Ao fundo eu escutava um balançar de galhos. Um sopro gelado fez meu corpo estremecer, abri meus olhos vagarosamente, piscando algumas vezes. Estava deitada no chão, levantei a cabeça desorientada, não conseguia enxergar nenhum palmo a minha frente.
Uma neblina densa me cercava me provocando arrepios. Estendi as mãos em frente ao rosto sentido a pele da mesma arder. Corro os olhos por meus braços, mãos e pernas. Estavam ralados e roxos, como se tivesse feito um grande esforço para fugir de algo.
Olho ao redor. Grandes árvores me cercavam, não eram verdes e nem bonitas. Os galhos estavam secos e retorcidos, minha mente assustada via desenhos sinistros formados pelos mesmos. As raízes estavam expostas e a falta de folhas em cada árvore faziam as ter uma aparência bizarra. Estavam todas mortas.
Senti meu coração bater na garganta e minha respiração se tornar pesada. Medo. A neblina combinada àquela floresta morta faziam meus sentidos ficarem alertas e a adrenalina no meu corpo faziam as minhas mãos suarem.
Faço um grande esforço pra tentar me levantar, meu corpo parecia pesado. Solto um gemido de dor quando coloco todo o peso do meu corpo sobre minhas pernas. Eu não sabia onde estava, mas precisava sair. Precisava caminhar.
Um sentimento de urgência tomava conta mim. Olho para todas as direções em busca de alguma resposta. Qualquer coisa que pudesse me dar uma dica da minha localização. Mas tudo era dominado pela neblina.
Começo a arrastar os pés. Tudo em mim pedia para correr, mas meu corpo não conseguia corresponder. O vento sobra novamente, mas agora sibilava uma canção de ninar em uma língua que eu não conhecia.
Meu estômago se contorce. A voz era fina e esganiçada e cantava com um tom de maldade que fez meus pelos da nuca se arrepiarem.
Aumento o ritmo dos meus passos o máximo que minhas pernas doloridas permitem, ando com o braço estendido na frente do meu corpo, pois não conseguia ver nada.
Eu contava os segundos para que o sol nascesse, mas o Tic -Tac do relógio imaginário ressoava lentamente na minha cabeça.
A voz tinha dado uma pausa na cantaria sombria. Ouvi o choro de um bebê. A voz gargalhou, eu sentia tanto medo que minhas pernas tremiam e minhas mãos ficavam pouco a pouco mais geladas.
O bebê não parecia chorar de dor. Parecia tão assustado. Meu coração tremeu diante daquele choro tão inocente. Umedeci os lábios rachados, precisava sair dali, mas nunca me perdoaria se deixasse aquela criança inocente para trás.
Sigo o choro do bebê e consequentemente a voz que tinha voltado a cantar. A cada passo que dava uma parte de mim se arrependia, mas a outra parte me dizia que eu estava fazendo a coisa certa.
Parecia cada vez mais perto. Ao longe vi uma luz tremulando em meio a escuridão, me escondo atrás de uma das muitas árvores e observo cuidadosamente. Uma silhueta feminina rodopiava muito perto da luz, talvez uma candeia. Era ela quem cantava. Havia um pequeno pacotinho nos seus braços.
Ela girou o corpo, a cabeça erguida na minha direção, jurava que ela podia me ver. Afastei mais para a direita deixando a árvore tampar ainda mais o meu corpo, mesmo sabendo que a escuridão e a neblina me escondiam.
A mulher colocou o pacote no chão se virou e foi se afastando da luz a passos preguiçosos até que a escuridão lhe abraçou fazendo a sumir diante dos meus olhos.
Esperei um tempo. Eu não a ver não significava que ela não estava lá. Quando achei que era seguro me aproximei, confirmando que a luz realmente vinha de uma candeia.
Abaixo perto do pacote que a mulher havia colocado no chão, ele estava enrolado em panos de tom azul.
Puxo a beira de um lado dos panos e vejo o rostinho do bebê que chupava as mãozinhas delicadas. Um sorriso involuntário surge nos meus lábios.Eu o pego com delicadeza, deveria ter no máximo 6 meses de vida. O que um bebê faz em um lugar como esse? O que eu faço em um lugar como esse?
Seus olhinhos castanhos me observam com atenção. Noto um brilho refletido em um dos seus pulsos gordinhos. Uma pulseira.
Chego mais perto da luz, a pulseira tinha um nome inscrito. Gael.Meu coração bateu mais forte. Como se reconhecesse esse pequeno nome. Observo seu rostinho com o sentimento de amor invadindo o meu peito e a vontade de proteger esse ser tão pequenininho de qualquer mal.
O seguro de encontro ao peito depois de o agasalhar melhor, estava muito frio. Pego a candeia e começo a andar na direção oposta na qual a mulher foi embora. A luz era fraca, mas me permitia ver o bebê em meus braços.
Andei por muito tempo sem me permitir descanso algum. Não estávamos seguros nesse lugar. Mas eu não conseguia mais, minhas pernas tremiam com o esforço que eu fazia para dar um passo atrás do outro, o frio fazia meu queixo bater e meus ossos doerem. Eu estou exausta, meus olhos pesados lutando para continuar abertos.
O bebê começa a chorar, deve estar com fome, eu também estou. Devagar sento debaixo de uma árvore aconchegando o bebê.
- Não chora, não chora...- sussurro para ele o balançando nos meus braços.
O cansaço me consome, minhas pálpebras teimam em fechar. O choro do bebê se torna cada vez mais distante, quase sumindo por completo. Minha consciência vai se esvaindo junto com a minha vida. Sei que vamos morrer. Antes da minha mente se tornar um completo borrão preto abraço o bebê.
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Presa em um Pesadelo (Concluído)
NouvellesAs vezes ficamos presos em nossa própria mente, vagando sem rumo de um pensamento a outro, presos em um milhão de possibilidades que mudariam o presente. Que alteraria a nossa forma de pensar, de agir e de sentir. E nem sempre conseguimos nos livra...