Fazia uma manhã de sábado extremamente ensolarada e o improvável aconteceu: um passeio em família. Eu ouso dizer que já faziam séculos que a minha família não realizava uma programação dessas. E quanto ao Guilherme, pelo menos hoje, eu não quero vê-lo.
Desci rapidamente os dois curtos lances de escada e adentrei na cozinha. O cheiro marcante do café da minha mãe entrou pelas minhas narinas e aqueceu o meu interior.
— Bom dia! — Saudei os meus progenitores e sentei em um dos bancos altos rente à bancada.
Eles responderam um "Bom dia!" em uníssono e voltaram a comer e conversar entre si. Me servi com dois pães caseiros com queijo e uma xícara de café com leite. Uma deliciosa sensação de serenidade me tomou neste momento.
— Então, pra onde vamos? — Resolvi perguntar o paradeiro do tal passeio.
— Só saberá na hora. — Meu pai se pronunciou, olhando rapidamente para a minha mãe.
— Okay, então. — Me dei por satisfeito, já que eu sei que não conseguiria arrancar mais nada relevante dos dois.
O resto do café da manhã foi em um clima agradável, ao término da primeira refeição do dia, todos fomos nos arrumar para o fatídico passeio. Isso devia ser anunciado no jornal. Uma vez prontos, entramos todos no carro de passeio da família e seguimos o nosso rumo que, para mim, ainda era desconhecido.
Já havíamos passado da barreira a uns dez minutos e a paisagem, através do vidro do carro, ganhava um aspecto mais rural, com fortes traços da flora local. De repente, as árvores deram lugar para um azul escuro imenso do mar. Estávamos no litoral. Paramos em uma espécie de ONG especializada em vida marítima e meu pai estacionou o carro sob a sombra de uma árvore.
Entramos nas dependências da instituição e eu me surpreendi com o aglomerado de pessoas que se faziam presentes no local. A ONG, por sua vez, estava realizando, gratuitamente, uma exposição que focava em conscientização e nas espécies em si. A única coisa paga era a comida e todo o objeto descartável era biodegradável.
Das duas horas que passamos lá, eu obtive um aprendizado imenso. Depois disso, fomos para a beira da praia. Ainda bem que todos nós estávamos com roupas arejadas e sandálias. Sentir a areia fofa aconchegar os pés é uma sensação muito boa, seguida da água fria do mar. Não sei quantas horas, mais ou menos, nos ficamos ali, naquele pequeno paraíso, mas foram muito boas para o meu psicológico. Rimos, brincamos e conversamos à berça.
Chegamos em casa por volta de umas 17:40, banhados pela luz do Pôr do Sol. No exato momento em que eu saí do carro, avistei o Guilherme descendo da moto com certa dificuldade. Parece que tudo conspira. Desviei o olhar, fazendo, com força, a Kátia e fui na direção da porta de casa, ainda pude ouvi-lo chamar o meu nome, mas ignorei.
— Filho, o Guilherme está te chamando. — Disse o meu pai, vulgo Senhor Vicente.
Jura? Eu nem percebi! Pensei eu.
— Ah, eu não ouvi. — Fui, contrariado, na direção do mais velho. Ele estava todo suado e sem camisa, provavelmente estava jogando Lacrosse.
Desci um pouco mais o olhar e vi um corte pendendo pro grande no seu calcanhar. Fiquei realmente preocupado.— Você pode me ajudar a entrar em casa? — Disse ele meio sem graça, mas com um olhar pidão.
— Cadê a Sarah pra fazer isso? — Disse isso no impulso, mas, sorte a minha, que foi baixo.
— Oi? — Ele não havia escutado. Ainda bem.
— Oi! Eu ajudo sim. Vamos lá! — Ele apenas passou o braço por cima dos meus ombros e se apoiou em mim, já eu, com um tanto de dificuldade, peguei a bolsa, que estava em cima da garupa da moto, onde ele guarda algumas peças de roupa, desodorante e mais algumas coisas e levei o moreno até a porta de sua casa.
Por incrível que pareça, mesmo suado, ele não estava fedendo, seu corpo exalava uma essência meio que neutra, mas, com certeza, não havia odor. Ele, por sua vez, sacou o molho de chaves do bolso e abriu a porta, revelando a sua modesta casa. Sentamos no sofá.
— Obrigado, Nick. — Disse ele, fitando-me com aqueles olhos verdes intensos.
— Não foi nada, mas como você conseguiu dirigir até aqui? — Não sei se realmente era curiosidade ou vontade de prolongar o papo mesmo.
— Eu também não sei. — Ele gargalhou e foi inevitável não entrar no embalo.
Conversamos mais um pouco e eu vi percebi que o meu arsenal de assunto havia se esgotado.
— Bem, eu vou indo. — Disse eu com a intenção de sair.
— Posso te pedir só mais uma coisa? — Eu assenti e ele continuou — Me leva até o banheiro? É que tá doendo um pouco ainda e, talvez, quando eu tomar banho, passe mais. — Fez uma careta de dor.
— Okay. — O moreno apoiou-se em mim uma segunda vez e o levei até o pequeno banheiro. Foi nesse momento que escutei um barulho na cozinha e, instintivamente, olhei para trás. Era apenas o gato de Guilherme que havia entrado pela janela e passou correndo por mim, sorri. Olhei para dentro do banheiro e vi um Guilherme completamente nu, de costas, os músculos perfeitamente distribuídos e proporcionais, a bunda carnuda e firme, as coxas grossas e a panturrilha dura. Eu virei uma estátua viva, mas não havia terminado, foi quando ele virou de frente para mim, estava totalmente exposto e parecia não ligar para esse fato.
— Obrigado de novo, Nick. — Sorriu e fechou a porta de vidro do box.
— De nada... — Murmurei quase que inaudível e fechei a porta do banheiro.
Nem perguntei se ele precisaria de ajuda com o ferimento, saí da casa dele com um sorriso daquele tamanho e com a imagem do seu corpo eternizada na minha mente.