| Três |

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|BAE JOOHYUN|

O Hilfiger apertado em meu pulso contava os preciosos minutos que ainda me restavam, e estes pareciam mais curtos a cada piscar de olhos. Olhei angustiada para o corredor e não havia sinal algum de Yerim, que nesse momento suponho estar na frente do espelho. Eram manhãs como aquela que me conduziam ao ápice da impaciência. Cogitei sair e deixa-la para trás, não seria a primeira vez, mas enquanto analisava essa alternativa, para o meu alívio _e sorte de Yerim_ sua figura esguia surgiu no cômodo.

_ Por mais meio minuto você ficaria para trás.

Ela usava um Headphone, logo concluí que não me ouvia e apelei para mímica, demonstrando o ato de retirar os fones. Incrivelmente obtive êxito.

_ Qual foi? _Perguntou franzindo as sobrancelhas.

_Eu disse que por mais meio minuto você ficaria para trás. _Repeti separando as sílabas em alto e bom tom. _Aliás, qual a procedência desse fone?

_ Sabe que se me deixar pra trás eu chamo um Uber e a corrida é debitada na sua conta, né?

Ela tinha um ponto, certamente, e eu refutaria se não estivesse com tanta pressa e empenhada em encontrar a chave do carro, sempre obstinada a desaparecer nos piores momentos.

_Você não respondeu minha pergunta.

_Ah, os fones? São bonitos né, e caros. Uma colega de sala me deu.

Contorci o nariz, não gostava da ideia de que pessoas desconhecidas presenteassem Yerim com coisas tão caras, essencialmente vindo de jovens patrícios. Comemorei internamente quando encontrei a chave estendida no aparador.

_Legal. Devolva-os e diga que não precisa de doações. _ Abri a porta e fiz sinal para que a mais nova saísse primeiro. Fingi não notar o desgosto em sua feição.

_ Você só pode estar de sacanagem, Joohyun. Qual é o seu problema? Tipo, eu não pedi nada, ela quis me dar e eu não vi motivo para não aceitar.

Entramos no elevador, onde cumprimentei um vizinho por mera educação. Encarei mais uma vez meu pulso e arfei diante daqueles preciosos 5 minutos, o atraso interferiu negativamente no meu nível de irritabilidade.

_Você recusaria se possuísse o mínimo de brio. Não admito que seja um mero pet de crianças ricas. Você não vai alimentar essa relação de comensalismo como uma rêmora aproveitando restos descartados.

Era duro dizer aquelas palavras a Yerim, confesso, mas eu temia que sua percepção da realidade fosse alterada perante o meio em que estava inserida desde o dia em que passou no exame de bolsas da Pyongsang National Highschool. Meu instinto protetor de irmã mais velha me incomodou, eu vivi essa realidade e sabia que uma mente tão jovem e imatura como a dela poderia ceder ao luxo de uma vida perfeita da elite.

Na Pyongsang, a maioria dos alunos era de classe média alta e isso me remeteu aos tempos da universidade. Como bolsista, via os outros alunos como conformistas esnobes, apesar de suas posturas revolucionárias. Criam veemente que eram uma reminiscência de um passado aristocrata. Aqueles mesmos alunos que brincavam de ser marxistas e revolucionários enquanto gastavam toda a fortuna dos pais, conquistada durante gerações de exploração da mazela mais vulnerável da sociedade, eu os conhecia muito bem e por isso os odiava. Odiava mais ainda pertencer aquele cardume, e principalmente, conhecer os benefícios que a bajulação dos mesmos poderia trazer.

_ Isso não é resto, Jimin me presenteou porque a ajudei com o trabalho de trigonometria e isso, Joohyun, se chama gratidão. Não é porque você não conseguiu estabelecer amizades durante seu tempo de estudante que eu seja igual, então, ao menos que você possa me dar um fone como este, ainda aceitarei de bom grado os restos _fez o sinal de aspas com as mãos_ que os meus amigos deixarem, exatamente como uma rêmora.

♛ P s y c h o♕ [ Seulrene ]Onde histórias criam vida. Descubra agora