|KANG SEULGI|
Meus ouvidos eram preenchidos pela suavidade do blues que tanto apreciava, e assim me abstraía por completo daquela realidade momentânea. Era prazeroso, como em todos os dias após o expediente na fábrica. Através da janela do ônibus observo atentamente os feixes de luz que iluminavam a cidade. Naquele instante de puro transe meus olhos capturavam a essência da iluminação artificial naqueles postes, as auréolas amareladas que envolviam cada estrutura metálica, os mínimos detalhes.
Os edifícios de alto padrão eram paulatinamente substituídos por uma paisagem menos convidativa com o avançar das rodas. Era irônico como aquelas pessoas viviam ali encima, literalmente na porra do topo, envoltas em um transe não tão diferente do que me sustinha agora, exceto pelo fato de que ao chegar na minha parada, precisaria voltar para o mundo real, com problemas reais e muito mais sufocantes do que acordes ou notas erradas do cover de Stones In My Passway que ecoava em meus tímpanos. O transe aristocrático era eterno, não havia válvula de escape para quem vive em um mundo perfeito, afinal, quem seria idiota ao ponto de escapar de uma cobertura com vista para o Rio Han? Ao menos era esse meu ideal, até observar essa realidade de perto. Estupidez atroz, tão indignos e problemáticos como a escorraçada classe operária.
Chegando no meu ponto, desci e comecei a percorrer aquele trajeto, como fazia todos os dias. Sacolas de lixo reviradas estavam esparramadas pelo chão, meus passos e o zíper da jaqueta sacudindo eram o único som que ouvi durante o percurso por aquela rua deserta onde alguns postes falhavam com seu dever de iluminar, uma vez que a claridade emanada era baixa.
O casaco militar e calça tática não impediram o trio de homens que bebiam na calçada me açoitarem com palavras agressivas. Aquele trio específico que fazia questão de me assediar todas as noites.
_Sungmin, deve ter ouro escondido debaixo de toda essa roupa de macho. Eu aposto mais umas duas rodadas. _ Um deles gritou em tom provocativo.
Mantenha a calma Seulgi, são só bêbados fudidos. Respire fundo, aguente firme.
_ Pra que se cobrir tanto, gracinha? Deixa a gente ver o que tem aí por baixo, só uma espiadela. _Irromperam em gargalhadas histéricas. _É, deixa a gente ver!
Fechei os pulsos no bolso do casaco e cerrei o maxilar. Não me contive e naturalmente estendi o dedo médio esquerdo, apertando o passo. "Sapatona de merda", ouvi um deles murmurar.
Passei pela casa qual um pastor alemão latia desesperadamente e subi a ladeira até finalmente chegar na loja de conveniência, entrando aliviada.
_BOA NOITE, MINSEOK! _Acordei o rapaz com uma batida no balcão que lhe servia de apoio para uma cabeça sonolenta.
A fúria tomou conta daqueles olhos e não me abstive de sorrir perante aquela situação. Peguei um copo de macarrão instantâneo que exibia um rótulo preto e vermelho, um daqueles produtos que praticamente diziam "Não me coma, sou picante pra caralho".
_ Anota, por favor. Depois acerto com a velha. _ Ele assentiu ainda tentando recuperar sua noção de espaço e tempo.
Subi as escadas perto do estoque que davam para o conjunto habitacional, evitando emitir qualquer som capaz de acordar os amigáveis moradores, o último item da minha lista de desejos era ouvir um sermão do solitário e ranzinza senhor Dong do nº 3 quanto a "barulheira e desordem" que eu estava causando. Só mais alguns segundos até ultrapassar aquela porta para o meu céu particular.
Lar, doce lar.
Percorri os olhos por toda a extensão da sala, que também era cozinha e lavanderia. As paredes de cimento queimado e aquele assoalho antigo que não via desde às 5:30h pareciam mais receptivos do que nunca anteriormente. A pouca mobília era responsável pela ilusão de um lugar espaçoso, mas era exatamente daquele jeito que eu gostava. Finalmente a melhor parte do dia, que ironicamente pertence a noite. Estar em paz comigo mesma, sem o som das máquinas da fábrica, falatório, tráfego, tudo aquilo me causava dores de cabeça só de pensar, então, lembrei-me da época em que morava com meu pai em jeju, sem toda essa barulheira da capital.
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♛ P s y c h o♕ [ Seulrene ]
Fanfiction| História sendo reescrita| Quando um homicídio brutal acontece na grande Seoul, a agente de polícia Bae Joohyun, recém empossada em seu cargo é escalada para investigar o que virá a ser um dos maiores casos do país. Determinada a descobrir a...