Dias depois, era a minha vez de estar no lugar do passageiro. Eu e Max precisávamos de comprar as decorações para a próxima festa temática e, como sempre, preferíamos ser nós a fazê-lo, em armazéns com todas as escolhas possíveis. Na verdade, era mais relaxante do que eu pensava inicialmente que seria. Com Max a conduzir, poderia descansar durante a viagem de carro e, mesmo durante o dia, a sua companhia nunca seria desgastante. Era o meu melhor-amigo e, apesar de ter demasiada energia ocasionalmente, era das poucas pessoas que eu conseguia tolerar durante horas seguidas.
Ambos preferíamos ir aos armazéns fora da cidade, por já termos confiança com os vendedores e por já sabermos que os preços eram os mais acessíveis. Nos primeiros meses de Dove, tínhamos cometido o erro de ir a lojas mais conhecidas e acabávamos a ficar sempre desiludidos com o resultado. Só quando encontrámos aqueles armazéns é que começámos a organizar cada vez mais festas temáticas, principalmente porque começaram a dar lucro em vez de despesa. Para não falar que Max parecia um menino de cinco anos sempre que se encontrava entre os corredores repletos de decorações.
Tinha a cabeça relaxada contra as costas do banco, praticamente a adormecer, quando Max começou a mudar incessantemente de estação de rádio. Sem abrir os olhos, a minha mão agarrou imediatamente a dele – algo que o assustou mas a que, simultaneamente, ele já estava demasiado habituado para perder controlo do carro – e coloquei-a no volante. Max bufou e revirou os olhos, fingindo não olhar para mim enquanto eu baixava o volume do rádio e abria o seu porta-luvas, em busca da sua pen, cujos ficheiros ele atualizava mensalmente.
- Não sei se me apetece ouvir as músicas daí. – Max reclamou, numa voz arrastada, mas eu limitei-me a ignorá-lo. – Daxon, não me ignores!
- Max. – disse apenas, na voz mais severa que consegui. Ele sorriu-me, colocando a língua de fora.
Coloquei a pen e avancei algumas músicas, até parar numa que sabia que ambos íamos gostar. Max soltou um hm de dúvida mas, segundos depois, já estava a acompanhar o cantor. Não resisti ao riso que ameaçou soltar-se e acabei a encostar a nuca nas costas do banco do passageiro de novo. Olhei para a paisagem por onde passávamos: os prédios tinham sido substituídos por bairros de moradias, divididos por alguns terrenos onde se via, ao longe, pessoas a trabalharem. Por vezes esquecia-me que a nossa cidade também continha partes mais isoladas que o centro, onde eu e a Ava vivíamos. A cidade era enorme, na verdade - era difícil ter noção de algo daquela dimensão.
Ao pensar em Ava, senti os meus dentes a pressionar contra o meu lábio. A primeira coisa que fizéramos naquele domingo, depois de Nate ter aparecido no Dove, foi arrumar coisas suficientes para tanto Ava como Mia saírem do apartamento. No entanto, foi combinado que eu e Ava passaríamos lá algumas noites, no intuito de distrair Dan caso ele estivesse a observar os movimentos dela, pois eu sabia que era apenas uma questão de tempo até ele eventualmente encontrar a minha casa. Ainda assim, mesmo tomando todas essas medidas de segurança, Ava vivia a sua vida normalmente.
Não queria sufocá-la, por isso recusava-me a dar-lhe ordens e eu sabia que ela tinha notado. Sempre que ela olhava para mim, quando eu perdia o foco por estar a pensar em Dan e em Nate, sorria-me e beijava a minha testa suavemente, agradecendo-me. Ela não precisava de me agradecer, claro, mas sabia bem ter alguém que apreciava a minha tendência protetora. Proibi-me de estar sempre a mandar-lhe mensagem a perguntar se ela estava bem e de lhe dizer para ela não andar sozinha. Não queria subestimar Dan, mas também sabia que o bêbado não tinha inteligência o suficiente para ser efetivamente um perseguidor. O pior era Nate, o homem atrás da cortina, que certamente estava a encher a cabeça do bêbado com todas as mentiras suficientes para o enfurecer.
- Hoje é o dia de relaxamento, Dax. Não vale a pena estares a pensar naquele idiota. – voltei-me para Max, expirando.
- Não estava...
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Devagar Se Vai ao Longe
RomanceAva não era, de forma alguma, indefesa. No entanto, o choque tem uma maneira peculiar de nos roubar das nossas forças. Daxon, por sua vez, funcionava à base de adrenalina e da necessidade de controlo. O primeiro encontro entre os dois é, por falta d...