Capítulo 3

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Dou três passos para trás e me agacho me encolhendo o máximo que posso deixando os girassóis me esconderem. Procurando deixar apenas os meus olhos visíveis. 

Na minha frente se ergue um imponente castelo pintado de cinza e em alguns pontos de preto. O castelo era sombrio e cada parte dele gritava a morada de alguém  que não queria amizades. A mesma neblina da floresta cercava o lugar, dando um ar de morte e terror. O clima parecia mais pesado. E eu tinha a estranha sensação de estar sendo observada.

Estreito os olhos, percebendo alguma movimentação na frente do castelo. Então eu vejo uma menina que me deixa extremamente assustada. A neblina densa parecia brincar com seus delicados dedos, ela rodopiava como se fizesse parte de toda aquela paisagem assustadora. Estava vestida de bailarina, mas sua roupa era preta a dando um ar sombrio que fez meu coração gelar.

Ela não era uma criança qualquer. Soube disso assim que meus olhos a contemplaram. Ela era praticamente  transparente. Era como um espírito solitário rodopiando em meio a escuridão.

Ela veio dançando em minha direção. Eu estava tão petrificada que não tive nenhuma reação. Continuei parada com as mão geladas e o coração retumbando forte no peito. Meu cérebro gritava “corre”, mas minhas pernas bambas não correspondiam.

- Olá, Helena!- ela fala assim que para ao meu lado, sua voz é aveludada e calma, mas não diminui em nada meu pavor.

Crio coragem e me viro para lhe cumprimentar. Um grito de horror sai por meus lábios quando meus olhos encontram seu rosto. A garota transparente possuía o rosto deformado, ela sorria, mas seu sorriso parecia escorrer do seu rosto. No lugar que deveria haver um dos seus olhos tinha apenas um grande buraco e metade do seus rosto estava queimado. Parecia uma boneca macabra de um filme de terror.

- Ei, calma! Eu não quero te machucar!- ela diz erguendo as mãos espalmadas, como se estivesse se rendendo.

Gael se assusta com meu grito e começa a chorar. Péssima hora, péssima hora. A garota ergue o pescoço interessada, fitando seu único olho no pacotinho azul a minha frente. Ela entorta a cabeça ainda com aquele maldito sorriso nos lábios e indaga:

- O que você tem aí?

- Fica longe!- advirto recuando um passo. Discretamente puxo a faca que tinha amarrado no meu braço.

- Sei que está assustada.- ela comenta abaixando a  cabeça.- Sei que também não se lembra de mim, mas a gente costumava brincar juntas, sabia? Íamos para a aula de balé juntas...Nós até dividíamos nosso lanche no intervalo da escola.

Ela só pode ser maluca.

- Foi você que deixou aquela cesta para mim?- pergunto.

- É claro que não, Helena.- ela resmunga rindo e balançando a cabeça sutilmente, fazendo seu cabelo ondulado quase transparente cair sobre o ombro.- Foi alguém com muito poder nesse lugar e que quer te conhecer.- conclui.

Isso não pode se uma boa ideia. Não em um lugar como esse.

- Eu não quero conhecer ninguém.- digo simplesmente lhe dando as costas.

Qual é! Tudo nesse lugar era fora do comum. Quem me garante que essa pessoa que quer me conhecer não tenha duas cabeças?

- Helena! Espera! Não precisa ficar com medo.- ficar com medo foi o que me manteve viva até agora, penso. –Ela não vai te machucar, nem você e nem o bebê. Você é mais poderosa que ela nesse lugar.

Eu paro pensando nas suas palavras. Depois rio pensando o quão absurdas elas soam. Ridículas para ser mais exata.

- Eu. Não. Vou. A. Lugar. Nenhum.- repito pausadamente para ver se aquela criatura entendia.

Ela ergue os ombros, sua postura se tornando rígida, o queixo erguido e seu único olho escuro expressava determinação.

- Você não tem escolha, Helena.- sua voz agora era firme.

Com uma velocidade sobrenatural ela se aproxima e prende uma pulseira no meu punho. Levanto a faca com tudo, mas meus reflexos foram lentos demais.

- Agora vamos!- ela diz se virando e começando a caminhar na direção do castelo. Nem que a vaca tussa que eu vou atrás de você, sua maluca!

Mas minhas pernas começam a se mexer contra a minha vontade, a acompanhando. Olho para minhas pernas como se elas não fizessem parte de mim. Tento parar de caminhar, me esforço ao máximo, mas tudo é em vão.

Tento cortar a pulseira enquanto ainda dá tempo, mas a mesma se aquece em um grau tão alto que começa a queimar a minha pele. Tento várias vezes até não aguentar mais o calor e a dor insuportável sobre o punho.

Mas já era tarde. Estamos muito próximos agora, e quanto mais perto mais o castelo parece um monstro preste a me engolir. A neblina nos abraça me impossibilitando de ver adiante.

Quando a neblina se dissipa consigo ver o enorme portão de puro aço com algumas inscrições e desenhos estranhos. O mesmo se abre lentamente fazendo um barulho ensurdecedor. Se eu estivesse no controle das minhas pernas já teria saído correndo.

Quando ele se abre completamente alguém surge da escuridão, andando vagarosamente na nossa direção. Aos poucos começo as distinguir as suas formas.

Uma mulher de olhar severo me encara, ela era alta e muito magra. O seu peso e sua altura eram tão desproporcional que a dava uma aparência quase esquelética. Seus braços são cumpridos e extremamente finos, ela tem o cabelo grande, negro e liso lambido. As maçãs do rosto são bem marcadas e o queixo fino. Ela veste um vestido justo de cor preta e caminha sobre um salto alto da mesma cor do vestido. Ela andava elegantemente.

Mas seu olhar não era elegante. Aquela mulher me olhava com raiva. E seu olhar era tão intenso que um arrepio subiu pela minha coluna.

Autora: amanhã temos o último capítulo, onde toda essa bagunça vai ser finalmente resolvida!

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Presa em um Pesadelo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora