POEMA 52

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ESTRANGEIRA

Sou estrangeiro em minha própria terra natal
Donde vem o carnaval
Mas só compactuo com o samba
As marchinhas ainda guardo no coração
Já não saio mas nas ruas
Usando as fantasias de blocos de rua

Fico em casa
No morro dos pretos
Minha gente bamba
Uma mocidade infinita de pagode e molejos

Mas já não tenho mais time
Meu futebol enferrujou
Minhas gírias o tempo levou
E de joguinhos na rua troquei pelo chá das cinco

Sinto muito, Terra Mãe
Me acolhestes tão bem
E te recuso a cada dia
Já não leio mais Isaura nem Macunaíma

Parti para o estrangeiro
Mesmo sem ter saído de casa
Americana ainda sou
Mas não garanto que 100% do Brasil

Talvez chilena ou mexicana
Nunca norteamericana!
Um tango argentino sempre cai bem

Mas não se preocupe
Ensinei a eles o samba
As prosas de Assis
E canções de Jobim
Versos de Vinícius e Cora Coralina
Fiz eles subirem morros
Da Mangueira ao Salgueiro
Uma passada em Madureira

Um pouco de axé
Um gole de chimarrão
Chote das meninas
E uma espreguiçadeira ao pé de uma fazenda

Fugi de ti mas no fundo carreguei-te
Sempre comigo
Não importa o quão longe
Quão distante
Quão filha ingrata me tornei

Serás sempre meu Brasil amado
De braços abertos como Redentor
Sempre a me receber.

Pensamentos ao ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora