Só quando acordei é que percebi que tinha adormecido ao lado de Ava. Antes de abrir os olhos, senti um corpo quente ao meu lado, braços em cima do meu peito e uma respiração a bater-me no pescoço. Respirei fundo, apreciando por momentos a sensação de ter Ava a dormir ao meu lado numa posição tão íntima quanto aquela. Depois, ganhei finalmente coragem para abrir os olhos e olhei à volta; ela tinha-se esquecido de fechar os estores e o sol estava a começar a entrar no quarto, mas não era tarde. Eu apostaria que fossem cinco, seis da manhã no máximo.
Talvez Ava tivesse sentido o meu corpo a ficar mais tenso porque, pouco depois, vi-a a mexer-se um pouco para se enroscar melhor contra mim. Olhei para ela, reparando que a sua face estava praticamente toda tapada pelos seus cabelos escuros e, retirando uma mão de debaixo do edredão, coloquei as madeixas de cabelo cor de chocolate atrás da sua orelha. Mesmo adormecida – ou maioritariamente adormecida – Ava soltou um sorriso suave e inocente, respirando fundo.
Não sabia se queria sair daquela cama ou não.
- Dax...fica... - sussurrou ao meu ouvido. A minha reação foi um arrepio intenso trespassar-me dos pés à cabeça. Soltei uma respiração profunda, fazendo-a sorrir contra o meu ombro.
- Não posso...
- Porque não? É tão cedo. – a sua voz ganhou muito mais força para as últimas frases que proferiu e isso fez com que eu olhasse diretamente para ela.
Aqueles olhos azuis... Duas pérolas, emolduradas por pestanas que lhe davam uma forma de amêndoa e faziam toda a sua face brilhar. Suspirei curtamente, não sabendo bem o que fazer. Eu não queria ir embora, mas sentia que tinha que o fazer - sem nenhuma razão em específico. No entanto, com ela a olhar para mim daquela maneira, não ganhei forças para a recusar. Ela estava tão pacífica, como nunca a tinha visto antes, e eu queria mantê-la naquele estado de espírito.
Senti a sua mão quente debaixo da minha t-shirt, poucos segundos depois de ter feito a decisão na minha mente. Talvez ela não tivesse notado na diferença da minha postura e quisesse continuar a convencer-me, mas não era necessário. Um único olhar da sua parte e eu era absolutamente dela, por muito que ela não o soubesse ainda. Ainda assim, esperei para ver o que ela iria fazer, não querendo ser um obstáculo no objetivo que ela tinha colocado para si própria. Senti os seus dedos a acariciarem os meus abdominais, lentamente, como quem estava a testar território. Talvez estivesse, na verdade. Nunca tínhamos estado naquela posição, ou numa tão íntima.
Como instinto, pousei a minha mão na sua bochecha que não estava encostada a mim e acariciei-a suavemente com o polegar. Ela fechou os olhos, nunca parando de desenhar no meu tronco, e abriu os seus lábios, soltando um suspiro enquanto o fazia. Sorri para mim mesmo e puxei-a para mais perto, com o braço que ainda a rodeava. Estávamos completamente entrelaçados debaixo dos seus lençóis azuis e eu apanhei-me a não querer estar em nenhum outro lado. Sentia que pertencia ali, com ela entrelaçada a mim, naquele colchão incrivelmente confortável. Ava parecia ter sido feita para estar permanentemente encostada a mim, por muito estranho que isso me soasse.
- Dax... - suspirou o meu nome, levantando uma das suas pernas para a colocar em cima das minhas. Num só movimento, ela estava em cima de mim, olhando-me de cima. Sorriu-me.
- Ava. – tentei pará-la, fazer a minha voz suar mais severa ou algo do género, mas ela viu através das minhas tentativas e voltou a sorrir.
Retirando a mão de debaixo da minha t-shirt, agarrou na minha cara com ambas as suas mãos. Os seus polegares pousaram nas maçãs do meu rosto e deslizaram pelas minhas bochechas, acariciando a minha barba. Ela estava claramente a tentar conhecer-me, a observar-me, a testar-me. Ao saber qual era a sua profissão dela, tudo me fez mais sentido. Toda ela era científica, racional, e não faria nada sem o testar primeiro. Apesar disso, de saber qual seria a lógica mais provável a passar na sua mente, deixa-a fazer o que queria comigo. Mais que isso, dei-lhe toda a liberdade para o fazer ao fechar os olhos.
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Devagar Se Vai ao Longe
RomanceAva não era, de forma alguma, indefesa. No entanto, o choque tem uma maneira peculiar de nos roubar das nossas forças. Daxon, por sua vez, funcionava à base de adrenalina e da necessidade de controlo. O primeiro encontro entre os dois é, por falta d...