou deixar você morrer. Não foi pra isso que te salvei. Não consegui uma nova chance pra você, só pra morrer na mão desse desgraçado sanguinário. Nós vamos sair dessa e um dia
ainda mataremos Coyle para o bem de muitos.

   Ambos encheram os olhos de lágrimas cheios de esperança, em seguida se abraçaram e depois disso, a vontade que estava no peito do rapaz de culpar sua mestra pela possibilidade de terem sido mortos por entregar Coyle aos mercenários, fora embora, pois ele se lembrou de toda crueldade que presenciou diante dele. Logo depois buscaram planejar uma fuga e por fim adormeceram.