I - Seu caso perdido

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Kirishima nunca fora uma pessoa muito segura de si.

Ele não era como Kaminari, que estava sempre andando por aí soltando besteiras e idiotices para qualquer um que ouvisse, não tinha a confiança necessária para agir como um completo idiota como o loiro tinha. Não era como Mina, assertiva, segura de si, nunca hesitando em agir mesmo quando estava assustada, nunca hesitando em ajudar as outras pessoas, mesmo que soubesse que não era uma boa ideia.

Estar na Yuuei era um sonho para Kirishima, mas conseguia ser um pesadelo doloroso, também. Ele não podia deixar de lembrar-se de seus dias no ensino fundamental, seu eu do passado, fraco e retraído, covarde. Kirishima sabia que, se não fosse bom o bastante, ele não estaria ali, com todas aquelas pessoas incríveis. Não teria passado no exame em segundo lugar, atrás somente de Bakugou Katsuki.

Ele também não era como Bakugou. Uma observação muito óbvia, na verdade; Kirishima parecia não ter nada a ver com o loiro à primeira vista, e às vezes ele mesmo tinha dificuldades em encontrar semelhanças entre os dois, por mais que fosse o melhor amigo do garoto explosivo.

Melhor amigo, isto é, de acordo com seu próprio ponto de vista. Não sabia se poderia dizer que o loiro o via da mesma forma.

Bakugou sobressaía-se de todo o resto, Kirishima percebera da primeira vez que o vira. Sua personalidade era cacofônica, atraindo a atenção de todos ao seu redor com seus gritos e problemas de raiva; ele era como uma bomba relógio, e por mais que a arrogância e a atitude difícil do garoto tenham sido extremamente irritantes para o ruivo no início, Bakugou não era tão ruim uma vez que você se aproximava.

Era preciso paciência ― o que Kirishima tinha de sobra ― e também um pouco de observação. Bakugou parecia uma pessoa extremamente espontânea, que dizia o que lhe vinha na cabeça e foda-se o que os outros pensam, mas não era bem assim. Se os sentimentos dele não se adequassem à imagem que ele estava tentando mostrar, eles eram enterrados no fundo de sua mente, para nunca mais verem a luz do Sol.

Não, com Bakugou era preciso ler nas entrelinhas, quase sempre, e enquanto chegava a ser exaustivo, era extremamente satisfatório, também. Perceber as diferentes emoções do loiro, e como ele tentava escondê-las tão teimosamente, era algo prazeroso para Kirishima, que a cada dia melhorava sua fluência na língua do outro.

Claro, isso não o impedia de desentender completamente o que acontecia por trás dos olhos escarlates do loiro.

Fora exatamente o que acontecera mais cedo aquela noite. Bakugou chamando Midoriya para uma conversa, depois do toque de recolher. Kirishima sabia que nada de bom viria daquilo, mas sabia que não deveria se intrometer. Bakugou não era do tipo que fazia as coisas sem pensar, mesmo que parecesse ser o caso. Se ele queria conversar com Midoriya à sós, talvez fosse melhor deixá-los para resolver o que quer que havia entre eles por si.

Naquela noite, Kirishima fora dormir com um mal pressentimento, uma perturbação no fundo de seu peito que insistia em dizer que havia algo errado, ou que algo não teria uma boa resolução. Ele não precisava pensar muito para saber o que estava o preocupando tanto.

Mas ele não era uma babá. Não servia como uma coleira para Bakugou, e detestava quando as pessoas o viam como tal. Principalmente quando ele agia como tal. Ele era sua própria pessoa, um ser humano separado de Bakugou, com seus próprios problemas, suas próprias inseguranças e irritações. O loiro tomava suas próprias decisões, a vida era dele, afinal. Kirishima não sairia de seu caminho para impedir cada merda que ele decidisse fazer.

Por isso não se impressionou com os barulhos no dormitório de madrugada. Não estranhou as portas do elevador se abrindo, iluminando precariamente o corredor. Percebia a luz fraca entrando pelas frestas de sua porta, e não moveu um músculo quando escutou passos pesados pelo corredor.

ÍmpetosWhere stories live. Discover now