Capítulo Três

70 11 23
                                    

- E tu dizias que as noites temáticas eram inúteis! – Max gritou ao meu ouvido, segurando a porta atrás dele. Eu ignorei-o, limitando-me a continuar de braços cruzados. O seu riso seguiu-se. – Não me ignores, Daxon Tyler, eu sei que me estás a ouvir!

- Deixa-me trabalhar, Maxwell. – embora não estivesse a olhar diretamente para ele, consegui ver o revirar de olhos que o meu melhor-amigo me lançou.

- Não antes de dizeres que...

- Tinhas razão, Max. A noite está a ser um sucesso. – interrompi-o, fazendo-o rir mais uma vez. Foi a minha vez de revirar os olhos.

Depois da pequena interação, Max voltou a fechar a porta atrás de si e eu compus os meus braços no meu peito. À minha frente, tinha duas filas enormes de pessoas à espera para entrar no bar. Uma seria para a zona VIP e outra para a zona normal, mas ambas igualmente concorridas, apesar da diferença de estatuto. Ao meu lado estava o meu colega, Gabe, aquele cuja função era pedir as identificações e verificar que todos pagavam a taxa de entrada a Bee, a filha da nossa contabilista, que trabalhava sempre ao nosso lado para a sua mãe poder ficar descansada. A minha função era, por falta de melhores palavras, observar; garantir que ninguém causava confusão e, caso o fizessem, expulsá-los imediatamente. Ocasionalmente, quando eu suspeitava disso, tomava a função de procurar por armas e outras coisas do género. Para isso servia, também, o pequeno detetor de metais à entrada.

O tema da noite era Os Loucos Anos 20 e, apesar de eu não gostar exatamente de me mascarar ou algo do género, não podia negar que a noite estava mais animada que o costume. Notava-se de longe que algumas pessoas já tinham bebido antes de sequer terem saído de casa, mas se alguma delas estivesse mais bêbadas que sóbrias, eu não as deixaria entrar. Apesar de considerar o meu bar um espaço consideravelmente seguro, não o seria se deixasse qualquer pessoa inebriada enfiar-se por entre a multidão de pessoas de um bar.

Geralmente, o bar – Dove – nunca estava vazio, desde que abria às três da tarde até à hora de fechar às quatro da manhã, mas a partir das oito da noite era quando havia efetivamente a necessidade de controlar a entrada e a afluência de pessoas. Eram dez da noite naquele momento e eu só tinha decidido tomar o meu lugar como segurança meia hora antes, quando Gabe me tinha chamado para ajudar. Não podia negar que o controlo me dava uma grande satisfação, mas era mais que isso: não queria que a situação de Ava se repetisse e estava pronto para castigar Dan pelas minhas próprias mãos, se ele retornasse.

Longos minutos passaram sem nenhum tipo de entusiasmo até eu a ver de novo. Com um vestido amarelo que ficava um pouco aquém dos seus joelhos e cabelos castanhos escuros presos por um laço igualmente amarelo, reconheci-a imediatamente. De alguma forma, ela parecia-me diferente, mas não sabia exatamente o que era. Calculei, então, que fosse a sua energia, a sua aura; ontem eu tinha-a encontrado depois de algo certamente negativo, não duvidava que, num dia normal, ela se posicionasse no mundo de maneira completamente diferente. Ainda assim, não resisti a tocar-lhe no braço quando ela passou perto de mim.

- Ava? – ela, no entanto, deu um pulo para trás e bateu contra a pessoa que vinha atrás dela. O rapaz em questão agarrou-a na cintura, para a equilibrar, e foi isso que me despertou a atenção.

- De onde é que um brutamontes como tu conhece a minha irmã?

Irmã. Foi essa palavra que me fez olhar uma segunda vez para a rapariga e, assim que pousei nos seus olhos, notei automaticamente na diferença. Os olhos de Ava eram azuis, um azul suave e claro, os daquela rapariga eram castanhos-escuros. Quase pretos...ónix. De repente, lembrei-me do que Ava tinha dito na noite anterior: ela vivia com a sua irmã gémea. Quão boa era a minha pontaria para encontrar a dita irmã gémea na noite seguinte? Pestanejei várias vezes e ia responder à pergunta – completamente legítima, apesar do insulto – quando o rapaz que ainda a segurava falou.

Devagar Se Vai ao LongeOnde histórias criam vida. Descubra agora