Nos dias seguintes, consegui melhorar bastante ao ponto de mover-me normalmente como antes. Hoje, os feixes de luz que entram pela janela iluminam levemente o quarto. Estou usando apenas um leve short preto, sentado na cama e em busca de respostas pelo celular. Com o tempo, consegui informações relevantes sobre eles, como sua escola, rua, religião, etc. Todos são extremamente religiosos, algo um pouco incomum na adolescência. Sempre encontram-se na igreja popular da cidade: Santa Maria Goretti, onde vivem em grupos da mesma.
Todavia, mesmo com seu atípico fanatismo, eles praticam coisas normais de adolescentes, tais como festas, shopping, passear... Embora que tenha a conquista de tantas informações, me nego a dar um sorriso de vitória. Afinal, não tenho orgulho de nada disso, mas isso é a verdadeira justiça.
Desligo o celular, deixando-o próximo do criado-mudo da cama. Nesse momento, eu reflito: Então vou fazer mesmo isso?
Por mais que sempre venham essas dúvidas de renúncia, vejo com clareza que não tem mais volta. Como iriam acreditar em mim? Eles podem me incriminar também. Não tem outra solução.
Infelizmente, eu não posso escapar e deixar eles impunes de tudo. Tenho ciência que ao fazer isso, eu me tornaria um deles e, talvez pior. Dou pequenos suspiros e busco manter o controle, eu tenho que ser forte.
O refúgio da minha dor está na fantasia de ouvi-los gritar, com choros, suplicando perdão. Irei testemunhar suas quedas, só assim terá sentido a minha retribuição. A morte de Bernardo não será em vão.
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Dizem que o mal existente na terra, é culpa de Deus. Eu discordo, é claro, carregamos os pecados desde de Adão e Eva, esse mundo é um completo desastre por culpa de nós mesmos.
E um dos truques mais preferidos do diabo é a enganação. Ele não é aquele ser de chifres e calda como muitos dizem, ele pode ser bonito, afinal, este era um dos anjos mais belos do céu. O mesmo seria para suas "sementes", e o Daniel é uma delas, por trás daquela ingênua face de garoto, esconde um demônio, que se satisfaz com a dor do outro. Eu já tenho um jeito divino de curá-lo, assim como ele fez comigo.
Minha primeira purificação começará amanhã, porém eu preciso saber mais de sua vida. Até porque, o que seria de um caçador sem conhecer sua presa?
Vasculho sua conta no Firephoto outra vez, checando suas informações:
"Daniel Valentino, 12 anos, cristão e gamer."
Sua foto de perfil mostra ele de costas, com uma camisa roxa, olhando para uma mata por perto. Num canto direito do site, está uma frase dele, dizendo: Se Deus está conosco, quem estará contra nós?
Abaixo do seu perfil, há várias fotos de diferentes lugares da cidade. Eu opto por olhar a mais recente, onde o encontro dele com roupas descoladas em frente aquela igreja que conheci. Ele usa um óculos escuro, e o escurecer do sol é um ponto forte em sua foto, enquanto o mesmo o encara, em frente à igreja. Na legenda da foto, está escrito: Yeshua! :)
Ver aquelas fotos, junto com as estupidas mensagens de fé, gera-me uma revolta interna. Meus olhos lagrimam de tanta amargura que eu tenho. Gente desse tipo esconde sua verdadeira face através de uma máscara: a fé.
Fito a tela por alguns segundos, tentando controlar minhas emoções. E foi nesse momento que eu vejo o sinal que tanto implorei.
No meio de tantas fotos, uma mais destacou-se entre as demais: Daniel está de frente, olhando para a câmera com um sorriso. Por trás dele, vejo uma parte da igreja da cidade. Ele faz uma posição que remete a uma cruz, com os braços esticados para os lado, referindo-se a Jesus Cristo. Nesse momento, um pensamento veio em minha mente e eu sorrir ao entender: pequenos flashbacks surgem em minha cabeça. Primeiro, eu relembro os troncos que quase caiam em cima de mim. Depois disso, recordo aquele milharal abandonado. E por último, o estalinho que Daniel jogava em mim. Todas essas memórias estão ligadas a essa foto, como uma espécie de guia.
— Obrigado, Deus.
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De acordo com minhas pesquisas, Daniel tem um costume de ir à missa de quinta-feira da igreja, pregando e acobertando o espírito podre dentro de si, junto os semelhantes ao seu redor. Isso me leva até esse lugar, escondido no mato cheio, totalmente esquecido do mundo ao meu redor. Eu espero pacientemente sua saída do local sagrado.
Passam-se alguns minutos, e finalmente, eu o vejo. As portas da catedral abrem-se como uma cena divina de acolhimento. Porém, isso foi substituído por algo caótico: um ser que é visto como puro, saindo sorridente do santo lugar, quando o veem, acham que é um anjo, mas para mim, esse é o pior dos demônios. Sua camisa e calça branca dava-lhe um tom mais inocente, junto com seu sapato preto social e seu cabelo, levemente organizado.
Mas há algo nessa cena que mais gera-me angústia: uma bíblia em suas mãos. Um livro sagrado, usado pelas mãos de um assassino para apreciar seus desejos doentios.
Ele arruma sua pequena franja, e calmamente desce sobre as escadas que dão entrada a catedral, cumprimentando em seguida um casal de idade mediana que passa por perto. Sei que seus pais o pegariam em breve, então eu teria que ser ligeiro.
Retiro de meu bolso uma lembrança daquela trágica noite, algo que tem um grande significado para Bernardo, a sua corrente da fé. Arremesso o objeto em sua direção, correndo depois para o mato, tentando não chamar atenção.
Ao pisar no objeto, ele olha-o, curioso. Depois, suas mãos tocam nele e o próprio analisa a corrente, gentilmente. Um semblante de dúvida percorre sua face, fazendo-o olhar para os lados, em buscar do possível dono. Após se ver sozinho, ele volta a fitar o objeto. Em questões de segundos, seu olhar curioso transforma-se em algo perturbador, deixando seus olhos bem focados e sua boca um pouco mais aberta. É visível que ele se lembra de tudo.
Daniel dá um suspiro intenso, deixando o cordão cai no chão, ainda choque. No momento que o férreo do objeto impacta no chão, o garoto pega seu celular, totalmente assustado, e começa a andar rapidamente até a igreja.
Do lado de fora, não há nenhuma alma, além de nós dois. Nesse instante, eu entro em cena, saindo do mato. Meus passos são rápidos, porém cautelosos, qualquer erro pode acabar com tudo.
Ele está a poucos passos do portão. Ouço até a música cristã ecoando por todo o lugar, deixando tudo mais louvável possível. Ao chegar perto do mesmo, eu ouço sua respiração ofegante, juntando-se a melodia da catedral, o que é uma graça divina.
— A vingança é minha, disse o senhor.
Seu corpo paralisa ao ouvir a voz do homem que jurou estar morto. Em menos de 1 segundo, eu abafo sua boca por trás, impedindo-o de gritar. Consigo senti a aflição dominando seu viçoso corpo, ele não sabe o que está acontecendo. Seguro fortemente suas vestes e arrasto-o para o lado direito da catedral. Ao chegar, eu viro-o para mim, soltando um sorriso dócil e admirando-me com seu semblante de pavor, como se visse um fantasma a sua frente. Daniel percebe que o monstro que ele ajudou a criar veio puni-lo de seus pecados. Finalmente, jogo-o brutamente na parede, fazendo ele bater na cabeça e soltar um leve grito, depois disso eu golpeio-o com um pé de cabra. O golpe foi fatal e fez uma pequena quantidade de sangue jorrar de sua cabeça, no mesmo momento em que a melodia dos fies torna-se mais alta. Isso me é familiar.
Meu carro está entre as cobertas na grande floresta. Levanto seu frágil corpo, e saio, levando-o para longe da igreja. Pego um caminho para um extenso mato antes que alguém me veja, e depois caminho até onde eu escondi o veículo, com a benção que me foi dada.
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Vingança Honrosa | Em Revisão |
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