04 - Um Vampiro Entediado, Tomando Péssimas Decisões

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Alexei contemplava a tarde de tédio latente que se tornou parte constante de seus dias desde o momento que se separou de Dominic e não teve mais alguém para dividir seu apartamento, num prédio azul logo ao lado da confeitaria. Deitado no sofá, zapeando os canais de televisão e mexendo no celular e entristecido por ter finalizados todos os bolos que haviam encomendado para aquela tarde – e a tarde seguinte −, pois não teria algo para fazer tão cedo. Teresa e Day continuavam o expediente no Veludo Vermelho, pois, segundo palavras da própria amiga "O trabalho nunca para se você não é patroa".

Suspirou, coçou a barriga e alisou os pelos do próprio peito, mordiscou os lábios, coçou os cachos castanhos do próprio acabou, desgrenhou a barba, bateu os pés na parede, mudou de posição no sofá, suspirou novamente, levou as mãos ao rosto e espreguiçou.

− Meu deus – disse para ninguém além de si mesmo, exaustivamente cansado da monotonia tediosa de não ter nada o que fazer – O que um vampiro tem de fazer para se divertir nessa cidade? – questionou.

Bateram-lhe à porta.

Alexei se levantou de imediato, feliz por finalmente ser livrado da monotonia que atormentava seus dias, mas não correu para a porta, como queria de primeiro, para não parecer exageradamente desesperado. Esperou alguns instantes, bateram novamente, e só então ele abriu. Alex reconheceria aquele rosto redondo, a jaqueta de couro surrada, os cabelos negros e longos, os olhos caramelo e a touca vermelha que lembrava um tampão mesmo há quilômetros de distância.

Sehu sorriu para o jovem vampiro, segurando uma caneca de porcelana vazia.

− Sehu... – Alexei disse meio decepcionado, entrando novamente no apartamento e convidando o jovem de pele oliva a entrar. Sehu entrou meio desajeitado, esbarrou em alguns móveis e tropeçou em algumas caixas com as coisas de Dominic, que aguardavam initerruptamente serem levadas.

− Alô – ele disse carismático – Tava pensando em fazer um bolo e vi que não tinha açúcar, você me arruma um pouco? – suplicou. Sehu era viciado em doces, obrigando a namorada Leia a restringir sua dieta antes que sua diabetes piorasse, mesmo assim, vivia fugindo e tentando comer alguma gostosura escondido. Alexei era o principal cúmplice de seus desvios açucarados, mas havia recebido um ultimato de Leia n'outro dia.

− Melhor não Sehu – ele respondeu imaginando o quão irritada Leia ficaria se soubesse que ele havia comido um bolo. O rapaz usou da tática do olhar de cachorro triste. Alexei revirou os olhos – Tá bem, mas não vou te dar açúcar – respondeu irritado, dirigindo-se até a geladeira e pegando algumas frutas, farinha e ovos – Vou preparar uma panqueca doce para você, mas sem açúcar – Sehu sorriu meio desapontado, mas antes isso que nada. Alexei ficou feliz em ter algo para fazer e uma companhia, antes essa que nenhuma.

− Antes isso que nada – respondeu, atirando-se no sofá de Alexei e observando o celular do vampiro desbloqueado sobre a mesinha de centro – Você é o primeiro gay que eu conheço que não tem aqueles aplicativos de pegação – afirmou, de olho nas aplicações no celular de Alex.

Alexei arqueou as sobrancelhas, curioso, enquanto batia a massa no liquidificador. Realmente, como estava em um relacionamento estável com Dominic, nunca pensou sequer em visitar as terras desconhecidas, superficiais, preconceituosas e unicamente voltadas às estéticas dos aplicativos de pegação, mas agora que estava solteiro e absurdamente entediado, se aventurar nos aplicativos pareceu uma alternativa interessante. Alex lembrou de ter assistido em um episódio de LOOKING um desses aplicativos ser usado por um dos personagens: Grinch... ou seria grind? Não tinha certeza. Limpou a mente dessas curiosidades, no fim das contas, colocou uma frigideira no fogão e despejou a massa rosada de frutas vermelhas, adoçadas com poucas gotas de mel e adoçante, e segurou a panela pelo cabo, fazendo leves movimentos circulares, jogando a panqueca para cima e para baixo.

Tô Nem Aí (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora