«Dax? Tens um polícia à tua procura. Deixámo-lo ao balcão.»
Polícia? O que é que tinha acontecido?
Sem demoras, levantei-me do cadeirão do meu escritório e apressei-me a sair. Depois de o trancar e caminhar o corredor que me levava até à zona VIP, desci os degraus prateados enquanto olhava em redor, tentando ver quem era o polícia que me procurava. No entanto, só conseguia ver uma silhueta e a cor azul escura da farda. À volta, algumas pessoas estavam sentadas nas mesas espalhadas pelo bar, aproveitando a calma do costume àquelas horas. Dove era completamente diferente à tarde; sem luzes néon e uma pista de dança, era pouco mais que um espaço de convívio com música ambiente.
Antes que eu pudesse apresentar-me ao polícia e perguntar o que se passava, o homem em questão virou-se. Sorriso largo, olhos escuros brilhantes, e músculos que pareciam não acabar. Steve Farrell. Sorri quase instantaneamente, apesar de não ser algo que fizesse muitas vezes dentro do meu próprio bar, mas foi-me inevitável. Já não o via há quase um ano, por falta de coordenação de horários, e a sua felicidade contagiante fazia falta, se estivesse a ser sincero.
- Stevie! – cumprimentei, num tom leve. – Polícia? Pensei que fosse alguém intimidante.
- Calma, Dax, ainda consigo atirar-te ao chão. – piscou-me o olho, antes de me puxar para um abraço forte.
Steve Farrell só podia estar aqui com uma coisa em mente; ou, melhor, uma pessoa em mente: Ava. Mas, lembrando-me de quando ela me dissera para não assumir sempre que ela precisava de ajuda, forcei-me a manter-me calmo.
- Quando a minha irmã me ligou, há quase dois meses, porque estava sozinha no meio da Rua Verde e precisava de ajuda, de um número desconhecido, escusado será dizer que entrei em pânico. Mas, depois, apercebi-me de que aquele número não era assim tão desconhecido... - sentei-me ao seu lado no balcão, pedindo mais duas cervejas ao empregado do bar e um pouco de privacidade. Ele sorriu-me e, com uma continência a brincar, afastou-se.
- Não sabia que era tua irmã.
- Claro que não sabias, ou tê-la-ia trazido a minha casa. – assenti imediatamente, rindo um pouco. – Ela contou-me o que aconteceu.
- Contou? – arregalei os olhos, verdadeiramente chocado.
- Não. Mas a Mia contou. – pelo sorriso suave que ele mostrou ao falar da sua outra irmã, apercebi-me automaticamente que eles eram mais próximos. Ava mostrara-se demasiado reservada, principalmente com o facto de Steve ser o seu irmão e ser polícia, para eu acreditar facilmente que tivesse sido ela a contar. – Aquelas duas são inseparáveis, como podes imaginar.
- Ah, sim. Já me cruzei com a Mia. – Steve riu alto, ao observar a minha expressão. – É definitivamente uma bola de energia.
- Isso é dizer pouco, mas também não interessa. – encolheu os ombros, bebendo quase um quarto da sua cerveja de uma vez. – Não foi para falar da Mia que passei por aqui.
- Claro que não. Foi para falar da Ava. De como me matas se eu a magoar e etecetera. Certo?
- Não sejas arrogante, Dax. Não te fica bem e eu sei que és melhor que isso. – revirei os olhos, deixando-me relaxar no banco em que estava sentado.
Steve observou-me, com toda a sua perícia policial que eu conseguiria igualar se quisesse, mas deixei-o fazer aquilo que tinha a fazer. Um irmão mais velho devia proteger as suas irmãs, claro. Ficava feliz por ele ainda ter quem proteger, de qualquer forma. Só eu sabia quanto me fazia falta ter a minha irmã para proteger, mas também conseguia ser pessoa suficiente para admitir que só senti falta disso quando o perdi. Durante tanto tempo, ela fora apenas a minha irmã mais nova, adolescente. Supostamente ainda não tinha chegado à idade em que eu pudesse ter medo do mundo que a rodeava. Fui ingénuo, claro.
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Devagar Se Vai ao Longe
RomanceAva não era, de forma alguma, indefesa. No entanto, o choque tem uma maneira peculiar de nos roubar das nossas forças. Daxon, por sua vez, funcionava à base de adrenalina e da necessidade de controlo. O primeiro encontro entre os dois é, por falta d...